quarta-feira, 23 de julho de 2025

«A Última Lição - José Gil (Contraponto), não é um simples livro de entrevistas. Marta Pais de Oliveira (1990) soube construir um livro que, na sua organização triádica é, em bom rigor, uma espécie de portulano do pensamento vivo de um professor, que é, na boa senda de uma docência hoje em crise, um ensaísta e um filósofo que se caracteriza pela heterodoxia»

 

 
 

Resumo

 * 
*    * 

 Sobre o livro: 
Um livro de José Gil ou como enfrentar o neofascismo -  António Carlos Cortez - Publicado no DN  a 

Excerto

(...)  É nesta perspectiva que se pode compreender o alcance deste livro. Atravessamos uma época definidora do futuro. A Europa encontra-se entre Cila e Caribdis: de um lado o pensamento fascista de Trump e a incapacidade dos líderes europeus em fazerem frente a esse pensamento turístico, empreendedor da moda e da morte. Gil é veemente no diagnóstico: jamais o pensamento fascista será verdadeiramente um pensamento. É antes - e é essa a sua arma - uma “berraria”, um dinamitar da própria argumentação que impede, bloqueia a apresentação clara dos fins políticos. Igualmente essa “berraria” é o que define a acção de André Ventura que tem a seu favor a anemia das esquerdas. Ou, tão-só, a anemia do humanismo, hoje uma palavra que se diluiu na miríade dos discursos da comunicação social, a qual, diz Gil, sequestrou a força vital, a energia da utopia, formatando tudo e tudo medindo pela régua da mediocridade triunfante. É contra o império da opinião que o autor de Portugal Hoje, o Medo de Existir (2005) chega a determinados pontos de ruptura que - assim houvesse deputados que o lessem e o compreendessem - podem bem ser da mais urgente praxis política. Faz-nos falta, sentencia José Gil, a força vital, a força que é determinada pelo amor à vida para combatermos e vencermos o neofascismo.

É uma luta titânica entre Eros e Thanatos o que estamos vivendo hoje. A única arma que o neofascismo usa é, diz o filósofo, a energia e o fascínio da morte. A morte da linguagem, a sua corrupção, a superficialidade do comentarista político, a cobardia de imensos deputados, perfeitamente incapazes de responder com a veemência da força da liberdade contra a corrupção da democracia que Ventura e os movimentos que o apoiam representam, isso está de acordo com a matriz existencial a que José Gil sempre obedeceu: tornar-se aquilo que estava prometido ser. É uma frase de Nietzsche: “Torna-te aquilo que és.”, é um imperativo mais que categórico, uma injunção existencial que Gil, no fundo, estende a todos os que o leiam. Portugal, que tem ainda diversos e profundos sintomas de fascismo numa sociedade que, actualmente, se bestializa, é um país onde urge cada um compreender a sua singularidade. É uma das ideias-força deste livro onde a conversa flui, natural, humana: a distinção entre identidade e singularidade. O livro Portugal Hoje é um estudo sobre as mentalidades, não uma reiteração das tese de Eduardo Lourenço sobre o que somos. (...)».

 


Sem comentários:

Enviar um comentário