Jorge Sampaio (1939-2021)
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Recordemos
Excerto: «(…) Em relação
ao conteúdo dos objetivos propriamente ditos desta nova Agenda, tenho apenas
dois modestos reparos a fazer. O primeiro diz respeito à omissão do pilar da
diversidade cultural, no desenvolvimento sustentável. Estava completamente
ausente dos ODM e neste novo quadro, apesar de algumas referências dispersas a
questões correlacionadas, continua a não ter qualquer função estruturante. Ora
a meu ver, descurando-se o pilar da diversidade cultural, é o próprio motor do
desenvolvimento sustentável que fica um pouco gripado. Porque é pela cultura
que as relações sociais e as interações com o meio ambiente são, naturalmente,
mediadas. Esta foi uma questão que, na minha qualidade de alto representante
das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, procurei trazer para o
debate - embora já na altura da reunião do Rio+20 tenha ficado claro que a esfera
cultural não figuraria nas prioridades. É pena que assim seja, mas isso não
deve demover-nos de continuar a apostar na boa governação e na diversidade
cultural, não só utilizando todos os “entry points” da Agenda 2030, como
através de iniciativas complementares. Em segundo lugar, teria também, pela
minha parte, de saudar a inclusão de referências mais claras a situações de
emergência - resultando de desastres naturais ou de conflitos, com uma
dimensão, frequência e duração sempre maiores. Estando em causa, por exemplo,
toda a questão dos refugiados, deslocados e migrantes, bem como a assistência
humanitária, que coloca, sem dúvida, desafios sem precedentes à comunidade
internacional. A este respeito, não poderia deixar de mencionar que me tenho
esforçado por mobilizar a comunidade internacional, para a necessidade de uma
nova abordagem da agenda humanitária, que deveria incluir mecanismos rápidos de
solução de problemas concretos e específicos; como é o caso, por exemplo, da
educação superior, relativamente às populações afetadas por emergências. Por
isso, muito concretamente, tenho preconizado a criação de mecanismos de
resposta rápida para o acesso à formação superior, com base num consórcio
académico e num fundo global, que proporcionaria aos jovens de países afetados
por guerras a possibilidade de prosseguirem a sua formação superior e, assim,
prepararem se para a liderança e reconstrução das suas sociedades. Neste
contexto, trata-se apenas de um exemplo de como introduzir mudanças no âmbito
da assistência humanitária, para melhorar a capacidade de resposta e trazer
soluções rápidas para problemas especializados. Não vou aqui alongar-me sobre
este assunto, mas estou com certeza disponível para quem pretenda mais
pormenores sobre esta iniciativa em gestação (…)».
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