sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Luto

 
 
 

Jorge Sampaio (1939-2021)


 

***

 

Recordemos

 

Excerto: «(…) Em relação ao conteúdo dos objetivos propriamente ditos desta nova Agenda, tenho apenas dois modestos reparos a fazer. O primeiro diz respeito à omissão do pilar da diversidade cultural, no desenvolvimento sustentável. Estava completamente ausente dos ODM e neste novo quadro, apesar de algumas referências dispersas a questões correlacionadas, continua a não ter qualquer função estruturante. Ora a meu ver, descurando-se o pilar da diversidade cultural, é o próprio motor do desenvolvimento sustentável que fica um pouco gripado. Porque é pela cultura que as relações sociais e as interações com o meio ambiente são, naturalmente, mediadas. Esta foi uma questão que, na minha qualidade de alto representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, procurei trazer para o debate - embora já na altura da reunião do Rio+20 tenha ficado claro que a esfera cultural não figuraria nas prioridades. É pena que assim seja, mas isso não deve demover-nos de continuar a apostar na boa governação e na diversidade cultural, não só utilizando todos os “entry points” da Agenda 2030, como através de iniciativas complementares. Em segundo lugar, teria também, pela minha parte, de saudar a inclusão de referências mais claras a situações de emergência - resultando de desastres naturais ou de conflitos, com uma dimensão, frequência e duração sempre maiores. Estando em causa, por exemplo, toda a questão dos refugiados, deslocados e migrantes, bem como a assistência humanitária, que coloca, sem dúvida, desafios sem precedentes à comunidade internacional. A este respeito, não poderia deixar de mencionar que me tenho esforçado por mobilizar a comunidade internacional, para a necessidade de uma nova abordagem da agenda humanitária, que deveria incluir mecanismos rápidos de solução de problemas concretos e específicos; como é o caso, por exemplo, da educação superior, relativamente às populações afetadas por emergências. Por isso, muito concretamente, tenho preconizado a criação de mecanismos de resposta rápida para o acesso à formação superior, com base num consórcio académico e num fundo global, que proporcionaria aos jovens de países afetados por guerras a possibilidade de prosseguirem a sua formação superior e, assim, prepararem se para a liderança e reconstrução das suas sociedades. Neste contexto, trata-se apenas de um exemplo de como introduzir mudanças no âmbito da assistência humanitária, para melhorar a capacidade de resposta e trazer soluções rápidas para problemas especializados. Não vou aqui alongar-me sobre este assunto, mas estou com certeza disponível para quem pretenda mais pormenores sobre esta iniciativa em gestação (…)».
 
 

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