quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Fernanda Lapa








Morreu, a Fernanda Lapa. Lemos, voltamos a ler, o Comunicado da Companhia de Teatro Escola de Mulheres, telefonamos, os amigos telefonam, e é mesmo verdade. Custa acreditar porque foi infinita até ao fim: uma força da natureza que nos últimos tempos - diríamos, como sempre  - não tinha  mãos a medir. Do Elitário Para Todos, incluindo leitores fiéis, este ano, em particular, não deixámos de seguir actividades em que esteve empenhada: desde logo o Centenário Bernardo Santareno, e só ela, mesmo ela, poderia espalhar como espalhou a figura do homenageado e estimulado a(s) rede(s) que estão no terreno; no Teatro São Luís assistimos ao «Sem Flores nem Coroas»; lembramos por ocasião do Dia Mundial do Teatro 2020 a Mensagem da Sociedade Portuguesa de Autores de sua autoria; muito recentemente, dizia que ia estar um pouco menos disponível por causa de trabalhos na televisão depois de  interrompidos pela COVID; e falou muito com a comunicação social, por exemplo no Observador,  a propósito de tudo  que estava a acontecer, mas ia sempre além do óbvio, chegava  ao que pensava essencial que acontecesse no seu País, nomeadamente na Cultura e em especial no Teatro; ... E contra todas as evidências que empurravam, e empurram, para a desistência, a Fernanda pensava e repensava o global - chamava a atenção para a política que tem de ser de todos -  e também o futuro da sua Companhia: captava parcerias; adesões individuais; desgastava-se na busca de financiamentos, por mais pequenos que fossem, em dinheiro ou «em géneros». Tinha uma lucidez para o essencial, e uma capacidade rara para a ação. Ia a todas - desde falar com o Presidente da Assembleia da República ao  debate numa pequena localidade para que era convidada - na busca de teias. Sem lamechices. E testemunhámos uma aptidão que não é tão frequente quanto se pense: sabia pedir aconselhamentos, e acolher os contributos ... Por vezes, com boas discussões: porventura o melhor do momento. Sempre admirámos a elegância da sua militância partidária no PCP. E como participava no MDM - Movimento Democrático de Mulheres: pelo 8 de março passado lá a vimos a mobilizar para a manifestação.  Em geral para toda a sua intervenção que é pública se possa encontrar este traço: denunciava e, na hora, dava para a construção do que estava em causa.
Frequentemente sublinhava que «não era muito dada a emoções». As tragédias da sua vida não passam impunemente e estarão lá como doença crónica, mas testemunhámos momentos que mostram que não seria bem assim - era mesmo ternurenta. Como esquecer aquele pequeno envelope mal fechado, com o nome da destinatária «às três pancadas»,  lembrança inesperada, depois de Natal, mas para o assinalar?, ou o que aconteceu na leitura  de «O Punho»; ou ...Tomemos nota,  do que nos é dito no Comunicado da Escola de Mulheres - Oficina de Teatro: «Cumprindo a sua vontade, a Escola de Mulheres estreará a 19 de Novembro a versão cénica de Fernanda Lapa da obra O PUNHO».Ela mesmo confessou  que se tinha emocionado com aquela leitura, e ali terá começado a germinar o que nos deixa para ver em novembro ... Ou seja, ausente mas ao nosso lado ... E assim será.  



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