«E A CULTURA É ESTÚPIDA?
Estúpida (adj. fem.): Que não tem ou não desperta interesse.
O desapego e desinteresse pelas artes performativas demonstrados pelo Ministério da Cultura até ao momento têm acentuado a crónica incerteza e instabilidade no setor artístico. O recuo no orçamento da cultura para as artes performativas ou as exonerações em equipamentos centrais para o meio (o exemplo mais recente é a exoneração da Presidente do CCB, Francisca Carneiro Fernandes) afetam redes de cooperação nacionais e internacionais essenciais para a manutenção de estruturas artísticas precárias. A isto se junta a especulação sobre a exoneração da direção da Direção Geral das Artes (DGArtes), um organismo que tem sofrido profundas mudanças e que beneficia com a estabilidade. Por mais garantias contraditórias que nos vai dando, o que pretende a Ministra da Cultura?
Esta indefinição afeta desde logo as estruturas quadrienais que continuam sem saber se o decreto-lei nº 47/2021, que regula a possibilidade de renovação dos apoios quadrienais, aprovado pelo Governo anterior, será cumprido. Acresce que à data, tirando os concursos que ainda decorrem nos moldes definidos pelo Governo anterior, o orçamento aprovado para estas artes é bastante menor do que o dos anos anteriores. Além disso, o fim dos concursos previstos na declaração anual da DGArtes, como “Arte pela Democracia”, “Arte e Coesão Territorial, “Rede Portuguesa de Arte Contemporânea”, leva-nos a reconhecer que o atual Governo e o seu Ministério da Cultura claramente trabalham para uma desvalorização das artes performativas, recuando no crescimento que estava em curso.
É agora que devemos falar.
Menos orçamento, menos estabilidade, mais desconhecimento, mais fragilidade. Ao abandono orçamental, ao desamparo legal, ao desconhecimento processual, à instabilidade laboral (das chefias e artistas) acresce a desqualificação de quadros de direção de equipamentos fundamentais para a colaboração com as artes performativas contemporâneas, festivais, estruturas e artistas. Notamos um desinteresse por parte da Ministra da Cultura em dialogar com tutelas de equipamentos estatais (o conselho de administração do TNDMII está em gestão há um ano e com um vogal em falta…) ou conhecer no terreno a realidade das múltiplas atividades culturais que, no momento, encontram na DGArtes um interlocutor que não se pode comprometer.
É agora que devemos falar.
Estamos a viver de novo um ciclo de abandono das artes performativas que se tem concentrado em exonerações e mudanças de chefia. Mas não nos deixemos enganar. Este é um trajeto de terraplanagem de um setor de arte contemporânea que nos compete proteger. Exigimos que se garanta a independência de missão e programa dos equipamentos e organismos (presidentes e administrações) sem interferência dos gostos e interesses do Estado.
É agora que devemos falar. É agora que temos de nos manifestar.
Queremos respostas e visibilidade para o setor. Haverá estabilidade na direção da DGArtes? Manter-se-á o seu diretor? Porque há diminuição do orçamento para as artes performativas? Quando voltará a aumentar? Respeitar-se-á o decreto-lei nº 47/2021? Serão nomeadas chefias com qualificações condizentes com a missão de apoio às artes contemporâneas? Qual o rumo?
Se o Ministério, até ao momento, não manifestou interesse em ouvir o setor, os seus profissionais e as suas estruturas, é agora que devemos falar.
Recusamos ser a cultura estúpida».
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