«Míseros, o título, é acompanhado de um longo esquema de subtítulos que dá conta, parcialmente, do que conta, com a intenção de identificar mais que temas — esses vão no título primeiro —, formas teatrais arcaicas, da Idade Média, e também contemporâneas, já que hoje o drama, o choro, o escândalo e o espectáculo, são condição de exercício das formas narrativas espectaculares do mundo em que submergimos — nada existe fora do seu arremesso no espaço “público” (mais privado que público) como imagem e “episódio narrativo”. As novelas do real, da política convertida a novela, associadas às telenovelas e aos sistemas publicitário e propagandístico dos imperialismos preenchem o real virtualizado que nos assoma.
O sistema das imagens do espectáculo dominante está, todo ele, ao serviço da demagogia fake que vem destruindo o que a democracia supunha ser, com as suas liberdades e os seus parlamentos — a boçalidade medíocre e a estupidificação alastraram de tal modo que não sabemos se o que aí vem, e que a mentira impôs pelo espectáculo como “verdade” não escrutinada, não será — já o é, em parte — um novo tipo de totalitarismo, resultado de um jogo entre imperialismos globalizado.
A mentira tomou o poder no coração do sistema e corrói-o.
Míseros e seus Prantos, Lamentos, Loas e Pregões, com os diabos em acção na primeira parte e Caronte na segunda, tenta escrutinar estas coisas por meios teatrais. O teatro devolve à realidade uma verdade que o sistema espectacular destrói e manipula».
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