36ª Bienal de São Paulo | Conversa | Diálogos Sul-Sul – África-Áfricas: provocações, conjuras e confabulações | entre Vilanismo e Link’ArtÁfricas | No sábado, 8 de novembro, às 15h| Veja aqui.
36ª Bienal de São Paulo | Conversa | Diálogos Sul-Sul – África-Áfricas: provocações, conjuras e confabulações | entre Vilanismo e Link’ArtÁfricas | No sábado, 8 de novembro, às 15h| Veja aqui.
«O Teatro da Rainha faz 40 anos. E está a celebrá-los, isto é, a percorrer através de material fotográfico revelador o que realizou. Não é apenas um acto de memória, mas vivificar – o momento de olhar de quem especta – uma actualidade dos espectáculos, uma projecção destes num presente dos observadores que é, como sabemos, sempre a fugir – tudo é imediata memória. O tempo não pára mesmo que no teatro o paremos, não só nos “silêncios”, nas “pausas” e nas didascálias que dizem “um tempo”, mas porque suspendemos o fluxo na ampulheta da eternidade para evidenciar nos acontecimentos cénicos as suas interacções sociais e nelas o que sejam opressões escondidas e outras monstruosidades do humano mas, em contracorrente, realizando a festa com as armas do humor dos autores, dos actores e jogo dos seus corpos, da encenação: a festa do prazer estético, da beleza que existe também no que é feio, oculto e imperfeito – o tempo que vivemos é realmente tragicómico, a tragédia multiplica-se numa metástase contínua de violências sem limite e o entretenimento, dominante, adocica e mascara tudo de modo avassalador. Há sempre uma anedota a contar, uma pitada de óbvio a exaltar.
A impotência chama-se
Ocidente.
No caso desta mostra fotográfica, aqui, na Casa Antero, pomos em dia o que
fizemos no Beco do Forno, beco de muitas estradas polémicas. Esta Casa é um
Centro Cultural, um espaço de convívio, de cumplicidades e por certo de crítica
conspirativa, da arte de maldizer que redime as almas. Convosco, nesta
parede acolhedora, está Cervantes (o criador do Quixote), Molière (que
diagnosticou a hipocrisia dos Tartufos desta vida e dos mentirosos em geral,
Goldoni tem o seu Bugiardo), Karl
Valentin (que inspirou com o seu cabaret blagueur o
dramaturgo Bertolt Brecht) e o próprio Brecht que, através do seu alter-ego
“Senhor Keuner”, introduziu nos espíritos (des)atentos dos seus leitores uma
versão maliciosa e subtil da introspecção dialéctica, elevando a ingenuidade a
método. (...)».
(...)A entrada em cena de Liam é o motor de arranque de uma discussão sobre a volatilidade dos laços familiares, as fracturas sociais, a criminalidade, o aborto, os efeitos da imigração, o racismo, a tortura, a alienação da consciência moral e dos valores que a sustentam. Tal como o título indica, estamos perante um objecto em que o desamparo e o abandono, temperados com humor negro tipicamente britânico, são marcas essenciais».
«Luis Miguel Cintra (Madrid, 1949) é uma figura maior do teatro em Portugal e um dos rostos mais marcantes do cinema português dos últimos sessenta anos. Encenou e interpretou centenas de peças, clássicas e contemporâneas, que se contam entre as mais importantes da dramaturgia mundial, tendo igualmente participado, como ator, em mais de seis dezenas de filmes, sendo também uma das presenças mais assíduas da obra de Manoel de Oliveira.
Paralelamente à faceta mais reconhecida do seu trabalho, ao longo das últimas décadas Luis Miguel Cintra tem vindo a reunir uma quantidade avassaladora de peças escultóricas (ou “bonecos”, como o próprio lhes chama): arte sacra ou figurado popular, raridades ou estatuetas sem interesse, representações humanas ou animais, de todos os tamanhos, cores e feitios. Mais do que uma coleção – ou o seu contrário –, este insólito bestiário invadiu por completo o seu apartamento de Lisboa.
Com o encerramento da Cornucópia, em 2016, e com uma atividade teatral reduzida, Luis Miguel Cintra coabitou com estes misteriosos ocupantes, partilhando a casa, a vida e um irreprimível desejo de teatro. Numa lógica mais dramatúrgica do que decorativa, o encenador fez desses bonecos uma inusitada trupe de teatro: atores e personagens compelidos ao diálogo e a interagir de formas inesperadas numa polifonia de gestos, de olhares, de expressões que são, em última instância, um prolongamento do ato de encenar: um teatro estático, mas não totalmente imóvel, um teatro silencioso, mas não inteiramente mudo.
Esta exposição pretende cumprir dois objetivos fundamentais: reencenar, no espaço da galeria, uma síntese do percurso de Luis Miguel Cintra como ator e encenador e, em diálogo com a obra de Manoel de Oliveira, refletir acerca dos pontos de contacto (e de divergência) entre três modos de ver e de dar a ver: o teatro, o cinema e a exposição.
A exposição é organizada pela Fundação de Serralves — Casa do Cinema Manoel de Oliveira e tem curadoria de Luis Miguel Cintra e António Preto e coordenação de Carla Almeida.