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Todos os textos deste livro de mais de 500 páginas são
cenários literários, a linguagem é literária, as questões que coloca, as
dúvidas e as explosões de raiva são literárias. E tudo aquilo
aconteceu. Tem o mérito de dar ao leitor a impressão de que podia ter
sido tudo inventado – e nós gostaríamos na mesma –, de que nada disto se
passou, que aqueles filmes não existiram, nem as pessoas, nem os
teatros, nem a Almirante Reis, o Prevért, a Sophia, o Bresson, a
Glicínia, o Bergman, o Rex, o Chaplin, a Isabel de Castro, o Antonioni, o
café Monte-Carlo, o Mário Dionísio, a Cornucópia, o António Sena, os
Artistas Unidos. Mas existiram, existem. Não é mentira. As fotos a preto
e branco não mentem. E as do Augusto Brázio e do Jorge Gonçalves são
também imensamente literárias. O livro de JSM é circular. O passado e o
presente pertencem ao mesmo bolo. Um livro iniciático e de maturidade. A
sua escrita, sendo ao mesmo tempo confessional, poética, ideológica,
ensaística e memorialista, não altera o registo muito pessoal e
envolvente do autor, ágil, escorreito, entre o jornalístico e o
ficcional, o que para o leitor é um bónus. Lê-se de uma assentada. Vai
do deslumbramento à desilusão, da utopia à revolta, da liberdade à
denúncia da cegueira partidária do pós-25 de Abri (...)».
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