Veja a programação aqui e neste endereço
Do semanário Expresso - Revista E - desta semana:
«Este ano na sua 23ª edição, o Festival Internacional de Teatro de Setúbal apresenta uma programação cuidada e variada»
TEXTO JOÃO CARNEIRO
Outro excerto: «(...) Curiosamente, um outro espetáculo vem à memória, “O Conselheiro da Favela”, da companhia brasileira Platô. Venceu em 2019 a secção off do festival, e por impossibilidade de deslocação da companhia até Portugal, será apresentado, este ano, em vídeo. Mais uma vez, são grandes questões políticas e estéticas que estão em causa; a Guerra de Canudos, que em 1896-1897 dizimou uma comunidade supostamente antirrepublicana, na alegação dos grandes proprietários que viam com maus olhos o carácter igualitário daquela organização e daquela gente; a figura de António Vicente Mendes Maciel, também conhecido por António Conselheiro, em torno do qual o movimento comunitário se tinha organizado; o confronto entre os mais pobres da terra e os mais ricos; o livro que Euclides da Cunha escreveu, pouco tempo depois do fim da Guerra (“Os Sertões”, publicado em 1902); e a atualidade, no Brasil e no Rio de Janeiro de hoje, como no resto do mundo, que obriga a rever todos estes materiais e todas estas questões, e que a partir delas constrói um espetáculo de teatro.
O encontro entre arte e pensamento social e político não fica por aqui — “Mil Palavras Por Dia”, de Júnior Sampaio, fala de pessoas e lobos, de esfomeados e de poderosos, de mal, de culpa e de moral; com “Siempreviva”, Mar Gómez apresenta um solo sobre a mulher, entre feminismo crescente e opressão sociocultural; com “Ferdinand!”, a companhia Lachende Bestien examina a figura e a obra de Václav Havel, com os olhos de hoje e uma banda de música em palco.
São só exemplos, poucos. O Festival de Setúbal desdobra-se pela secção oficial e pelo off, o que não quer dizer que os bons estejam de um lado e os “assim-assim” de outro; há criações de carácter lírico ou poético; há circo; estão lá os clássicos e os contemporâneos; está o entretenimento e está o humor; está a música e está o cinema. São cerca de 30 espetáculos, a que se junta uma exposição, “O Início do Fim das Possibilidades”, e uma conversa sobre políticas culturais locais».
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