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Com Tiago Rodrigues, o Festival de Avignon está mais à esquerda?
Historicamente, este é um festival que se inscreve no mundo, que fala sobre o
mundo e para o mundo, e que tem um posicionamento político. É, no seu código
genético, um festival republicano, democrata, feminista, antifascista,
antirracista e ecologista. Assumo-o. Está implícito no texto constitucional do
festival, está no espírito do festival. E é uma batalha que vamos continuar a
praticar. O que não quer dizer que façamos uma programação sempre
explicitamente política, e houve nesta edição, de Michikazu Matsune com Martine
Pisani a Anna Teresa de Keersmaeker ou aos Mal Pelo, enormes exemplos de uma
política implícita, ou de um compromisso cidadão participativo implícito. Mas,
efectivamente, houve também uma quantidade importante de artistas que falam
muito explicitamente sobre o mundo. Mais uma vez, sou eu, somos nós, a tentar
interpretar hoje a partitura histórica que é o Festival de Avignon.
A experiência deste ano
suscitou reflexões sobre a próxima edição?
Este foi um festival de transição, em termos organizativos. Inscrevendo-se na
história de Avignon, o que me dá imensa alegria, mas também prometendo já
coisas para o futuro. Houve tentativas, talvez não muito perceptíveis para o
público, que nos dão pistas para uma evolução: séries mais longas de
representações que nos permitirão ter mais lugares disponíveis à venda, levando
mais longe a democratização do acesso, por exemplo.Vivemos o privilégio de este
ser um festival muito procurado. A única forma de termos novos públicos – e
nomeadamente jovens como os 4000 que activámos este ano ao abrigo do programa
Première Fois, muitos dos quais vivem nos bairros populares da periferia de
Avignon – é haver mais lugares à venda. Isso significa mais representações,
mas, eventualmente, menos espectáculos, para que eles possam estar mais tempo
em cena. É uma evolução que eu prevejo para os próximos anos, e que já
começámos a testar, de uma forma subtil.
Outra diferença importante foi termos antecipado em dois meses a abertura da bilheteira, de modo a que logo no início de Abril o público possa comprar bilhetes. Isso permite a uma grande maioria de espectadores, sobretudo àqueles que vêm de fora até ao país do teatro, viajar de forma mais barata. E permite ao festival e à cidade gerirem melhor a ocupação. Os estudos que temos de 2019 dizem que este festival produz 50 milhões de euros de impacto económico no território. É o maior acontecimento económico da cidade. Organizá-lo melhor e mais antecipadamente é importante do ponto de vista económico e do ponto de vista ecológico, mas também do ponto de vista do acesso democrático. É um detalhe que muda toda a operação: significa ter o festival pronto três meses mais cedo do que o habitual. Mas é um desafio que achamos importante pôr em prática, mais uma vez para interpretarmos, enquanto organização, essa utopia de uma festa do teatro popular nos dias de hoje».
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«C'est l'un des axes forts de la politique culturelle de Rima Abdul Malak, ministre de la Culture : ouvrir les grands événement culturels, comme le Festival d'Avignon, à tous les publics, notamment les plus jeunes.Lors d'une communication en Conseil des ministres, le 21 juin, la ministre de la Culture a présenté les mesures volontaristes en vue de rendre accessibles les plus prestigieux événements culturels au jeune public.« Dans la perspective de permettre aux jeunes gens de vivre des expériences uniques, le pass Culture a intensifié pour 2023 la mise en place d’opérations exceptionnelles avec de nombreux festivals (assister en avant-première à des projections de films au Festival de Cannes, découvrir plusieurs œuvres de la Nuit Blanche, décerner un prix au nouveau festival de cinéma Nouvelle Vague à Biarritz, participer à un parcours « Première fois » au Festival d’Avignon, etc.) ». (...)».
Em especial: quem determina a estratégia do Festival?
«If you're woke, you're left. If you're left, you're woke. We blur the terms, assuming that if you're one you must be the other. That, Susan Neiman argues, is a dangerous mistake. The intellectual roots and resources of wokeism conflict with ideas that have guided the left for more than 200 years: a commitment to universalism, a firm distinction between justice and power, and a belief in the possibility of progress. Without these ideas, Neiman argues, they will continue to undermine their own goals and drift, inexorably and unintentionally, towards the right. In the long run, they risk becoming what they despise. One of the world's leading philosophical voices, Neiman makes this case by tracing the malign influence of two titans of twentieth-century thought, Michel Foucault and Carl Schmitt, whose work undermined ideas of justice and progress and portrayed social life as an eternal struggle of us against them. A generation schooled with these voices in their heads, raised in a broader culture shaped by the ruthless ideas of neoliberalism and evolutionary psychology, has set about changing the world. It's time they thought again».
O acima sistematizado pretende dizer de maneira quiçá «bagunçada» do que se pretende abordar neste post, mergulhando numa diversidade de «acontecimentos» que no limite nos levam a parar no «WOKE». Em abono da verdade, o impulso veio da Folha Informativa do Festival de Almada atrás mostrada que nos impôs tentarmos alguma arrumação, ainda que breve, a ideias e elementos físicos diversos que se vão acumulando sem darmos por isso. Todavia impregnam a forma como olhamos em volta e progredimos no nossos conhecimento. E se na Folha o Diretor do Festival começa por lembrar o que aconteceu na Conversa da Cerca deste ano até podemos entender este post como seu efeito colateral. Dito isto, algumas notas a propósito ... , ou a despropósito:
- De facto, Rodrigo Francisco, no inicio da CONVERSA DA CERCA, comunicou o «boicote» que o Le Monde diplomatique aplicou ao Festival. Deixemos de lado o que tal provoca a quem está a produzir, na circunstância, um Festival - certamente um verdadeiro calvário (para utilizarmos palavra que dá nome a espetáculo da CTA que regressa em setembro). O assunto que nos lembremos não foi aproveitado pelos participantes. Até poderia ter acontecido: ao discutir-se a Inteligência Artificial perguntar-se, por exemplo, se os ROBOTS não farão «boicotes». Diga-se, (o Elitário Para Todos esteve lá), na altura não associámos o revelado ao WOKE mas veio-nos ao pensamento movimentos de gerações passadas e presentes contra as guerras. Muitos se lembrarão da força do «MAKE LOVE, NOT WAR». Quase sem procurar chegámos à raiz do anunciado, ou seja, ao comunicado do Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) a propósito da presença em Portugal, nomeadamente no Festival de Teatro de Almada, da Batsheva Dance Company. Depois, realmente, «pelos corredores» foi-se falando ...Diletantemente? E dizem-nos que foi abordado em Conversas da Esplanada d0 fim de tarde. Que saibamos a Companhia de Israel não entrou nelas ... Por acaso também fomos dando «para esse peditório», dizendo que para quem defende o Povo Palestino a atitude do Le Monde Diplomatique teria caído muito bem, mas que nos é sempre difícil acolher «ataques» às obras de arte, aos espetáculos, aos agentes culturais ... E lembrámos o que se tinha passado no Teatro São Luiz no início do ano (ver o post anterior acima) ; mesmo com o espetáculo «Eu sou a minha própria mulher»; as reações ao que vem da Rússia no âmbito da invasão à Ucrânia... A grande sobra, eis que a seguir é o WOKE que vem ao de cima ... Veja-se a Folha Informativa n.º 15. Quem sabe, no próximo FESTIVAL DE ALMADA, tema para mais Debate, e, entretanto, porventura nas demais conversas que é habitual acontecerem no Teatro Municipal Joaquim Benite ao longo do ano ...
- Como fugir ao debate WOKE? Não há como, nem queremos, aproveite-se o momento. Aqui estacionados diga-se que está a dar para tudo. Não há entendimento estabilizado. Mas precisamos ter algum. Escolhemos o que se pode ler na revista Electra antes referenciada, a nosso ver avança descrições com claridade que os excertos seguintes mostram:
- Quanto ao «nós» e «eles», o Teatro como tantas outras dimensões artísticas certamente que nos ajuda a estar com os outros. Mas não tem que ser de maneira homogeneizada em busca de «paz e amor» - sim, veio-nos à ideia o momento «Lulinha, Paz e amor». Hoje temos «públicos» em vez de «público». De forma civilizada e serena nem todos teremos de frequentar «a mesma praia». E foi aqui que nos ocorreu o maravilhoso «Ao Encontro do Encontro»: