A Publicação da imagem, o Volume V da coleção, está apresentada assim: «Este é mais um volume de uma Colecção única e fundamental no conhecimento da
História contemporânea.Abarca o período entre 1960 e o fim do séc. XX, altura em
que Portugal conheceu um movimento de crescimento económico, um simultâneo
processo de democratização e descolonização e de adesão à União Europeia». Ver aqui. Não se sendo especialista em história, sociologia, ou ciência politica - que nos parecem ser de forma cruzada as disciplinas de abordagem subjacentes ao trabalho -, apenas podemos olhar para a obra como leitora comum, interessando-nos as matérias tratadas numa perspectiva de cultura geral, contudo a ter em conta, eventualmente de maneira indirecta, na esfera profissional, em torno da nossa formação base que tem a ver com a gestão e finanças, e afins. Dito isto, o livro «é bonito», dá prazer manuseá-lo e, já não se podendo adquirir «tudo», a decisão da compra foi muito clara: o capitulo «A CULTURA», que vai da pag. 145 à 193. O primeiro que lemos (aos outros apenas ainda demos uma olhadela). É de muito fácil leitura, talvez devido a traço jornalístico que nos parece evidente. E isto, a nosso ver, não é despiciendo. Depois, valorizar o facto de a Cultura não ter sido esquecida. Mas é estranho estarmos a ler «história» de um tempo que é o nosso, de acontecimentos por vezes tão vividos por dentro. Tentou-se, naturalmente, entender a lógica interna do que se leu, e identificar critérios e categorias, que levaram a escolher aqueles acontecimentos e protagonistas e não outros. Pensamos que não o conseguimos na medida necessária. Porém, bem vistas as coisas, há o mérito de nos ser passado um olhar global sobre o período temporal em questão, que tem rosto e nome - na circunstância, João Pedro George. Mas, não se sabendo explicar exactamente o porquê, também se fica com a ideia, o que aliás já aconteceu com outros trabalhos, que a falta de MEMÓRIA INSTITUCIONAL organizada sobre as artes se faz sentir cada vez mais. Pensando bem, vemos este capitulo sobre a Cultura como ponto de partida para uma boa discussão entre fazedores daqueles acontecimentos. Alguns, claro, já não o podem concretizar ... Já não estão entre nós. E para aqueles momentos de diálogo com a assistência até já tínhamos questões, gostaríamos de explicações do autor e da «opinião» de outros sobre alguns assuntos a partir de passagens do «EM BUSCA DA DEMOCRACIA 1960-2000». Ao acaso, escolhemos este excerto (Pag. 185 e 186): «Foi neste contexto que decorreram, ao longo da década de 1990, vários acontecimentos que agitaram e dinamizaram o meio e que contaram com o apoio e a adesão entusiásticos de intelectuais e artistas, intensificando-se assim uma tendência iniciada na década anterior: a estatização da cultura (no sentido em que a cultura passou a depender grandemente da politica do Estado para o sector, por exemplo, através de uma avalanche de encomendas de espectáculos de teatro, música, cinema, dança, de livros, de discos, etc). Uma das consequências desta passagem de um Estado que controla a informação (durante o salazarismo) para um Estado cultural (de matriz francesa) foi a integração da vida cultural, cada vez mais, na dinâmica das instituições oficiais, o que implicou também uma maior dependência dos produtores em relação aos orçamentos estatais (preocupados em manter os seus cargos e em garantir subsídios, muitos artistas e intelectuais abdicaram de uma parte significativa da sua autonomia). E como é que isto é articulado com uma passagem que se pode ler imediatamente antes (Pag. 184): «Em Agosto de 1986, numa primeira tentativa de começar a privatizar a cultura surgiu a Lei do Mecenato. Segundo a secretária de Estado da Cultura, Teresa Patrício Gouveia, pretendia-se diminuir a intervenção do Estado na cultura e estimular o «patrocínio particular e empresarial». (Já agora, formalmente, não houve uma Lei do Mecenato). E aquela matriz francesa, em especial, chamou a nossa atenção ..., por colocada naquele período temporal.
Gostaríamos também que alguém nos falasse do Ministro da Coordenação Cultural e Ministro da Cultura e da Ciência, Prof. Sedas Nunes, e sobre o que no Governo seguinte «foi aproveitado» deixado por este Ministro, embora, se bem nos lembramos, «tudo» tivesse sido revogado. E também seria interessante ler com os olhos de hoje esta ligação da cultura à ciência, e aquela coordenação também deve ter que se lhe diga. Se calhar aquela gente era visionária! E até sugeríamos que para este período se chamasse para a tertúlia Helder Macedo. Claro, e quem para o período «1960-2000» não gostaria, por exemplo, de saber qual o papel do «Amador»?, e de como se processou a descentralização? ... Mas sobre isto, e muito mais - mas devemos precisar de ler outra vez - há défice no texto. Talvez se possa aplicar: fazem-se as omoletes com os ovos que se tem. Daí sublinharmos a falta de memória organizada para que os investigadores possam investigar, os jornalistas alimentarem a comunicação social, os estudantes terem dados e informação base exacta, ... Enfim, memória organizada, com a ambição de se contribuir para que tudo e todos - vencidos e vencedores - venham a ter a(s) sua(s) história(s) assente na verdade dos factos. Ah a verdade ! Ah os factos ! ... Bem sabemos.
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