sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

«OS LUSÍADAS _ Antologia Temática e Texto Crítico de António Borges Coelho _ Ilustração: Manuel San Payo» | Mais: o que nos diz sobre esta obra Domingos Lobo

 

«A presente edição insere-se nas iniciativas promovidas pelo Partido Comunista Português para comemorar o V Centenário do nascimento de Luís de Camões.
«Camões é um poeta do Renascimento, de uma época de exaltação das realizações humanas face ao divino e ao obscurantismo, de um mundo em transição, no qual se vai formando um novo pensamento filosófico e científico, ligado à observação da natureza e à experiência, que as forças reaccionárias dessa altura, nomeadamente através da Inquisição, procuraram reprimir e conter» - afirma a nota do PCP sobre as comemorações.
Bem se pode dizer que é este todo o sentido desta obra notável do historiador (e poeta) António Borges Coelho e que, na sua essência, ela conflui com o lema das comemorações do PCP: «Camões, poeta do povo num mundo em mudança». Originalmente publicado em 1980, por ocasião do IV Centenário da morte de Camões, o livro está agora novamente à disposição dos leitores, revisitado pelo autor e enriquecido pelas ilustrações de Manuel San Payo».
 
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Ainda sobre a obra de Domingos Lobo no Jornal Avante! : «Camões não é a voz da reacção e do colonialismo. Camões é a voz do nosso povo, dos lusíadas, a voz da insubmissão ante os privilégios, a voz do progresso social e científico, a voz da nação portuguesa, num elevado sentido humanista», disse Álvaro Cunhal na Festa do Avante! de 1979. É este Camões que brigava contra nobres e burgueses ao lado da plebe, que sofreu injúrias, fome e prisões, que denunciou honrarias e faustos da corte enquanto o povo mourejava de sol a sol por uma côdea dura, ou se esforçava nas naus da Índia morrendo de febres, de peste e de escorbuto, submetido e explorado, esse ilustre peito lu­si­tano, que percorre os 10 cantos de Os Lu­síadas e que António Borges Coelho, com a vera sabedoria crítica do historiador, do poeta e homem de cultura, neste livro encena como questão central: Que im­por­tância têm afinal Ca­mões e Os Lu­síadas; para que serve a po­esia? A resposta de Borges Coelho é imediata e plena de contundência: para tornar mais forte a nossa “fraca humanidade”.

Que “fraca hu­ma­ni­dade”, como povo, te­ríamos, que me­mória co­lec­tiva nos fi­xaria a este chão solar e ma­drasto, que iden­ti­dade, que língua fa­la­ríamos sem os po­etas que can­taram e cantam os nossos gestos mais fe­cundos e justos, as an­danças pelo mundo em busca de pão menos suado; as pe­lejas pelas rotas tran­so­ceâ­nicas, ori­entes, oce­a­nias, áfricas, gran­je­ando es­cassa for­tuna e muito sangue der­ra­mado; as lutas pela in­de­pen­dência desde a fun­dação até 1383, que Fernão Lopes des­creveu na Cró­nica de D. João I, mo­delar es­cultor da pri­meva língua, pas­sando pelo li­rismo ar­re­ba­tado de Ber­nardim Ri­beiro, pelas alu­ci­nadas vi­a­gens de Fernão Mendes Pinto; pelo supra-Ca­mões que Pessoa quis ser, pela de­núncia da bar­bárie fas­cista que se ins­creve na pena co­ra­josa dos nossos poeta ne­or­re­a­listas, de Ma­nuel da Fon­seca a Carlos de Oli­veira, de Jo­a­quim Na­mo­rado a Ar­mindo Ro­dri­gues; o 25 de Abril de Ary dos Santos, de Ma­nuel Gusmão, de Sophia, de Jorge de Sena. An­tónio Borges Co­elho dá-nos a res­posta nesta abor­dagem cri­te­riosa e no diá­logo que ao longo do en­saio es­ta­be­lece com as mais im­pres­sivas pas­sa­gens da épica ca­mo­niana, a co­meçar nesse longo e mo­delar poema, que nos in­ter­roga: «Quem pode ser no mundo tão quieto», cons­truído em oi­tavas, ins­cre­vendo no poema a feição de mo­der­ni­dade dis­cur­siva, a agu­deza sin­gular, as vir­tu­a­li­dades do idioma, na forma como Ca­mões o uti­liza para de­nun­ciar o alhe­a­mento das classes do­mi­nantes pe­rante o des­con­certo do mundo: Quem pode ser no mundo tão quieto,/​ou quem terá tão livre o pen­sa­mento,/​quem tão ex­pe­ri­men­tado e tão dis­creto,/​tão fora, enfim, de hu­mano en­ten­di­mento/​que, ou com pú­blico efeito, ou com se­creto,/​lhe não re­volva e es­pante o sen­ti­mento,/​dei­xando-lhe o juízo quase in­certo,/​ver e notar do mundo o des­con­certo?

Borges Co­elho faz uma lei­tura nova e ac­tu­ante de Os Lu­síadas, in­ves­tindo e so­bre­le­vando as es­trofes so­ci­al­mente com­pro­me­tidas da nossa obra maior e uni­versal. É o Ca­mões hu­mano, de­fensor do povo miúdo, que tinha es­pe­rança que o país in­qui­sidor, beato e mi­se­rável mu­dasse e com ele as von­tades, To­mando sempre novas qua­li­dades. Um país de todos e pos­sível, que não apenas de um pu­nhado de no­bres, se­nhores de la­ti­fún­dios feu­dais, vi­vendo de pre­bendas da Corte e da ex­plo­ração es­crava, à tripa forra, sub­me­tendo sem cui­dados o povo miúdo à sua am­bição de poder, à ga­nância e à vã co­biça.

Ca­mões, mesmo acos­sado pela In­qui­sição, so­bre­le­vando os seus mé­todos com subtil en­genho e arte, não deixou de cri­ticar, em­bora de forma ve­lada, al­guns dos que pri­vavam na Corte de D. Se­bas­tião: Vê que esses que fre­quentam os reais/​Paços, por ver­da­deira e sã dou­trina/​Vendem adu­lação, que mal con­sente/​Mondar-se o novo trigo flo­res­cente, e não deixou também, nesse in­có­modo Canto IX, que muito boa gente ainda olha de sos­laio, de de­nun­ciar, nas es­trofes 27 e 28, a re­lação cí­nica entre no­breza e povo, pen­dendo as leis sempre para o Rei, dei­xando o povo à míngua e à mercê de todos os ul­trajes: Vê que aqueles que devem à po­breza/​Amor di­vino, e ao povo ca­ri­dade,/​Amam so­mente mandos e ri­queza,/​Si­mu­lando jus­tiça e in­te­gri­dade;/​Da feia ti­rania e de as­pe­reza/​Fazem di­reito e vã se­ve­ri­dade;/​Leis em favor do Rei se es­ta­be­lecem,/​As em favor do povo só pe­recem.

No Texto Crí­tico, que acom­panha cada pe­ríodo em aná­lise de Os Lu­síadas, es­creve An­tónio Borges Co­elho: «O verso ca­mo­niano louva e fus­tiga. Louva a co­ragem, os chefes que pre­vêem os pe­rigos, os ex­pertos peitos, os que sobem ao mando quase for­çados. E fus­tiga: reis, no­bres ineptos, fi­lhos-fa­mília, pa­dres am­bi­ci­osos e ti­râ­nicos.»

Que falta ainda nos faz este vigor, esta su­pe­rior forma de afir­mação da língua e da jus­tiça, a cla­reza e a co­ragem deste verbo. Para os que ques­ti­onam a im­por­tância de ler hoje Os Lu­síadas, a in­ter­pre­tação crí­tica que dele nos dá Borges Co­elho é ade­quada res­posta».

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Paz!

 


« (...) É urgente pôr fim à guerra! É urgente defender a Paz! É urgente mobilizarmo-nos por esta causa tão atual e determinante para salvaguardar o presente e o futuro da Humanidade.
Os preocupantes desenvolvimentos no plano internacional e a realidade dramática com que estão confrontadas milhões de pessoas vítimas da guerra, o risco de um conflito de grandes e trágicas proporções, comprovam a necessidade e a emergência de pôr fim à confrontação e à corrida aos armamentos, fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance para que se abram caminhos para a Paz, o diálogo, a solução política dos conflitos. (...)». Leia mais.