Em tempos de discussão sobre o Acordo Ortográfico do Português reparei no artigo do NYT
sábado, 25 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
ECONOMIA E CULTURA: MAIS UM ENCONTRO
Se quiser saber sobre este encontro, em particular, pode ir atraves de um post meu num outro blogue. Aqui só me apetece sublinhar que já começo a estar afogada em «economia e cultura». E há o perigo real, caso não se volte a reflectir a cultura pela cultura, de a economia que lhe está subjacente, desde sempre, minguar, pela lei natural destas coisas: de facto, para haver economia da cultura tem de haver primeiro cultura. E tem de haver «serviço público» em cultura. Melhor, em cultura e artes.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
AGORA EM PORTALEGRE
As notícias continuam a chegar-nos: avança o debate EM DEFESA DA CULTURA - agora em Portalegre. Veja o que aconteceu antes e também divulgado neste blogue.
sábado, 18 de fevereiro de 2012
VENEZUELA:El Sistema
Hoje no NYT, «Music Meets Chávez Politics, and Critics Frown» onde pode ler por exemplo:
«(...)
Mr. Abreu, in an interview, deflected the suggestion. “We are in a free country where everyone can express their own opinions,” he said. “But our relationship with the state is very simple. Our kids have the right, the constitutionally given right, to musical education.” (...)» . Mas vale a pena ler o «post» completo.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
«APPEL A LA DEFENSE DE LA CREATION»
(clic para aumentar)
Um leitor deste blogue chamou-nos a atenção para o que se está a passar em França no âmbito do «spectale vivant» e das «arts plastiques» depois de ter lido o divulgado (imagem acima) no Libération de 10 de Fevereiro. Para saber mais, e ler melhor: neste endereço e por exemplo aqui.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
MUITAS PARTES QUE NÃO SE ENTENDEM, SENHOR SECRETÁRIO DE ESTADO DA CULTURA
A frase «que parte é que não entende, não há dinheiro» tem sido amplamente utilizada pelo Secretário de Estado da Cultura na argumentação em defesa do comportamento que vem tendo no lugar que ocupa. A questão de fundo sugerida pela frase está longe de estar explorada, e demonstrada. Mas, no contexto que parece ser a deste Membro do Governo, e dentro da lógica do seu discurso em que «transparência» «e dinheiro dos cidadãos» abundam, o Despacho n.º 1793/2012 de 8 de Fevereiro, sobre as Orquestras Regionais, tem muitas partes que não se entendem. Assim sendo, Senhor Secretário de Estado, faça o obséquio de nos explicar, por exemplo, o que a seguir se questiona.
- Uma parte que é dificil entender: afinal, com muito pouco ou nenhum dinheiro, qual é a estratégia do poder central para as Orquestras Regionais? O que está no preambulo do referido despacho é, no minimo, inquietante:
«O incentivo à criação, desenvolvimento e manutenção das orquestras
regionais foi, ao longo dos últimos 20 anos, enquadrado por
diversos despachos normativos — Despachos Normativos n.
os 56/92,de 29 de abril, 11/2000, de 11 de fevereiro, e 23 -A/2001, de 18 de
maio — que estabeleceram um modelo do seu funcionamento e
condições de financiamento que, em alguns aspetos, necessitam
de uma revisão no sentido de proporcionar um quadro de atividade
regular às orquestras regionais entretanto criadas ao abrigo daqueles
normativos. Mantendo os princípios que norteiam o financiamento
às orquestras regionais, quer pela continuação das parcerias entre a
Administração central, local e, desejavelmente, com outras entidades
públicas ou privadas, quer nos seus objetivos de enquadramento dos
jovens músicos, da sensibilização de novos públicos e da descentralização
e difusão da música erudita, mas reconhecendo ser necessário
estabelecer um financiamento que permita uma maior estabilidade e
consolidação das orquestras já existentes, alteram -se pontualmente
os critérios do respetivo financiamento.
Por outro lado, a filosofia de enquadramento das orquestras regionais
assentava na criação de uma rede de orquestras regionais a criar por concurso
público, situação que, desde 2003, foi abandonada e que os atuais
constrangimentos orçamentais não permitem retomar. Considera -se,
no entanto, que às três orquestras regionais existentes — Orquestra do
Norte, Orquestra Filarmonia das Beiras e Orquestra do Algarve — devem
ser atribuídos meios que permitam a continuação do relevante trabalho
que vêm desenvolvendo.
Neste sentido, de acordo com os princípios de racionalidade de utilização
dos recursos financeiros disponíveis e de rigor orçamental e tendo
em linha de conta a proposta fundamentada da Direção -Geral das Artes
que considera a necessidade de assegurar mecanismos indispensáveis à
consolidação dos projetos desenvolvidos pelas orquestras regionais já
existentes, que prosseguem objetivos de preservação e divulgação da
música erudita com base em critérios de elevada exigência e qualidade
artísticas, bem como a profissionalização dos seus músicos, reconhece -se
o manifesto interesse público na concessão de apoio direto com carácter
extraordinário às orquestras regionais de acordo com os critérios que
agora se definem.»
Como se pode verifcar é dito que se está perante uma intervenção excepcional, e por esse facto recorre-se a um dispositivo de um outro diploma, o dos Apoios às artes através da DGARTES - que não foi feito para esta situação - e que, lembremos, diz o seguinte: «Extraordinariamente, em situações excepcionais, de manifesto interesse público, podem ser atribuido apoios directos a projectos ou actividades de relevante interesse cultural, por dspacho do Ministro da Cultura sob proposta fundamentada do Instituto das Artes, doravante designado por IA». Entendamo-nos: como é que a situação das Orquestras Regionais pode ser uma situação excepcional quando tem um passado de 20 anos e se diz que são para continuar? E torna-se necessário, desde já, conhecer a proposta fundamentada da agora DGARTES (que sucedeu ao IA) que levou ao despacho. Afinal, no futuro o que vai acontecer às Orquestras Regionais?
- Uma outra parte que suscita dúvidas: mesmo para quem não é jurista, bastará consultar o site ds INCM, para para percebermos que são muitos os diplomas, existentes e entre eles uma hierarquia. Para o que aqui nos interessa: um Despacho Normativo, na circunstância o Depacho Normativo n.º 23 - A//2001 de 18 e Maio, pode ser revogado por um Despacho que diz ser para uma situação excepcional?
- E por agora uma outra parte relacionada com o Fundo do Fomento Cultural através da pergunta:como é que as verbas deste Fundo são geridas? e quais são elas? E a que se destinam? E os montantes atribuidos às Orquestras sofreram cortes? Como os que foram feitos às entidades abrangidas pelos Decreto-Leis a aque se recorreu? E já agora, em tempos houve Portarias para fins semelhantes. Seria apenas pela questão da plurianualidade? Admitindo-se que sim, o procedimento actual não se deveria entrelaçar com o passado e com o futuro e por conseguinte ter-se ponderado igualmente Portaria para este particular?
Falta dizer que embora a Comunicação Social não tenha ignorado o assunto não o aprofundou tanto quanto o que conseguimos encontrar. Ao Elitário Para Todos chamaram a atenção para a notícia com o titulo «Associação Musical do Algarve satisfeita com continuidade da subvenção estatal à Orquestra da região». E nós aqui no Elitário Para Todos também estamos satisfeitos, pela do Algarve e pelas outras, mas como se compreenderá não é isso que está em causa, e que questionamos. Tudo visto e revisto: a coisa está fusca! Não percebemos e queriamos entender. E pensa-se que a isso se tem direito, numa democracia.
PROPOSTA DE LEI DO CINEMA
Como amplamente divulgado na comunicação social, encontra-se em discussão a Proposta de Lei do Cinema. O texto aqui.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
«LANHAS» E «TAPIÈS»
Fernando Lanhas e Antoni Tàpies faleceram. Alexandre Pomar no seu blogue assinala a perda. Como gostei do gesto e da forma como o fez trago os posts respectivos para o Elistário Para Todos. Veja Sobre Tàpies. Relativamente a Lanhas aqui e mais aqui. Felizmente que ainda temos gente com memória organizada.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
PELO PAÍS EM DEFESA DA CULTURA
A comunicação social tinha dado cobertura à iniciativa - um exemplo - e nós também aqui no Elitário Para Todos. Entretanto, fizeram-nos chegar mais notícias: o Manifesto anda a ser discutido pelo País, como está assinalado no seu Blogue. As imagens acima são do encontro realizado recentemente em Évora. O próximo é em Beja.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
CULTURA BEM MENOR
Saiu hoje no Jornal Público.
Cultura bem menor
Chega de atirar areia para os olhos de todos. Quando se diz
que a cultura não é um bem menor e que uma política de apoio à cultura é uma
política de estímulos, não se pode ao mesmo tempo, assumindo que se está a
fazê-lo indirectamente, dizer que a expressão orçamental desse apoio não é
significativa, que é apenas menos, quando na realidade é parte da asfixia de um
sector que iniciativas como Guimarães não altera – não é por fazer um sol de
felicidade instituída na eira, minúscula eira em termos nacionais, que também
faz sol no nabal que entretanto deixou de se regar. Uma política de estímulos
avulsa foi o que sempre houve e de forma sempre desconexa, descoordenada e sem
visão de país, exceptuando-se o período conhecido e reconhecido de Manuel
Carrilho/Rui Nery. Um Ministro da Cultura, e é o que Pedro Passos Coelho é
porque o seu gabinete é o Ministério que não existe e porque é o único
representante da área no conselho de ministros, não pode dizer que os 0,2% - já
foi 0,7% - do orçamento para a cultura não são significativos quando, como
ministro, deveria expressar uma visão que fosse mais que declarações genéricas
de boas intenções, por um lado, portanto um plano concreto e por outro lado
dizer que a famosa dívida ficar nos 4% é mais que tudo. Esta demagogia da
manipulação dos números nunca foi tão alquímica para efeitos de mascarar a
realidade da cada vez que se fazem declarações nacionais. Um corte de 38% nas
subvenções das estruturas de criação, subvenções que são estímulos e que estão
longe de permitir, por razões estruturais, que se pratiquem os modelos
organizativos europeus, é o contrário de um estímulo, é um acto de asfixia
deliberado. Estas estruturas de que falo são um resultado da democracia, um
resultado autónomo e não orientado, criado por aqueles que pegaram nos destinos
da cultura do e no país com as próprias mãos, são a expressão mesmo que
precária de uma componente da sociedade civil que se dedica às artes com um
desígnio de serviço público assumido e sempre praticado do 25 de Abril para cá.
Entre nós, por desconhecimento e incultura específica, nunca se organizaram sob
a forma de uma política os estímulos de modo duradouro e entrosado, com
continuidade de processos e capacidade de renovação inscrita. E o que é que
agora se está a fazer? Uma espécie de policiamento pela exclusão e asfixia, um
verdadeiro golpismo no justo momento em que se acusam os outros de desejar uma
“arte orientada”, o que é claramente gato escondido com rabo de fora pois é
inventar uma culpa antidemocrática a terceiros que não tem existência real – é
antiga esta táctica de remeter para um bode expiatório fantasmado culpas
próprias e lavar as mãos do que se está a fazer, o trabalho sujo é sempre de
outros. Quem é que defende uma arte orientada, uma orientação cultural
dirigista? Quem a pratica ou praticou de modo político?
A necessidade de um dado patamar organizativo das coisas tem
fundamentalmente a ver com as realidades patrimoniais, incluindo as imateriais,
e com a relação entre tradição e inovação – a candidatura de certa Coimbra a
Património Mundial e o modo como foi feita ainda agora prova isso. É nesse
limiar que se estruma o futuro estimulando-o. Uma organização teatral como um
Centro Dramático (modelo europeu), como um Teatro Nacional Regional Alemão (com
os mesmos objectivos e estrutura), como um Teatro Público Inglês (qualquer que
seja), como um Teatro Holandês (do Serviço Público Estruturado no país), como
um Teatro Belga ou Suíço de língua alemã ou francesa, ou como um Teatro Stabile
Italiano e por aí fora nos países europeus, é uma organização de tipo
paradigmático – é um modo de estruturar o conhecimento patrimonial e de activar
as condições laboratoriais da criação contemporânea. É uma estrutura de
criação, uma “fábrica” sensível , produz objectos artísticos teatrais e por
razões de massa crítica única, aliada a um potencial artesanal, tecnológico e
logísticas várias, é capaz de políticas de acolhimento únicas, e artística e
culturalmente esclarecidas, à margem de tudo o que sejam imposições do mercado
– o mercado em arte existe na pintura sobretudo, também um equivalente do
dinheiro que se tem no banco a render, mas nas outras artes é apenas o ruído
dos que fazem entretenimento e querem ser reconhecidos artistas. Na arte não
existe lei da procura e da oferta. Se existe um desígnio de evolução e
aprofundamento cultural, de crescimento singularizado de cada cidadão como um
sujeito, não se podem entregar os seus direitos de “acesso à criação e fruição
culturais” a um nivelamento por baixo que facilmente reconhecemos, é um
exemplo, nos programas massivos de entretenimento televisivo. No tempo da
cultura de massas globalizada, na sociedade hiper-massiva de controle, há que
fazer o contrário se há um desígnio real de não considerar a cultura um bem
menor e defendendo a ideia de uma política de estímulos. Não faz sentido
defender uma política de estímulos, apoiar tudo o que são fogachos e
instituições que funcionam como a fachada do regime e praticam uma cultura
orientada para fingir uma normalidade democrática inexistente e não ter
desígnio nenhum, nenhuma meta, nenhum horizonte que se assuma em planos
concretos explicitados e escrutináveis para o corpo da sociedade como um todo,
no livro, no cinema, no teatro, no património, nos museus, na relação entre o ensino
artístico e as profissões artísticas, etc. Não vale a pena conhecer o António
Ferreira da Castro, Gil Vicente, Camões, o Chiado, António José da Silva – os
brasileiros dizem que queimámos o seu primeiro dramaturgo – Garret e Pessoa, a
fundo? Não se praticam porque são anacrónicos e os pós modernos neoliberais só
vêm o futuro em auto-imagem, as suas obras cénicas não são vivificáveis e
conhecíveis as outras publicamente porque potencialmente cénicas? Não é
relevante a política de reportórios das pequenas estruturas de criação que nos
dão a conhecer os europeus Tabori, Brecht, Bernhard, Barker, Pasolini, Koltès e
também Strehler, Bergman, Chéreau, Langhoff, Démarcy-Motta que já nos visitaram
pela via de boas mãos? É por não os conhecerem que não lhes reconhecem
relevância? Venha pois a política de estímulos e a política cultural não dirigista,
não desejamos outra. O que não suportamos é este modo de estimular que asfixia e
que mais se parece com a anedota que Heiner Muller contava: a água estava morna
e a rã sentia-se às mil maravilhas na panela, quando deu por isso, estava
cosida. A estratégia aqui não será exactamente essa, mesmo que Passos Coelho
saiba ser cordial? Na realidade, cá por baixo, onde nós estamos e fazemos
cultura, criadores, divulgadores, animadores e outros, as coisas estão a ser
bem mais violentas, mesmo definitivas.
Fernando Mora Ramos - Encenador português
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