domingo, 30 de junho de 2013

ASSIM VAI A CULTURA ... (5)



Ípsilon - Público - 28 junho 2013


«FITAS E BORLAS»

 
«Para muita gente, muita mesmo, o escrever não é trabalho, é coisa para a qual alguns têm jeito, fazem por gosto, até apreciam que se lhes reconheça a habilidade.
Imagino que com outros aconteça igual, mas por mim falo. Amizade, imposição, chantagem, desavergonhadas pressões, abuso de simpatia, de confiança, parentesco, pedinchice, ao longo de tempo perdi a conta dos textos que escrevi de borla.
Convites, folhetos, boletins de paróquia, comemorações, discursos, pareceres, resenhas, requerimentos, histórias para esta e aquela festividade, anúncios de romaria. De vez em quando recuso firme, pois não me vejo a recomendar um restaurante. Também gosto de ver o interlocutor de cara à banda, quando ele espera ter de graça a satisfação do pedido e lhe anuncio o preço. Alguns, de verdade ingénuos, ficam de boca aberta, realmente não faziam ideia de que a escrita, coisa de que toda a gente é capaz, implicasse pagamento. Mas em particular divertem-me os que querem regatear, pedem desconto, consideram extorsão qualquer tarifa que não seja a mesquinhice que propõem». Continue no Blogue Tempo Contado de J. Rentes de Carvalho

quarta-feira, 26 de junho de 2013

«TRABALHADORES DA CULTURA VÃO FAZER GREVE GERAL»

 

 

«COM TODAS AS LETRAS» | 26 junho | SPA

 
 
 
Dia 26 de Junho | 18h30
Palavras com Som - Literatura e Música
- Sérgio Godinho, músico, escritor e actor
- João de Menezes-Ferreira, ex-crítico de Música e docente universitário
- António Mega Ferreira, jornalista, escritor, investigador, ensaísta e gestor cultural
 

sábado, 22 de junho de 2013

«Défendre la diversité culturelle à l’ère du numérique»

Coalition française pour la diversité culturelle
 
 
«Défendre la diversité culturelle à l’ère du numérique» - veja no site do Ministério da Cultura e da Comunicação de França.

 

«A EXCEPÇÃO CULTURAL, NÃO APENAS EUROPEIA MAS GLOBAL, É UM PRINCÍPIO DECISIVO»


Antes já tinhamos trazido a «excepção cultural» para o Elitário Para Todos. Continuemos com o assunto.   «Durão Barroso diz que excepção cultural exigida por França é “reaccionária”», como se pode ver, por exemplo, no Público online, de onde tiramos o seguinte:
 
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, considerou “reaccionária” a exigência francesa de excluir o sector audiovisual e cultural europeu das negociações para um acordo de comércio livre com os Estados Unidos. O Presidente francês, François Hollande, já reagiu às declarações de Durão e “não queria acreditar” nos termos usados pelo presidente da Comissão Europeia.
(...)
Não quero acreditar que o presidente da Comissão Europeia possa ter feito estas declarações sobre a França, nem que tenha esta opinião sobre os artistas que se exprimiram”, declarou o Presidente francês, François Hollande, aos jornalistas à chegada a Lough Erne (Irlanda do Norte) para a cimeira do G8. “Aquilo que eu exijo ao presidente Barroso é que agora ponha em prática o mandato que lhe foi concedido pelos estados membros”, sublinhou Hollande.
(...)
Miguel Gomes, um dos signatários de uma petição contra o fim da excepção cultural nos acordos de comércio livre entre os EUA e a Europa, lançada na internet a 22 de Abril, não esconde a surpresa pelo teor e pelo tom das declarações do presidente da Comissão Europeia. “O doutor Durão Barroso passou-se”, exclama. “As declarações são absurdas. Considerar reaccionária esta ideia que vinga há vinte anos e que é a base de uma política cultural europeia é que me parece reaccionário. São mais estas questões que aproximam os cidadãos europeus, e menos questões de identidade, dadas as muitas diferenças que existem, por exemplo, entre Portugal e a Finlândia. É em nome destas ideias que existe o projecto europeu”, defende. (...).
 
 E também no Público - Ípsilon - de 21 de Junho, edição impressa, sem link, um artigo de Augusto M. Seabra, Barroso e a Excepção Cultural,   onde se pode ler:
 
 
 
 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

«COM TODAS AS LETRAS» | 19 junho | SPA

 
 
 
 
 
Dia 19 de Junho | 18h30
Palavras Digitais - Literatura e Suportes Digitais
- Pedro Sobral, director de Marketing do Grupo Leya
- André Letria, ilustrador, editor e fundador da Nave Espacial
- Paulo Guinote, professor do Ensino Secundário e cronista do Público
 
 

terça-feira, 18 de junho de 2013

«CAMÕES, A POSSIBILIDADE IMPOSSÍVEL»

 
Publico - 18 junho 2013
 
 
Camões, a possibilidade impossível
Fui ver o António Fonseca a dizer Os Lusíadas, melhor, fui ouvi-lo. Aliás, acabei por ouvê-lo como quem vê no cinema mental daquele que diz o poema, as frases imagens que surgem nos modos vários, performativos e rítmicos, de serem ditas, por vezes em aceleradas vertigens de belicosos feitos, filme logo visibilizado, por vezes puro verbo, ouvido apenas como imagem do próprio som que é coado, dito de modo pausado, lento, palavras surgidas como que na bonança de um momento doce ou alegre a efabular tranquilo, depois de outro e antes de outro, que logo surge precipitado de novo, tal como na vida acontece pela contradição sempre presente que a move, entre a violência do enfrentamento entre interesses antagónicos e a pausa sublime do verdadeiro encontro, amoroso ou ideal, fundador de gestas solidárias e comuns, prazeres maiores, tão maiores que valem a existência.
É uma impossibilidade, uma utopia concretizada dizer os cantos, ou ouvi-los de modo integral, colhendo todas as palavras escritas e ditas, e isso fez-me correr ao Teatro Municipal de São Luís, com o Tejo ali por perto a lembrar-nos sempre o porto de partida e de chegada. Corri, pelo virtuoso feito do António com as palavras de Luís de Camões, mas também pela dimensão do poema que é maior do que possamos ser e somos, já que estaremos aquém do que é, e nele se diz, mas sabendo que nele mergulhando poderemos sempre ganhar novas forças que, mais que nunca, nos fazem falta, neste momento de absoluta miséria nacional, humilhados por um poder imperialista, sem lei e infinitamente maior, que uma burocracia menor e serviçal torna lei imposta e violenta imposição real.
Em que outra situação poderia assim mergulhar na primeira tentativa de balanço integral da minha atribulada identidade, fabulosa, mitologizada e mitificada, variada, múltipla de geografias, plena de músicas e traiçoeiras faltas de vento, de tramóias e alianças, de rimas e de danças, balanço primeiro e incomparável? É um retrato único dessa nossa primeira metade de existência. Do poema para cá a vida tem sido menos plena para esse sujeito colectivo que fomos sendo, agora chegados sabe-se lá onde, a um aparente fim de estrada, guiados por um bando de irresponsáveis que já todos – uma esmagadora maioria nada silenciosa – queremos ver pelas costas.
O desafio do actor corresponde ao ilimitado imaginário dado a conhecer, e feito, que foi a concretização do poema. O gesto do actor é em si um extraordinário acto de resistência e afirmação do que não tem moda possível, a língua assim trabalhada, esse parente pobre de todas as diplomacias económicas, inventadas por um tipo de gente que chegou ao ponto de comparar Pessoa a petróleo – a língua não tem um valor próprio, só atrelada ao específico económico galga um direito de cidade na cabeça destes tecnocratas de ocasião.
Dizer aqueles cantos é certamente obra mais complexa e fisicamente mais dura que escalar um Everest que possamos comparar ao Everest e no entanto fui com a convicção de que a integridade do poema nos era devolvida como foi escrito e como jamais terá sido ouvido – Camões certamente ao escrevê-lo o foi ouvindo, já que o poema tem muitas teatralidades inscritas, sob a forma de figuras e personagens, mas também sob forma rítmica e, por assim dizer, captadora de situações meio reais meio efabuladas – a dimensão fantástica, mitológica é, de facto, de um realismo por vezes mais cruel que a realidade, um fantástico realismo irreal.
E quanto tempo para os poder dizer compreendidos e dados a ouvir, ver e entender, quanto tempo levou o actor a escrever na sua cabeça o que diz? É de facto um grande feito e a mais bela comemoração que alguma vez pude fruir num 10 de Junho. Estás de parabéns, António.

Saber entretanto que este trabalho enorme foi pela DGArtes rejeitado num concurso pontual - pontual, vejam bem - pois não corresponderia aos objectivos da internacionalização lá metida num parâmetro de avaliação que não vai mais longe do que pode a cabeça, viciada em dívida, de quem o pariu, é revoltante. Então, a circulação deste trabalho no Brasil e pelos países de língua oficial portuguesa, ou mesmo nas Europas latinas, não tem a ver com a internacionalização da cultura portuguesa? Então a nossa internacionalização é ir falar inglês para Israel, ou fazer uma performativíssima pantomima de manguitos envolvidos em crochet, ou coisa no género? De facto lá onde está a caravela e a nau, já só vêem o cacilheiro.
Alegrou-me entretanto o facto de saber que em Elvas o povo se portou à altura.
Fernando Mora Ramos

segunda-feira, 17 de junho de 2013

GRANTA




Granta 1
Esta não é uma revista de actualidade,
 nem jornalística.  Pode haver contos, ensaios
ou reportagens, mas os textos têm valor por si,  pelo
 lado literário. Haverá textos inéditos de autores que
 já morreram e ensaios fotográficos. E haverá
espaço para se publicarem pessoas com talento e
que ainda não tenham sido publicadas: a Granta
 tem desde sempre esse papel de revelar novos
autores.

Sobre a Granta uma entrevista com o Director Carlos Vaz Marques na Agenda Cultural de Lisboa. Excertos:

«(...)
Como surgiu a ideia de trazer a Granta para Portugal?Terá começado quando descobri haver no Brasil uma edição da Granta, o que me levou a pensar ser possível editar a revista fora da língua inglesa. Simultaneamente, a Barbara Bulhosa, da editora Tinta-da-China, já me tinha desafiado no sentido de virmos a editar uma revista literária e, quando eu chego do Brasil entusiasmadíssimo com aquela descoberta, começámos a projetar a hipótese de fazer uma Granta portuguesa. Entretanto, o tempo passou e não falámos mais no assunto mas, em 2012, a Bárbara vai ao Rio de Janeiro e conhece, por um mero acaso, o editor internacional da revista, o norte-americano John Freeman. Pode-se dizer que, a partir dai, começou a ser viável concretizar a ideia…
Beneficiando do processo de internacionalização da revista…
Que terá começado há uns anos, presumo que, com a Granta em língua espanhola. Agora, há mais uma série delas, nomeadamente a chinesa, lançada em abril deste ano, e a turca, que irá sair também este mês. Se juntarmos às edições já referidas, a italiana ou as nórdicas, vemos estar a formar-se uma família global Granta.
(...)
A Granta portuguesa vai seguir a fórmula das edições internacionais?No formato é idêntica à Granta de língua inglesa, incluindo textos inéditos em prosa e verso e portfólio fotográfico, sem recensões literárias nem entrevistas, pelo menos no formato mais tradicional. Como acontece com as edições em outras linguas, o contrato estipula que cerca de metade da revista inclua conteúdos provenientes da “casa mãe”. Ao contrário do que possa parecer, isto não é uma desvantagem, até porque não têm de ser textos da última edição. Deste modo, poderemos publicar, pela primeira vez em português, textos extraordinários do baú da Granta assinados por escritores como Salman Rushdie, Saul Bellow, Martin Amis...
E por falar em notáveis, este número inaugural inclui inéditos de Fernando Pessoa…
Foi uma circunstância feliz. Há uns tempos, quando entrevistei o Jerónimo Pizarro [investigador colombiano, especialista em Pessoa] perguntei-lhe quantos inéditos ainda existiriam no espólio pessoano, tendo respondido que uma grande parte da poesia inglesa nunca foi tocada e nos mais de 30 mil papéis encontrados talvez só metade tenha ainda sido tratada. Mais tarde, voltámos a falar e desafiei-o a indicar-me se existiria matéria entre os inéditos que se poderia enquadrar no espírito da Granta. Apareceu-me então com cinco sonetos inéditos e mais três que têm uma leitura diferente da que até agora conhecíamos.
(...)»

E o endereço no Facebook. E o da Granta em lingua inglesa.
Tudo isto porque já tenho a GRANTA Portugal n.º1, e penso que é a não perder. Dito por quem não é das «literaturas» ...

domingo, 16 de junho de 2013

APOIOS ÀS ARTES ATRAVÉS DA DGARTES: PARA NÃO SE PERDER «O FIO À MEADA»


 
 
 
A 21 de maio tinhamos feito um ponto de situação dos apoios às artes através da DGARTES: APOIOS ÀS ARTES ATRAVÉS DA DGARTES: EM BUSCA DE UM PONTO DE SITUAÇÃO
Via alertas Google soubemos que há novos desenvolvimentos, que aliás já têm uma semana. Sobre o que aconteceu a notícia da TSF  «Teatro: Direção-Geral das Artes mantém apoios na decisão final» :
 

«A Direção-Geral das Artes (DGArtes) mantém na decisão final a atribuição dos apoios na área do Teatro, depois das várias contestações do setor, nomeadamente do Teatro Aberto que afirmou correr o risco de encerrar.
A decisão final foi publicada 'on-line' na sexta-feira ao final da noite no portal da DGArtes, mantendo os valores dos apoios financeiros já anunciados para as diferentes companhias, apesar da contestação de algumas entidades artísticas cujo recurso foi analisado pelo júri, que não viu em nenhum caso razão para alterar o decidido.
Entre essas companhias encontra-se o Teatro Aberto, em Lisboa, que afirmou na sessão pública organizada no passado dia 28 de maio que ia «recorrer, por todos os meios legais», para contestar a decisão.
Na ata da Comissão de Apreciação, divulgada no portal da DGArtes, foram analisadas todas as contestações apresentadas, tendo por unanimidade uma a uma sido contra argumentada pela comissão à luz do Regulamento das Modalidades de Apoio Direto às Artes». +
 
E procurámos no site da DGARTES a decisão final,  se quiser ler, aqui estão as coordenadas:
 «TEATRO

Consulte
aqui os resultados finais na área do teatro.
Consulte
aqui os documentos necessários à contratualização.»
 
 

sábado, 15 de junho de 2013

CONHECER O SETOR DAS ARTES

 
 
 
 
Tivemos conheciento do Relatório da imagem via twitter, e ao trazê-lo para aqui a ideia é simples: lembrar que conhecer os setores é fundamental para se agir. Pegando nestes dados, por exemplo,  o que é que lhe corresponde em Portugal?  Alguns excertos do que pode ver na integra  :
 
«(...)
According to this data, full-time employees earn an average annual salary of just over $66,000. Eighty-six percent of the full-time respondents were white and 72 percent were female. Full-time employees had an average approximate age of 52.5 years, and 91 percent of them have a college degree. Salaries of staff at city agencies averaged about $5,000 more than at county agencies and about $10,000 more than at multi-county agencies. Salaries increased by budget size, number of people in the service region, and number of employees. (...)».
 
 
 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

«SÓ COM O BORDA d' ÁGUA SE COMPREENDE O RACIOCÍNIO E A ESTRATÉGIA DO GOVERNO»

 
 
 
Bruno Dias deputado do PCP 
 

«Durante a comissão parlamentar de Economia, o deputado do PCP Bruno Dias utilizou o almanaque Borda D'Água para ironizar como funciona o "elemento central da estratégia do Governo". Com as "previsões meteorológicas" e as analogias à estratégia do Governo, o deputado comunista arrancou gargalhadas ao ministro e aos secretários de Estado».   tirado daqui.

 

terça-feira, 11 de junho de 2013

«COM TODAS AS LETRAS»



Com-todas-letras_site
 
 
 
 
Dia 12 de Junho | 18h30
Palavras em Três Dimensões - Literatura e Cinema
- Jorge Leitão Ramos, crítico de Cinema e professor do Ensino Secundário
- António de Macedo, realizador, investigador, docente universitário e escritor
- João Tordo, escritor, guionista e formador na área da Literatura
 

« A EXCEPÇÃO CULTURAL NÃO É NEGOCIÁVEL»

No jornal Público de hoje um trabalho com o titulo «A EXCEPÇÃO  CULTURAL NÃO É NEGOCIÁVEL» (não disponível online) começa assim: No próximo dia 14 de Junho, a Europa pode entrar numa nova era, em que a política abdica frente à lógica de mercado e sacrifica um dos seus bens mais preciosos: a cultura. No próximo dia 14 de Junho, data da adopção pela Comissão Europeia do mandato definitivo de negociação do acordo de comércio livre entre Europa e Estados Unidos, é o direito dos Estados em apoiar a sua cultura, a sua criação, que está em jogo. Chama a atenção para o movimento  que vem a agregar grandes figuras da cultura europeia e que já foi objeto de uma petição, como pode ver através do site da SPA, onde se pode ver o que está em causa. E termina deste modo o que hoje é publicado no Público:




sábado, 8 de junho de 2013

«SERVIDÕES»

 

Sinopse
O mais recente livro de Herberto Helder.
«como se atira o dardo com o corpo todo,
com a eternidade em não mais que nada,
e depois a abolição do tempo,
e então o que respira no corpo passa à vara,
e o que respira na vara passa depois à ponta,
tu não, tu já respiraste tudo pelo dardo fora,
mudo e cego e surdo,
e és um só ponto do alvo onde respiras todo,
e tudo respira nesse ponto,
em ti, veia da terra, oh
sangue sensível»

mais aqui
 
 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

TEATRO, ABERTO OU FECHÁ-LO




Publicado no Jornal Público de hoje, 3 de junho de 2013

Teatro, Aberto ou fechá-lo
Lamentavelmente e ao contrário da Europa – que virou costas ao que melhor foi – não tivemos, em momento nenhum, políticas decisivas de estruturação do teatro. Os que projectaram a tradição teatral no pós-guerra para patamares organizativos contemporâneos foram a Itália, a Inglaterra, a Alemanha e a França (e uns países satélites, dizendo assim, sem acinte), com os teatros nacionais, com os teatros públicos das capitais regionais e das regiões, com os centros dramáticos, com os stabile. Nesses países o teatro resiste, com dificuldade diga-se, e na Alemanha, mãe da tragédia da austeridade que se impôs, o teatro resiste em níveis de estruturação orgânica que estão longe de ter sido definitivamente assaltados pela deriva anti-cultural do financismo que impera, isto é, nestas estruturas a criação teatral ainda é possível, ela habita-as, é o seu pulso anímico. Ainda há pouco a Senhora Merkel reforçou a verba do Estado Federal para o orçamento cultural berlinense, num valor que aqui alimentaria umas dezenas de equipas de criação – os outros que empobreçam pois o nosso modelo não prescinde da cultura, dirá a Senhora Merkel, eles que comam desemprego e engulam o 25 de Abril que fizeram.
Só em um momento do processo democrático português essa estruturação aflorou, com Carrilho e Nery, quando se esboçaram os Centros Regionais das Artes do Espectáculo que logo regrediram para dimensões organizativas mais funcionais do que estruturantes de uma actividade específica de criação. O que o após segunda guerra trouxe ao teatro que então se projectou no futuro (o nosso pós guerra começa em 1974) foi essa consciência de que um património com mais de 2500 anos de realizações dramáticas, arquitectónicas e espectaculares – de Ésquilo, actor e dramaturgo, a Brecht, dramaturgo, encenador, teórico, autor – aliado a uma nova disciplina, a encenação (com meio século de história) para se inscrever nesse presente teria de encontrar escala e modelos organizativos que a história jamais conhecera. São essa escala e esse modelo que encontraram na expressão Centro Dramático o nome adequado. Centro da actividade interdisciplinar artística do teatro, centro motor de uma revisitação constante da memória identitária do teatro numa perspectiva das suas “traduções” contemporâneas e centro das experiências formais do presente – das escritas do corpo e da cena - que criam futuro.
O trabalho da forma é aquele que é específico do fazer teatro e mesmo a actualidade dos clássicos passa justamente por um trabalho da forma que não os modernize epidermicamente, mas que justamente estabeleça uma relação aprofundada entre os tempos em jogo, esse da memória e o presente em fluxo que o revisita e recria – terá sentido apagar Édipo, Antígona, Electra, essa mitologia que nos fala, da inteligência das coisas a que os que estão por vir têm direito? Só uma estrutura complexa pode ser o centro de criação das diversidades da identidade do teatro, entre a sua memória e o seu futuro. Competências científicas, competências técnicas ancestrais e tecnológicas, competências literárias, competências culturais e especificamente históricas, ligadas a um conhecimento profundo do que lhe é próprio constituiriam essa identidade propulsora das novas estruturas. Nada, por aqui, deste modo aconteceu. O nosso teatro refez-se precário e as “companhias” são a sua forma possível, foram, têm sido. O mais longe que se foi, deste ponto de vista que aqui expresso, chamou-se Teatro Nacional de São João. O teatro que se foi fazendo, com esforço e persistência denodados, inovador e corajoso, resistindo ao fácil comercial e divulgando novas dramaturgias, mesmo experimentando-se para além de uma determinante textual, foi um teatro que assentou desde Abril em personalidades, em Directores teatrais, com equipas, mas com pequenas equipas e numa escala que está longe dessa outra que referi e que, obviamente, foi, nessa Europa que ainda resiste nalguns teatros ainda europeus, a solução adequada a uma verdadeira inscrição da identidade teatral nas democracias saídas directamente das fumegantes ruínas.
O que temos agora aqui, pela frente? Um governo inculto que pretende liquidar o que Abril ainda não cumprira como a constituição prevê. Não só a indiferença do Ministro das Finanças, aliada ao gosto, no mínimo suspeito, do Primeiro-ministro, têm produzido uma verdadeira política de desprezo pelas artes - em que, a contra corrente, ressaltam as operações da artista plástica Joana Vasconcelos – como, na DGArtes, se instalou um verdadeiro bando dos 4, para lembrar a viúva aguerrida do grande líder, a fazer a sua revolução cultural geracional. Têm uma política de terra queimada na cabeça e querem impor um gosto próprio, que nada deve à cultura e tudo aos mitos de marketing emergente em fundamentação.
Este assalto, verdadeira tentativa de homicídio do teatro, feito ao Teatro Aberto, visa fechá-lo. E até terão certamente uma ideia para o edifício, ou um negócio a propor. Mas este assalto, este acto de destruição selvagem, também suportado por um SEC que os homologou e que parece apenas correr atrás das cerimónias e prémios, entrevistas e viagens de Estado, é, no corpo do Teatro Aberto, um ataque ao teatro e à democracia, a todos nós, aqueles que querem impedir um regresso civilizacional e uma nova ditadura em que as artes estejam para a cidade inexistente, quanto a caridade substitua as funções sociais do Estado. É esta a perspectiva desta direita ultraliberal que Álvaro Cunhal, se fosse vivo, talvez não evitasse chamar de liberal-fascistas, como em tempos chamou a outros que talvez fossem até, genuinamente, mais democratas. A democracia é uma questão de convicções, ciência possível e sentimentos, genuinidade. Quem hoje está no poder não para diante de nada, é voraz na sua cegueira – o que se nota é de facto um apego e uma sede de poder para além de qualquer projecto.
 Fernando Mora Ramos  

domingo, 2 de junho de 2013

PARA QUE SERVE A CULTURA ? (3)



A cultura não existe para enfeitar a vida, mas sim para a transformar – para que o homem possa construir e construir-se em consciência, em verdade e liberdade e em justiça. E, se o homem é capaz de criar a revolução, é exactamente porque é capaz de criar a cultura”.


Sophia de Mello Breyner no seu discurso na Assembleia Constituinte
 a 2 de Setembro de 1975 

  Tirado de  Em busca do tempo perdido
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sábado, 1 de junho de 2013

POVOS UNIDOS CONTRA A TROIKA



 
rabiscos vieira
 
 
EM LISBOA | ENTRECAMPOS | 17 HORAS

 

NO DIA 30 DE MAIO NA AULA MAGNA EM LISBOA | JOÃO FERREIRA - Deputado do PCP ao Parlamento Europeu



«(...)
A política alternativa de que o país precisa é inseparável da luta dos trabalhadores e do povo, do exercício pleno dos seus direitos constitucionais, incluindo o direito de resistência, da defesa da democracia e das liberdades.
A situação do país e a solução para os problemas nacionais reclama a convergência das forças, sectores e personalidades democráticas que, sem prejuízo de posicionamentos diferenciados e admitindo essas diferenças, partilhem o objectivo de romper com a política de direita, que há mais de 30 anos vem avolumando os problemas nacionais, e que se manifestem genuinamente empenhados na construção de uma política alternativa, patriótica e de esquerda. Uma política que se vincule aos valores de Abril e os projecte no presente e no futuro de Portugal». O discurso integral.