Recorte da edição impressa do Jornal Público de 1 SET 2015
«Numa análise dos programas dos partidos políticos com vocação
parlamentar ou executiva torna-se evidente que, para estes, o Estado tem
interesse e legitimidade em intervir naquilo que consensualmente se designa
como "cultura", embora o termo em si tenha um significado tão
flutuante que pode integrar as maiores contradições.
Não é por isso de
estranhar que na redacção destes textos se apresente a estrutura do Ministério
dos Assuntos Culturais seguindo o modelo criado em França por André Malraux no
pós-guerra, assumido pela maioria dos Estados europeus, sul-americanos,
africanos e canadiano, com diferenciações importantes no universo anglófono e
contrastando em muito com o americano e em parte com o asiático.
Esta
estrutura comum não obsta a que não haja divergências nas propostas
programáticas, nomeadamente no que separa os partidos de esquerda e de direita.
Durante anos a direita sobrevalorizou o património contra a arte contemporânea,
que, por sua vez, era prioritária nas políticas de esquerda. Esta oposição,
aparentemente muito simplificada, sempre existiu e, embora hoje pareça
diluir-se, ainda subsiste no modo de uso». Continue a ler.
Como sempre, é com grande disponibilidade que vamos à leitura dos textos de António Pinto Ribeiro, concorde-se ou discorde-se, são coisa pensada, e levam-nos, em regra, a direcionar a nossa atenção, mesmo que, por vezes, de forma breve, para esta ou aquela temática. Sem esgotarmos o que agora poderíamos assinalar:
- Lá temos outra vez Malraux, e não percebemos aquele segundo parágrafo, talvez o conseguíssemos se nos fosse apresentada alternativa para se desenharem as Politicas Públicas na esfera da «Cultura», quiçá para todo o Setor Público, diferente dos roteiros que são adotados. Não nos parece que haja um roteiro comum, muito menos um modelo conceptual, e até pode dizer-se que em todos os programas - e isto a nosso ver já vem de uns tempos atrás - não são as «estruturas» as organizadoras das Políticas Públicas que apresentam. Está bem, ainda andam por lá ... Assim sendo, para o caso da «Cultura», justiça seja feita, vendo bem, não é a orgânica do «Ministério de Malraux» que determina o que nos é dado ler na generalidade dos programas. Mas, por outro lado, haverá aspectos que serão eternos ... Ainda bem.
- Talvez não possamos falar em modelos, e em roteiros comuns, mas para as práticas que nos são mostradas, modernas ou datadas, o pensamento de quem analisa e o que é analisado só seria passível de entendimento amplo se, previamente, fosse apresentada uma grelha de análise que cobrisse o «que não se diz» e o que está «nos anúncios». Que permitisse verdadeiras comparações. Mesmo os tais «benchmarkings». E não ficarmos prisioneiros das lógicas adoptadas embora se denunciem e se tente - mas parece-nos que na essência se fica pela tentativa - o contrário.
- Há uma passagem no artigo de António Pinto Ribeiro que acolhemos de forma especial. Quando refere os Verdes - «Os Verdes
associados ao PCP e que têm no
seu manifesto a defesa de uma vida
ecológica deveriam produzir algum
pensamento sobre esta questão» - mas não para os incumbir da grandiosa questão segundo António Pinto Ribeiro: «O que quer dizer “povo”
aqui? A classe média suburbana?
Os desempregados? Ou é um povo
idealizado, mas que na verdade
não existe? Perante um programa
de entretenimento medíocre das
televisões e uma remota festa de
origem operária que escolherá
este “povo” do século XXI? É um
dilema do PCP que é um dilema
de toda a esquerda». Deixemos que os visados respondam, se for caso disso, agora que começaram os debates. Mas isto, vá lá saber-se a razão, levou-nos à expressão - verdadeiro pensamento - «Elitário Para Todos», e achamos que faz sentido trazer para aqui o que Fernando Mora Ramos escreveu quando iniciámos este blogue com o titulo, isso mesmo, ELITÁRIO PARA TODOS (pois é, e lá vamos outra vez a França):
«ELITÁRIO PARA TODOS - Trata-se de uma máxima de Antoine Vitez. Contrapõe ao nivelamento por baixo, tão argumentado pelos arautos dos diversos populismos estéticos, o nivelamento por cima. É uma fórmula de extrema simplicidade e poderosa, já que dificilmente pode ser contraditada, pois ninguém defende com razão possível que ao melhor e ao mais rigoroso se substitua o menos bom e imediatamente digerível. E nela se encerra todo um programa». Continue a ler.
Mas voltemos aos VERDES, e convocamos os Verdes, isso sim, para se mudar de paradigma na construção das Politicas Públicas, e que se façam em torno do DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL («sustentabilidade», «verde», serão outras formas de o dizer). Uma «vida ecológica» no século XXI é uma vida que segue a SUSTENTABILIDADE e que contempla ao mesmo tempo a «economia», o «social», o «ambiente», a «governação», a «cultura». Nisto está empenhada a ONU e, em particular, no que diz respeito à Cultura, a UNESCO. Isto não estará de forma expressa no Ministério dos Assuntos Culturais de Malraux, mas é capaz de dar um jeitão ler o que ele escreveu e praticou, para operacionalizarmos a dimensão CULTURA no desenvolvimento sustentável. No século XXI.
- Também gostámos de ver mencionado no artigo de António Pinto Ribeiro o «Orçamento Base-Zero», quase promovido a «filosofia» e, como adepta ferrenha que somos da técnica, aproveitemos a boleia para aplaudirmos que se deixe de fazer «Programas Eleitorais» como sempre foram feitos, e tornemo-los objetos «culturais» que todos sintam necessidade de ler, e de forma ágil ... Adoptando o «Orçamento base-zero» e técnicas afins. E isto já foi defendido e praticado no passado, e na cultura. Nomeadamente no Verão Quente: quem diria !