Paulo Cunha e Silva morreu. E custa acreditar. Em sua lembrança, foi Diretor do Instituto das Artes (IA) que juntou o IPAE - Instituto Português das Artes do Espectáculo ao IAC - Instituto de Arte Contemporânea. Sou levada a dizer, até pelos artigos que publicou na imprensa antes de assumir aquele cargo, que gostou desta fusão, e que se via diretor dela, e assim aconteceu. Estou em crer que haveria umas artes que lhe «entravam mais no corpo» do que outras, mas isso acontecerá a qualquer um. E até penso que consciente disso, no exercício da sua função, racionalmente, precavia-se (não sei se o atingia integralmente) para que tal não tivesse impacto na atividade do instituto. Foi na sua qualidade de diretor do IA que conheci Paulo Cunha e Silva, como trabalhadora em funções públicas, assessora, e a nossa relação pode ser avaliada pelo que amigos me dizem quando se comentava/comenta o seu trabalho: «bem sabemos que gostas dele». É verdade, e esse «gosto» quer dizer desde logo que me fascinava aquele pensamento sem fronteiras. Melhor dizendo, aquela inteligência fora de catálogo. Em particular, sempre me suscitou curiosidade a sua capacidade seletiva na fase da concretização, como que ao abrigo de uma lei natural que não estava ao alcance de todos, cuja justeza o futuro se encarregaria de validar.
Paulo Cunha e Silva fez um «IA cheio»: de ideias, de pessoas, nomeadamente jovens, que pensava de alguma forma talentosos - ou da massa de que eles se fazem -, de informação, de projetos, de atividades aparentemente avulsas, de cruzamentos, de viagens, de ... . Embora quase sempre concordasse com a «assessora», nem sempre seguiu o que propunha. E chegávamos a rir disso mesmo. Mas havia o futuro... A realidade, cruel: no IA o tempo foi curto, como o foi agora, de forma terrível, na Câmara do Porto.
Neste momento, ocorrem-me conversas que tivemos, sem ser, naturalmente, o visado, sobre a forma de fixar heranças destas. E já nas suas funções de vereador o mesmo me veio à ideia. Por outro lado, andava a pensar na maneira de saber como é que ele via neste momento a cultura e as artes a partir da Administração Central, e como conceptualmente as articulava com o Local, em especial com a «sua cidade». Como poderia aproveitar estudos que estimulou na sua passagem pelo IA e que ficaram para o futuro ...
Quando se despediu dos trabalhadores do Instituto, Paulo Cunha e Silva já não me encontrou no gabinete, e restou-me uma mensagem no telemóvel, a dizer que tinha deixado «o melhor bocado para o fim» ... Ao seu jeito, em todas as ocasiões, frase que nos fique na memória. Prometo, em «troca» vou cuidar para que da sua passagem «por diretor» fique rasto ... Para AGORA !
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