sexta-feira, 30 de maio de 2014

UM APELO ALGO INSÓLITO | «Reconhecer na cultura um papel político central na Europa»





Conforme divulgámos no Elitário Para Todos no post  «L’avenir de la culture, un projet collectif européen» | 4 e 5 ABRIL 2014, nesta data realizou-se o Fórum Europeu de Chaillot. Curiosamente no passado dia 26 - por coincidência no dia seguinte às eleições Europeias, e certamente não por acaso -  no jornal Público, como matéria de opinião, podia ler-se  o  apelo da imagem seguinte que está disponível online. Aqui.


Como se pode ver, é assinado pelos seguintes governantes:

Jorge Barreto Xavier, Secretário de Estado da Cultura de Portugal
Šarunas Birutis, Ministro da Cultura da Lituânia
Aurélie Filippetti, Ministra da Cultura e Comunicação de França
Dario Franceschini, Ministro do Património, Cultura e Turismo de Itália
Monika Gruters, Ministra da Cultura e dos Media da Alemanha
Uroš Grlic, Ministro da Cultura da Eslovénia
Costas Kadis, Ministro da Educação e Cultura de Chipre
Dace Melbarde, Ministra da Cultura da Letónia
Fadila Laanan, Ministra da Cultura, do Audiovisual, Saúde e Igualdade de Oportunidades da Bélgica
Ivan Secik, Secretário de Estado da Cultura da Eslováquia
Petar Stoyanovich, Ministro da Cultura da Bulgária
Andrea Zlatar Violic, Ministra da Cultura da Croácia

Enfim, não se pode dizer que o texto  seja o texto que se espera de responsáveis institucionais da cultura. Defendem-na, a cultura, em função do seu impacto na economia, em torno das famigeradas indústrias criativas, e eixos afins. E  palavras de destaque são concorrência, fiscalidade, solidariedade, digital, ..., enfim, palavras que certamente podem ser organizadoras de boas causas, mas a CULTURA e as  ARTES como desígnio, na circunstância EUROPEU, têm de encontrar outras palavras e outros caminhos. E não ficar assim como que rente ao chão.
E há passagens que na perspectiva nacional não deixam de ser delirantes, como esta (destaques nossos):

«Por esta razão, os setores culturais não devem ser uma variável de ajustamento na crise. Não devemos esquecer que os setores criativos são para a Europa uma mais-valia numa economia mundial fundada na inovação e na criatividade. Numerosos estudos já demonstraram que a cultura cria atividade e emprego. Segundo a Comissão Europeia, as indústrias culturais e criativas representam 4,5 % do PIB europeu e 8 milhões de empregos no continente. A cultura é um setor dinâmico, voltado para o risco e para a criatividade, um setor em que a necessidade de inovação envolve muitos outros setores. Necessitamos de encorajar este dinamismo através de políticas mais proactivas».

Mas o que é que o Secretário de Estado da Cultura português tem feito para que não haja cortes cegos na Cultura ? Não é ele o primeiro a justificar o injustificável no que diz respeito aos orçamentos para a Cultura e as Artes? Bom, perante  isto,  é melhor  rir do que chorar ... .
Já agora, recomendamos que os signatários do apelo leiam o livrinho da imagem abaixo porque quer se concorde ou discorde é outra coisa: tem passado, reflexão, e aponta futuros. E o autor até conheceu aqueles meandros do Parlamento Europeu ... .


A propósito, da pg. 40: «Os políticos europeus têm dissertado largamente sobre a importância desse património, quer para a identidade  nacional, quer para uma identidade europeia, e costumam empreender correlativamente a discussão da dimensão económica essencial das indústrias culturais e de outras actividades culturais correntes.
Mas é inevitável que, por maior que seja a seriedade destas abordagens, eles sabem que não vão aproximar-se de uma verdadeira solução». Como estamos em crise, e sem dinheiro para o «luxo» que passou a ser comprar livros, lembre-se que este é em conta. Saiba mais aqui.


sexta-feira, 23 de maio de 2014

«ESTA EUROPA DESVAIRADA»


«A RIQUEZA OCULTA DAS NAÇÕES»



«Um pequeno livro que vale dez volumes de teses sobre a globalização financeira», escreve o La Croix sobre «A Riqueza Oculta das Nações», editado pela Temas & Debates/Círculo de Leitores, do jovem economista francês Gabriel Zucman. Leia mais



segunda-feira, 19 de maio de 2014

CONCURSOS PARA DIRIGENTES NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA | «é normal»



Semanário EXPRESSO de 17 de Maio de 2014

E já que estamos outra vez com os concursos para as administrações públicas, mais uma semana que passa e dos Dirigentes que faltam para Organismos da Cultura, nada!
Também deve ser normal. Se bem nos lembramos, uma das críticas ao sistema anterior era que demorava muito tempo. Volte o sistema, estão perdoados ... . Assim, como assim, ... não se tinha por bom, um processo que era mau ... .



domingo, 18 de maio de 2014

ARTE ÚTIL



Uma maneira de assinalarmos o DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS:



                                                                                            
Leia aqui, na Arte Capital,

QUAL É A UTILIDADE? MUSEUS ASSUMEM PRÁTICA SOCIAL

SAM THORNE

2014-04-17

, donde:



«(...)

Como Bruguera sabe, o termo “arte útil” não é novo. Em 1969, o artista argentino Eduardo Costa escreveu o ‘Manifesto de Arte Útil’, descrevendo o primeiro daqueles a que chamou ‘Objectos de Arte Úteis”. Estes incluíam comprar substitutos para os sinais de trânsito em falta no centro de Manhattan e pintar uma estação de metro na 5ª Avenida. O impulso até pode ser encontrado mais atrás: nos EUA, no argumento de John Dewey no seu livro Art as Experience (1934), de que nada é mais útil que a arte; ou no Reino Unido, a John Ruskin, que advertiu celebremente em The Stones of Venice (1853) que ‘as coisas mais bonitas no mundo são as mais inúteis’. Hoje, Ruskin é qualquer coisa como um espírito guia para o Grizedale Arts, em Lake District. As suas abordagens reformistas influenciam as suas enérgicas actividades, como a loja de solidariedade e a biblioteca desenhada por Liam Gillick que instalaram no seu Instituto Coniston local, que o próprio Ruskin ajudou a reconstruir em 1878. Grizedale foi um dos diversos parceiros do ‘Museum of Arte Útil’, que temporariamente transfigurou o velho edifício Van Abbe no que foi descrito como uma ‘fábrica social’.
Desenvolvido em conversa com Bruguera, este projecto despoletou um número de questões prementes, incluindo como é que ‘usamos’ um museu? E, se o museu público se mantém essencialmente uma instituição de finais do século XVIII, como é que o tornamos relevante hoje? Numa entrevista projectada numa das galerias, o director do Van Abbe, Charles Esche, pediu nada menos do que a ‘abolição do museu como ele existe actualmente’. Num ensaio comissionado para o ‘Museum of Arte Útil’, o teórico Stephen Wright afirmou que as décadas
recentes viram uma ‘viragem usológica’. Se esta frase tão pouco atractiva vai vingar ou não (eu voto não), um aspecto importante deste projecto provocativo é uma mudança de termos. ‘Espectadores’ tornam-se ‘utilizadores’; os trabalhos são ‘iniciados por’ e não ‘da autoria de’, e foram ordenados de acordo com categorias – embora, deva dizer-se, soando ligeiramente a anos 1990 – actualizadas: ‘A-Legal’, ‘Space Hack’, ‘Open Access’. Isto não era tanto um novo museu, mas uma paródia às classificações autoritárias de outrora. Com a própria galeria de Bruguera presente no ‘Museum of
Arte Útil’, intitulada ‘Quarto da Propaganda, Legitimação e Crença’, o projecto era na maior parte um gozo – o zelo ficou em intermitência messiânica. Era o som, nem sempre agradável, do museu a pensar acerca de si mesmo e sobre o que pode significar utilidade».

Sam Thorne 
Director artístico da Tate St Ives, Reino Unido, e director fundador da Open School East. 

sexta-feira, 16 de maio de 2014

DGARTES | Os valores mais baixos da década no financiamento das artes





Destaque-se:«Devido a uma simultânea reorganização dos modelos de financiamento e das lógicas distributivas, é difícil aferir com rigor quanto desta flutuação negativa que em 2012 ultrapassou os 47% corresponde a um decréscimo efectivo do investimento na criação contemporânea (isto não pensando em áreas como o património, as bibliotecas e arquivos, teatros nacionais…)».

quinta-feira, 15 de maio de 2014

GOSTO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS E DAS COISAS BEM FEITAS

 


Montagem a partir do relatório que ESTÁ DISPONÍVEL AQUI
O capitulo da CULTURA E EDUCAÇÃO
começa na Página 133 (na web).


«GOSTO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS E DAS COISAS BEM FEITAS» é o titulo deste post. Na minha apreciação,  é isso que acontece, ao mesmo tempo,  neste Balanço da intervenção dos deputados do PCP no Parlamento Europeu de  2009-2014. Que os demais o façam, com esta amplitude e transparência, a bem da qualidade da DEMOCRACIA. 

 


quarta-feira, 14 de maio de 2014

E COMO ESTAMOS DE «MIRÓS» ?

Para não se perder «o fio à meada», e para os que não deram pelo artigo de opinião «Miró em Portugal para salvaguarda do Estado», de José Jorge Letria, no Público online, do dia 7 deste mês,  aqui deixamos o alerta. Um excerto:
 
 «(..)
Esta desafiadora complexidade veio justamente configurar-se como o oposto da  linearidade de um secretário de Estado, num governo sem dinheiro nem particular interesse pela cultura e pelos seus artistas e criadores. Todo este “negócio” tem sido revelador do modo como a governação lida mal com este tipo de problemas e não tem uma ideia justa acerca do contributo da arte para que um povo há quase nove séculos soberano possa conviver com a arte, numa perspectiva orientada para a defesa do património nacional. Mas sobre isso têm corrido nesta secção do “Público”rios de tinta que Miró, pela certa, muito gostaria de poder usar no universo plástico das suas telas mágicas. (...)». Leia na integra.





E aproveitemos para coisas agradáveis, como, por exemplo,  um visita ao site da Fundação Miró em Barcelona, onde podemos saber que de 8 de maio a 2 de novembro de 2014 «La Fundació Joan Miró presenta De Miró a Barcelona, una exposició sobre l’obra de Joan Miró a l’espai públic de la ciutat». Saiba mais.




terça-feira, 13 de maio de 2014

«A EUROPA PRECISA DE VÁRIAS POLÍTICAS CULTURAIS» | António Pinto Ribeiro

Jornal Público - 2014.Maio 2


INDÚSTRIA É INDÚSTRIA | As Industrias Criativas nos EUA



Já deu para entender que para muitos, cá pela Europa, «tudo é CULTURA».  E desta forma arrumam discussões sérias, nomeadamente sobre o SERVIÇO PÚBLICO EM CULTURA. Mas também, bem vistas as coisas, nem sequer favorecem o discurso  na perspectiva da indústria, ela mesma, ao quererem meter tudo num grande caldeirão. Voltamos a pensar nisto ao vermos no site da Americans for the Arts (renovado) esta definição:
«Defining the Creative Industries
We have taken a conservative approach to defining the Creative Industries by focusing solely on businesses involved in the production or distribution of the arts. For the purposes of this study, the Creative Industries are composed of arts-centric businesses that range from nonprofit museums, symphonies, and theaters to for-profit film, architecture, and advertising companies. We have guarded against overstatement of the sector by excluding industries such as computer programming and scientific research—both creative, but not focused on the arts».
Ilustração:
Common SIC Codes for Nonprofit Arts Organizations
view a complete list (PDF, 153 KB)
Organization Type
8-Digit SIC Code
Arts Council
86999902
Government Agency (e.g., Department of Cultural Affairs) (same SIC code as Arts Council)
86999902
Museum
84129902
Arts or Science Center
84120102
Art Gallery, non-commercial
84120101
Art School, non-commercial
82990101
Symphony Orchestra
79290111
Summer Theater
79220306
Opera Company
79220303
Theatrical Company
79220300
Performing Arts Center Production
79220203
Community Theater Production
79220202
Ballet Production
79220201
Dance Studios, Schools, and Halls
79110000
Theater Building, ownership and operation
65120302
Pois é,  gosto daquela abordagem «com fins lucrativos»/«sem fins lucrativos», «comercial/não comercial», «estatal/mercado». Separar águas é preciso, e possível. Mesmo que não propusesse as escolhas feitas.  E revejo-me em estudos em que todos participam, e que se inserem em processos que querem levar à disponibilização de informação em tempo real e online. Há que democratizar o acesso aos dados e à informação porque sem isso o conhecimento fica distante. Individual e coletivo. E por esta via a criatividade e a inovação serão apropriadas apenas por alguns. E isto contraria o desenvolvimento, e torna as sociedades mais desiguais.

 
Em sintese, a obscuridade  atravessa o setor das artes e da cultura  em muitos espaços do velho continente: estudos muito complexos, pontuais, para especialistas e académicos, distantes dos que deviam ser os seus primeiros destinatários. Quando acabam já estão desatualizadaos, e não resistem a comparações das mais elementares.  
E talvez  este até pudesse ser tema para a Campanha Eleitoral em curso.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

«TROIKA TRAVA IDAS AO CINEMA»




«Os países da União Europeia que em 2013 estavam sob a austeridade dos programas de  ajustamento financeiro vigiados por credores internacionais (vulgo 'troika') registaram, sem excepção, quebras de dois dígitos nas receitas de bilheteira das salas de cinema, comprovam números de um relatório do Observatório Europeu do Audiovisual (EAO na sigla original), publicado sexta-feira.
A quebra de receitas em Portugal foi de 11,4%, face a 2012, para os  65,5 milhões de euros (M€), segundo estima a EAO com base em informação do ICA (Instituto do Cinema e do Audiovisual), enquanto o número de bilhetes vendidos desceu 9,2%, para 12,5 milhões». Leia a notícia na integra. E saiba mais no EAO - European Audiovisual Observatory.

domingo, 11 de maio de 2014

A CULTURA NA CAMPANHA ELEITORAL | Artigo de opinião do Deputado João Oliveira





Pensamos ser uma boa ideia irmos aqui, no Elitário Para Todos, dando conta de referências à «CULTURA» na campanha eleitoral que já está no terreno. Ocorreu-nos  ao lermos este artigo de opinião - Nem saída, quanto mais limpa... - do Deputado João Oliveira, no Jornal Público, disponível online, donde esta passagem (destaques nossos):

                                                 « (...)Fica cá o rasto de destruição deixado pela troika.
A maior recessão desde o final da II Guerra Mundial, o agravamento brutal do desemprego, que atinge perto de 25% da população ativa, nomeadamente os jovens, os mais qualificados, os trabalhadores da indústria e da construção.
Os cortes selvagens nos salários, nas reformas e pensões, nos apoios sociais, na saúde, na educação, na ciência, na cultura, nos serviços públicos, a degradação do poder de compra, dos direitos laborais, da segurança no emprego.
A emigração forçada massiva, como nos piores anos do fascismo.
O alastramento da miséria e da pobreza, que em 2012 atingia já 2 milhões e 590 mil pobres, realidade dramaticamente ilustrada pelas crianças que vão para as escolas com fome ou pelos milhares empurrados para as cantinas sociais. (...)».

quinta-feira, 8 de maio de 2014

A banana, os bananas e as semiologias




A banana, os bananas e as simiologias

Os tempos vão de uma superficialidade prenhe de velocidade constituinte. O fugaz da coisa sobrepõe-se à possibilidade da sua compreensão e a coisa acontecida, sobrepondo-se numa instante explosão estelar, esconde a anterior num efeito permanente que faz do real aquela imensa parte do iceberg que deixa de se ver e se junta à que nunca se vê, lá onde o segredo da política a torna privada e lucro tribal de chefes e apaniguados.
Antes de pousar e ser apreensível, apropriável, o que quer que seja que faça parte deste fluxo do real e tenha acontecido – célula narrativa - reparte para o espaço da sua expansão mediatizada na sua ilimitada reprodução em todo o tipo de suportes tecnológico-imagéticos, que sobre o real estão focados como abutres sobre a possibilidade sempre desejada de um cadáver fresco – é assim que se alimenta o share, esse animal massivo voraz. É o caso da banana do Dani Alves, cadáver agora celebrado, que teve um gesto invulgar: comer uma banana à vista do planeta – diz-se agora que orientado por um conselheiro publicitário bem intencionado!!!? O gesto remete, por contraste opositor, para aquela frase do Osvaldo de Andrade que dizia que “só a antropofagia nos une” já que a banana não seria uma banana mas a alma do inimigo, o racismo, assim executado. Na frase do modernista a ideia seria a de adquirir as qualidades do outro.
Entretanto, num outro nível de leitura menos metafórico mas também rico, Dani Alves desmontou o gesto do tolo de aldeia global futebolística que o agride ao fazer o que é natural, comer a banana e tomá-la pelo que é literalmente, uma banana. Só um imbecil é que pensa que comer bananas é coisa de macacos no sentido em que os macacos são menos capazes de paladar do que nós e que ser macaco é ser menos que ser europeu e caucasiano, por exemplo. Tomaram os macacos e uma parte imensa de famintos em franco crescimento populacional entre nós, comer bananas – as da Madeira estão caríssimas. Na realidade, o Dani Alves adquiriu potássio a meio do jogo e comeu a musa - é como se chama a espécie comida. Tudo gestos de uma inteligência pouco futebolística, aparentemente. E é isso que espanta. Parte-se do princípio, para tanto espanto pela atitude, que o jogador é burro e que portanto reagiria agressivamente, cuspiria no adepto – na bola, cuspir-se, é um gesto identitário, a relva que o diga – faria um pinete, exibiria os genitais ao inimigo provocador, qualquer coisa do tipo. Essa é a visão que o tolo de aldeia global, o adepto inimigo-burro, tem do outro. Ele não espera que o “outro” jogador jogue o inesperado e menos ainda que jogue uma inteligência que o adepto não teve quando lhe atirou a banana e que, na realidade, não tem nem pratica – a inteligência é uma prática e um processo, um método, não se pratica num relvado tão amplo em profundidade analítica, embora tenha os seus níveis de objectivação nas pernas que correm, nas cabeçadas oportunas, nas bolas paradas e na visão periférica de poucos. Já o contrário não se pode dizer: que o jogo, o campo e sua TV, e sobretudo os adeptos não sejam um laboratório particularmente útil à chamada simiologia.
A reacção da média carnavaliza algo mais profundo. Neste momento já há mais bananas na floresta mediática que as que se produzem e o negócio remontou. Mas vejamos: primeiro o futebol é um território de guerras civis em efervescência continuada – alimentada - em que se projectam radicalismos de diversa índole. É o espaço físico presencial massivo do pão e circo contemporâneo em que se vazam frustrações e desejos tribais mediatizados, bairristas, contra “o outro”, seja ele do outro clube, seja árabe, seja negro, seja mulato, seja o que for que não seja supostamente esse nós reconhecido, ou o nosso “preto aculturado/branco por dentro”, como um certo Rei da bola – no tempo colonial falávamos muito desta categoria de pessoas, via única para muitos de ter de viver, é necessário compreendê-lo. Segundo, o primado da vitória traduzido na necessidade de humilhar o derrotado, que todo um tipo de média alimenta de modo interligado num espaço mediatizado uniforme e único, satisfazendo esses instintos básicos de uma “audiência” fabricada nos entretenimentos televisivos e desenvolvendo narrativas de luta constante entre gladiadores da bola, estabelece a regra constante de um comportamento que é exactamente o que se espera do militante clubista para vender o contrário – um e outro movimentos fazem o share. É como aquele tipo de escritório de advogados que ganha dinheiro com a defesa do réu e com a sua acusação, a natureza do crime ou a verdade isso são coisas da filosofia, o direito é um balcão.
Em Os Persas, Ésquilo faz o contrário, canta a dignidade dos vencidos. Mas isso era naquele dantes arcaico e matricial em que a democracia das atitudes não era vã e o outro era motivo de culto por ser outro, já que um certo tipo de heroísmo tinha fundamento épico e respeitar o adversário só engrandecia o vencedor. O Dani Alves teve um gesto simples, agradeceu a “prenda” celebrando-a na mastigação.
Não se é de um clube sem se ser – relativamente pois, estamos nos tempos do hard e do soft - contra em relação a qualquer outro. Um contra que é isso mesmo, acéfalo e racista, pleno de arrogância tribal. Obviamente que na era em que os clubes são empresas e em que a ideia de terem uma identidade de tipo cultural, nacional, nada diz, o que sucede é de facto que os universos clubistas são empresariais e o fanatismo a forma específica de uma “cidadania” praticada por transfert, confundindo-se a empresa com a nação – a ideia de um clube que é mais nacional de que outro clube também português num tempo de mercantilização absoluta e de investimento especulativo, é pura ideologia, encobrimento. A mesma “cultura tribal-empresarial” acontece num território de supostas diferenças culturais-civilizacionais, fabricadas, cuidadosamente elaboradas virtualmente pela tal publicidade, a subliminar e a brutal.
A cegueira instalada na bola vai ao ponto de se assassinar o adversário com very lights, ao tiroteio de rua, como agora em Nápoles com vários feridos e um deles em perigo de vida.

O que vale uma banana? Um banana, nós sabemos. O tal adepto imbecil, tolo-global e aldeão, foi crucificado e já se fala de uma vitória sobre o racismo, etc. É tudo de uma pobreza mental confrangedora e é essa idiotia que faz o ambiente – como no resto pensa-se que se resolvem as coisas com a lógica da campanha publicitária como se esta alfabetizasse corações, mas não, formata sem formar. É o que se respira que forma as cabeças e quando se respira o que polui só erradicando a poluição se resolve. Cortando na raiz e educando para a liberdade livre e sábia, culta e laica. A mesma cena do mesmo próximo episódio está para breve. Num estádio perto de si. Os porcos há muito triunfaram sobre os macacos, esses nem entravam na narrativa.
Fernando Mora Ramos

terça-feira, 6 de maio de 2014

"A Cantiga Era uma Arma" | Joaquim Vieira





«"A Cantiga Era uma Arma", acerca dos músicos e das músicas do 25 de Abril e do PREC, que estreia na RTP2 a 6 de maio de 2014, assinalando os 40 anos do concerto que reuniu no Palácio de Cristal (Porto), pela primeira vez, os cantores que permaneciam em Portugal ao tempo da ditadura com aqueles que estavam no exílio». Saiba mais.



segunda-feira, 5 de maio de 2014

FORMA DE VIDA Nº 4 | «Para que servem as Fundações ?»

 

«Acaba de sair o nº 4 da Forma de Vida. Nele colaboram Miguel Tamen, Francisco Bosco, David Antunes, Rob Reich, Carlos Monjardino, Artur Santos Silva, Rui Hermenegildo Gonçalves, Michael Baum, Carla Quevedo, Alice Sant'Anna, Daniel Jonas e Sebastião Belfort Cerqueira. Publicamos ainda uma entrevista a Quentin Skinner conduzida por Teresa Berjan, traduzida por Telmo Rodrigues, e uma selecção do ensaio fotográfico de João Pedro Cortes, Costa».  Tema: «Em Março de 2013, foi publicado na Boston Review um simpósio em torno do ensaio de Rob Reich, «Para que servem as fundações?». No presente número, procuramos trazer essa discussão ao contexto português».

domingo, 4 de maio de 2014

DIRIGENTES PARA ORGANISMOS DA CULTURA | Quem quer saber ?

Podemos  ler no site da CRESAP: «A CReSAP assegura com transparência, isenção, rigor e independência as funções de recrutamento e seleção de candidatos para cargos de direção superior da Administração Pública e avalia o mérito dos candidatos a gestores públicos». Mas alguém sabe o que se passa com um grande número de Dirigentes para os Organismos da Cultura? : DGARTES; Livro, Bibliotecas  e Arquivos; Património; Planeamento e avaliação ... . Veja  do que temos escrito sobre este folhetim.
E sobre os concursos nas Administrações Públicas esta notícia exige atenção.
Nesta altura do campeonato, o sistema já merece ser avaliado, e nomeadamente o papel da CRESAP. Quase que se poderia dizer: Para melhor, está bem, está bem...Para pior deixassem estar como estava. 
E daqui:   «A CRESAP, como há dias num colóquio promovido por um jornal o 1º ministro "deixou cair", foi um produto consensualizado com o (para não dizer uma exigência do) PS. É, pois, natural que alguns dos eleitos, dos poucos dos escolhidos, sejam "apreciados" com reticências públicas e notórias».
Assim vai a República ... .

O 25 DE ABRIL E A (RE)INVENÇÃO DO PATRIMÓNIO CULTURAL PORTUGUÊS | Luís Raposo