A notícia da imagem, do jornal Público, é de 31 de Julho, e está
disponível online. Há ali algo que nos reconforta: a energia que parece residir naquele condomínio (mas que não nos chega tão aberto como é mencionado pelo Vereador da Cultura, tal como acontece nos privados entra a quem for aberta a porta, e dá ideia que a decisão é pontual), e as pessoas sabem do que estão a falar, e têm ponto de vista, e competência necessária aos lugares. Para já, uma parte da legitimidade decorre do voto - embora nas campanhas eleitorais nem sempre se diga no concreto ao que se vai - e profissionalmente, como se costuma dizer, têm curriculo. À partida, tudo certo! Necessariamente, vamos torcer para que o PROJETO (qualquer que seja, verdadeiramente ainda não sabemos qual é) tenha bons resultados. Desejamos que tenha identiddade, mesmo marca de autor - é assim que vemos um teatro em que os Diretores não são eternos. (Já agora poderão ser reconduzidos quantas vezes ?). Guardámos o recorte porque, e atendendo às pessoas envolvidas, nos parece útil para a discussão que está por fazer sobre a figura dos Teatros que cobrem o nosso País. Costariamos de ter escrito a REDE DE TEATROS que atravessa o País, mas não podemos porque ela nunca foi criada. Esses teatros como nos lembraremos, na generalidade, cumulativamente, tiveram financiamento central, municipal, e comunitário. Faz sentido lembrar o
post JORGE SILVA MELO | O comentário que é um programa, donde, por exemplo:
Algumas passagens:
«A inexistência de uma política cultural fez com que muita actividade subterrânea, auto-criada, nascesse no Porto – agora passa a existir mais um parceiro que pode dar visibilidade e melhores condições de produção a essa actividade, até porque o Teatro Municipal do Porto será acima de tudo um teatro de co-produção, interessado em dar um apoio eficaz na construção dos espectáculos. Foram anos e anos sem diálogo – sem sequer conseguir chegar a um sítio para falar com alguém. Muro atrás de muro atrás de muro. Isso criou muita resistência – vendo de fora, e de forma muito fria, percebo a polémica. Ainda para mais tendo em conta que houve um engajamento tão grande dos artistas na defesa do Rivoli em 2006, quando se decidiu entregar a privados um teatro municipal, coisa raramente vista mas que também é a história deste sítio – uma história que cria muito mais expectativas porque efectivamente é passar do 8 ao 80».
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No Campo Alegre, pelo contrário, há uma equipa formada que até funciona bem e uma programação cíclica – com as Quintas de Leitura, os projectos do serviço educativo, as sessões e os ciclos de cinema da Medeia... Estamos a fundir as equipas dos dois teatros para montar um organigrama e verificar as lacunas que é preciso colmatar. Há departamentos essenciais que não existem, como o de comunicação, que vamos passar a ter em Setembro. Quero puxar para o projecto pessoas que venham incutir uma nova energia em áreas muito específicas: na produção, na comunicação, na mediação de públicos, será preciso montar uma equipa.
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«Mas a abertura do Teatro Municipal do Porto será muito boa para o S. João, porque vai permitir-lhe reorganizar-se na sua missão: tem sido o bombeiro de serviço e o Rivoli vai libertá-lo de uma carga muito grande no trabalho com as estruturas da cidade».
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«A Seiva Trupe foi despejada do Teatro do Campo Alegre, que também construiu, há menos de um ano. Vai falar com a companhia?
Uma das grandes vantagens de eu não ser do Porto é ter um ponto de vista global – sou isento, não faço parte deste grupo ou daquele. Vou fazer reuniões sectoriais com todas as companhias e com todos os artistas para auscultar as expectativas e os projectos que têm para 2015; a Seiva Trupe será convidada para a reunião sectorial do teatro, caso contrário estaria a discriminar. É uma companhia histórica da cidade mas há outras que não tiveram nem de longe nem de perto as condições que a Seiva Trupe teve durante todos estes anos, e num regime muito pouco aberto a outras estruturas da cidade. Não me parece que a minha posição possa ser a de dar outra vez prioridade a essa relação».
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Já sabe quanto dinheiro vai ter para programar?Não. Há uma verba para o Teatro Municipal do Porto inscrita no orçamento que vai ser discutido em Outubro e aprovado em Novembro. Estou a trabalhar no pressuposto de que tudo vai correr bem; se não, farei algumas pequenas adaptações.
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De facto, conferência de imprensa e entrevista poderiam ser o mote para reflexão, em retiro, para imersão total, sobre a Cultura e as Artes no nosso País. A nosso ver, têm futuro, mas emerge um passado e um presente que dão pressupostos para a ação no minimo discutíveis, senão impeditivos de muito do que os protagonistas ambicionam, e nós com eles. Necessariamente, aquele «PROJETO» é uma opção. Mas haveria outras? Certamente. A titulo de ilustração, e num olhar meramente de gestão, bastava que diferente fosse a assunção em torno de ideias como as seguintes:
- Desde logo, não se por «fora de questão» a existência de uma companhia residente. Porquê esta alergia ! Há bons exemplos que mostram que é uma boa opção. E fazem tudo o que se pretende fazer na situação aqui em causa: acolhimento, co-produções, festivais, e produções próprias, workshops, residências ... Pois é, a questão estará nas produções próprias. E cobrem todas as «artes do corpo» e as outras. E se calhar é a melhor forma de se manter em boas condições o Teatro enquanto equipamento. Quem sabe andou por aqui o facto de termos o Teatro do Campo Alegre nas boas condições reconhecidas pelo novo diretor.
- Nada a fazer, também na cultura e nas artes, fora com os velhos ! Que nos perdoem, mas é a primeira leitura de «É uma companhia histórica da cidade mas há outras que não tiveram nem de longe nem de perto as condições que a Seiva Trupe teve durante todos estes anos». Não nos parece que esta frase faça justiça à Companhia. Que coisa mais descontextualizada ...
- Ainda que mal perguntemos, o que é que o TNSJ vai fazer de diferente ! O que parece é que dada a crise financeira que atravessa o sector - mesmo que igual ao resto é mais significativa dada a sua fragilidade - eventualmente os recursos disponíveis não darão para todas esta atividade assente em co-produções. E neste ambiente como é que sobrevirá a identidade do Projeto de cada agente cultural?
Bom, fiquemos por aqui, mas as curiosidades não se esgotaram. De repente, além do que já se foi mencionando ao longo do texto: retomemos, se este é o Diretor Artístico, quem é o «Diretor» ? Ainda fomos ao site da CMP mas não conseguimos perceber; e desde quando é que um Conselho Consultivo cria entropias? Por definição aconselha, não intervem na ação quotidiana ... . Qual a (inter)dependência do Projecto Cultural do Porto do Projeto Cultural do País? em particular, do sistema de apoios às artes pela Administração Central. E, ainda, por agora, lemos e voltámos a ler e, bem vistas as coisas, o que não conseguimos atingir é o conceito de SERVIÇO PÚBLICO que orienta toda esta movimentação cultural. Até ao momento, o máximo que conseguimos ver é um SOMATÓRIO de iniciativas desejadas ... Mas como muito se diz pelo Norte, ainda a procissão vai no adro. A rematar,uma vez mais, desejar BOM TRABALHO, o que de bom acontecer no Porto é bom para o País. Aliás, a sua dimensão nacional e internacional, para além da municipal, será um elemento de avaliação inevitável para um projecto que se planeia cosmopolita. Até breve ...