(Montagem)
O artigo (do Semanário Expresso/Revista/19JAN2019) a que se refere a imagem começa assim:
«A senhora ministra da Cultura foi à Biblioteca Nacional de Portugal no passado
dia 4 de janeiro. Foi a primeira vez que ali se deslocou, desde que tomou
posse. O seu único propósito consistiu em participar na apresentação do projeto
de uma coleção de biografias, promovida pelo maior grupo editorial português. O
breve discurso que proferiu foi publicado na página do XXI Governo
Constitucional com o título: “Intervenção da ministra da Cultura na
apresentação da coleção de Biografias de Grandes Figuras da Cultura
Portuguesa.” Assim, sem mais. A ministra legitima as biografias que ainda não
foram escritas, sem saber o que lá vai dentro. Passa o cheque, ignorando o seu
valor. Assina de cruz. Sabe-se lá por que razão!(…)
A DISCURSATA
Frente a um panorama que pode e deve
ser considerado de enorme irresponsabilidade, a senhora ministra veio à BN sem
antes se inteirar da situação em que se encontra a instituição que tutela,
simplesmente, para despejar palavras de circunstância. O seu discurso foi
breve, mas contém erros gramaticais inadmissíveis. A ministra da Cultura (ou
alguém por ela) não sabe conjugar nem fazer uso sintático de verbos no conjuntivo.
O pior é que o mesmo discurso de página e meia é de uma vacuidade assustadora.
Por um lado, baseia-se num jogo de
palavras em torno dos conceitos de cultura, memória e identidade nacional. Que
a cultura é memória, e que esta configura a identidade, seja esta a da nação ou
dos seus heróis, cujas biografias se impõem, já nós sabíamos. Só lá falta o
labirinto da saudade... Mas que a ministra da Cultura se sinta impelida em nos
recordar tais banalidades só encontra equivalente na canção de Vítor Espadinha
e no velho anúncio da Kodak, segundo os quais “recordar é viver”. Francamente,
senhora ministra, não há pachorra para jogos de palavras estéreis, que não
servem para nada!
Por outro lado, a tentação de se
cair em literatice surge por duas vezes. Primeiro, na inevitável citação de
Eugénio de Andrade. Tal como se a demonstração de alguma competência cultural
dependesse da citação de um poeta, assim surge a referência, escusada, ao autor
da “Pequena Elegia de Setembro”. Depois, volta a aparecer como recomendação
douta acerca da necessidade de se cumprirem as efemérides, sob a forma de
biografias, porventura panegíricas, de outros três grandes escritores do século
XX: Sophia, Sena e Namora. Como se a evocação circunstancial e deslumbrada dos
nomes pudesse, por uma espécie de osmose, elevar o nível cultural de quem tem
responsabilidades políticas.
Que dizer frente aos erros
gramaticais e às banalidades contidas num tão curto discurso? No mínimo, que a
aparente impreparação da senhora ministra vem confirmar o que já tinha ficado
patente em duas outras intervenções públicas. Numa delas, recorreu ao argumento
da existência de um processo civilizacional ascendente, sem se dar conta de que
se trata de uma tese com aproveitamentos inesperados e, lá no fundo, bem contrários
aos valores que defende. Noutra situação, escapou-lhe a declaração do alívio
que sentiu, lá no México, por escapar à leitura dos jornais portugueses. (...)».
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O discurso da Ministra, na integra, pode ser lido aqui.
Tem o titulo seguinte:
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