segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

«Assim, sem mais. A ministra legitima as biografias que ainda não foram escritas, sem saber o que lá vai dentro. Passa o cheque, ignorando o seu valor. Assina de cruz»


 (Montagem)


O artigo (do Semanário Expresso/Revista/19JAN2019) a que se refere a imagem começa assim:
 «A senhora ministra da Cultura foi à Biblioteca Nacional de Portugal no passado dia 4 de janeiro. Foi a primeira vez que ali se deslocou, desde que tomou posse. O seu único propósito consistiu em participar na apresentação do projeto de uma coleção de biografias, promovida pelo maior grupo editorial português. O breve discurso que proferiu foi publicado na página do XXI Governo Constitucional com o título: “Intervenção da ministra da Cultura na apresentação da coleção de Biografias de Grandes Figuras da Cultura Portuguesa.” Assim, sem mais. A ministra legitima as biografias que ainda não foram escritas, sem saber o que lá vai dentro. Passa o cheque, ignorando o seu valor. Assina de cruz. Sabe-se lá por que razão!(…)

A DISCURSATA

Frente a um panorama que pode e deve ser considerado de enorme irresponsabilidade, a senhora ministra veio à BN sem antes se inteirar da situação em que se encontra a instituição que tutela, simplesmente, para despejar palavras de circunstância. O seu discurso foi breve, mas contém erros gramaticais inadmissíveis. A ministra da Cultura (ou alguém por ela) não sabe conjugar nem fazer uso sintático de verbos no conjuntivo. O pior é que o mesmo discurso de página e meia é de uma vacuidade assustadora.

Por um lado, baseia-se num jogo de palavras em torno dos conceitos de cultura, memória e identidade nacional. Que a cultura é memória, e que esta configura a identidade, seja esta a da nação ou dos seus heróis, cujas biografias se impõem, já nós sabíamos. Só lá falta o labirinto da saudade... Mas que a ministra da Cultura se sinta impelida em nos recordar tais banalidades só encontra equivalente na canção de Vítor Espadinha e no velho anúncio da Kodak, segundo os quais “recordar é viver”. Francamente, senhora ministra, não há pachorra para jogos de palavras estéreis, que não servem para nada!

Por outro lado, a tentação de se cair em literatice surge por duas vezes. Primeiro, na inevitável citação de Eugénio de Andrade. Tal como se a demonstração de alguma competência cultural dependesse da citação de um poeta, assim surge a referência, escusada, ao autor da “Pequena Elegia de Setembro”. Depois, volta a aparecer como recomendação douta acerca da necessidade de se cumprirem as efemérides, sob a forma de biografias, porventura panegíricas, de outros três grandes escritores do século XX: Sophia, Sena e Namora. Como se a evocação circunstancial e deslumbrada dos nomes pudesse, por uma espécie de osmose, elevar o nível cultural de quem tem responsabilidades políticas.

Que dizer frente aos erros gramaticais e às banalidades contidas num tão curto discurso? No mínimo, que a aparente impreparação da senhora ministra vem confirmar o que já tinha ficado patente em duas outras intervenções públicas. Numa delas, recorreu ao argumento da existência de um processo civilizacional ascendente, sem se dar conta de que se trata de uma tese com aproveitamentos inesperados e, lá no fundo, bem contrários aos valores que defende. Noutra situação, escapou-lhe a declaração do alívio que sentiu, lá no México, por escapar à leitura dos jornais portugueses. (...)».


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O discurso da Ministra, na integra, pode ser lido aqui.
Tem o titulo seguinte:



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