Veja no site do Ministério da Cultura e Desporto de Espanha
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Pois é, estamos em crer que haverá quem ao ler o ARTIGO DE OPINIÃO acima fique inquieto. Mas até se deixaria passar se o autor não estivesse indicado para ser Ministro da Cultura - bem sabemos, «opiniões há muitas» e elas alimentam colunistas... E há ali princípios, digamos, de bom senso com que facilmente se está de acordo: não começar do zero; ter em conta a experiência dos trabalhadores; não ignorar «a sabedoria das multidões»; gerir por aproximações sucessivas; ... Em especial para o nosso País afigura-se «criminosa» a maneira como se não tem considerado o contributo que generosamente nos vem dos profissionais da cultura e das artes. E das organizações representativas. E provenientes dos Partidos das oposições. E assim que bem que nos soa isto: «Não há boa governação com desconfiança face aos funcionários públicos e sem capacidade de auscultar aqueles a quem as políticas se dirigem». Mas governar não é matéria de opinião. E para quem acredita na ciência, na técnica, e no treino, - e, sim, também na intuição -, muito do que é defendido no artigo do próximo Ministro da Cultura «não cola». Não adere ao que se aprende «na escola», não vai ao encontro das referências recomendadas para «benchmarking», ao que adiantam organizações mundiais na esfera da gestão pública e do setor cultural - da UNESCO ao G20. Não tem, afinal, em conta «aqueles a quem as políticas se dirigem». Densificando, ao mesmo tempo: haverá áreas em que se pode ser incremental; outras a exigir medidas de choque. Isto é, em paralelo: temos de ter um Plano de Desenvolvimento para o Setor da Cultura e Planos de Curto Prazo. E mesmo Plano de Emergência dada a situação miserável em que nos encontramos em muitos domínios de intervenção. Onde seja tratado com autonomia o «SERVIÇO PÚBLICO DE CULTURA» e as designadas «INDÚSTRIAS CULTURAIS E CRIATIVAS», a bem dos dois «subsetores».
E se bem lemos o artigo de opinião, o próximo Ministro da Cultura não tem consciência da dificuldade que vai ter em fixar um PONTO DE PARTIDA para o seu «mandato». Parece desconhecer que o aparelho central da administração pública foi escangalhado e que o Partido Socialista não foi capaz de refundá-lo e que continuamos a sofrer da herança da Troika: e o Ministério da Cultura nos últimos anos foi uma ficção... E depois veio a pandemia.
Terminemos por agora com o diagnóstico dos insuspeitos G20: «(...) De acordo com o G20, (...), a cultura é um forte instrumento para assegurar uma recuperação rápida tanto no que diz respeito aos valores que irão sustentar a regeneração no pós-pandemia, quanto no tocante ao papel dos setores criativos da economia na criação de novos empregos e oportunidades. (...)». E com as palavras do deputado João Oliveira, que hoje terminou as suas funções no Parlamento, mas a competência continua:(...) rever o modelo de apoio às artes e de uma vez por todas assumir que as responsabilidades do Estado possam ser cumpridas sem recurso a concursos de distribuição de apoios tal como acontece com as Escolas, os Centros de Saúde ou outros serviços públicos (...) porque as escolas e os centros de saúde também não disputam o financiamento entre si, também não participam em concursos para serem financiados. Por que é que o SERVIÇO PÚBLICO CULTURA não há-de ser assumido com a mesma dignidade e o mesmo método que os outros serviços públicos? (...). Ainda, estas palavras de relatório recente da Unesco: «Emergiu um paradoxo básico: as populações têm cada vez maior acesso aos produtos e conteúdos culturais, mas, ao mesmo tempo, aqueles que criam arte e cultura têm cada vez mais dificuldade em trabalhar».
Morreu GIL MENDO. Aumenta a tristeza que nos últimos dias está a marcar o setor da cultura no nosso País. As noticias da sua morte assinalam isto: «Pertenceu à Comissão Instaladora do Instituto Português das Artes do Espetáculo, do Ministério da Cultura, entre 1996 e 1998, e, de 1998 a 2001, foi Coordenador do Departamento de Dança». Aqui, no Elitário Para Todos, há quem tenha testemunhado a sua energia serena nas transformações que se buscavam para a DANÇA naquela altura, e com as imagens acima queremos ajudar a lembrar das atividades em que Gil Mendo, com outros, esteve envolvido e assim a nossa pequena homenagem.
Em particular uma lembrança de conversa sobre assunto que pouco ou nada se vê discutido: o tempo que as organizações das artes, e cada um dos seus protagonistas individualmente, necessitam para se irem atualizando ao longo dos seus percursos profissionais. E até se falava de «licenças sabáticas» sem perda de financiamento. Antes pelo contrário. Até porque as organizações das artes fazem parte daquelas que verdadeiramente aprendem com as suas experiências, e depois sabem como ninguém disseminar o que descobrem e com isso todos nós aprendermos. O próximo Ministro da Cultura até poderá estar especialmente preparado para entender e ampliar isto que acabamos de dizer ...E concretizar.
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A procissão ainda não saiu do adro, mas «a quente» e de forma leve, olhando para as primeiras páginas dos jornais, a propósito do XXIII Governo, já nos ocorreu isto: há um bom efeito, vamos ficar com um «comentador-turbo» a menos o que não é despiciendo; haverá no Governo quem entretanto já esteja certo que faz sentido que o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) contemple a CULTURA, sendo que no início, quando o setor o reclamava, tivesse dúvidas. Adivinhe quem será o ministro. Mas olhando bem, outra intervenção se justificaria ..., talvez ainda se possa corrigir; e haverá no Governo quem se vá confrontar com a realidade e concluir que um sistema de Políticas Públicas, qualquer que seja a área, é mais do que um somatório de «papers» académicos de sociólogos ...
Mas é claro, BOA SORTE para o Governo no seu conjunto, e para o Governante da Cultura em particular...
Daqui, do jornal Público., mas que lemos na versão impressa:
Mais uma vez sugestões para a Administração da Cultura por parte do Aparelho Estatal Central. Não percamos a esperança, pode ser que desta vez o destinatário - será mais o Governo do que Ministra/o da Cultura - acolha o que lhes é oferecido, digamos, via «Pro bono». Por dois antigos Governantes da Cultura: Rui Vieira Nery e José Sasportes. Mas, até prova em contrario, vai acontecer como no passado: ignoram! Do género: mas ninguém lhes «encomendou o sermão» ... Vá lá, pensem melhor e reparem no que está escrito na Carta Aberta. Façam-no devagar porque a nosso ver vale a pena e está tudo muito claro. Ou seja, não precisam de encomendar nenhum estudo «pela primeira vez» para interpretarem ... É só fazer!
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E como pelo Elitário Para Todos muito se gosta também de TEATRO e se acompanhou por exemplo a vida do GRUPO DE TEATRO HOJE / TEATRO DA GRAÇA: «Ligado ao teatro, foi um dos fundadores do Grupo de Teatro Hoje (1976-1977), para o qual encenou peças de Crommelynck, Strindberg, Camus, Tchekov ou uma adaptação sua de Uma Abelha na Chuva (1977), de Carlos de Oliveira. Algumas delas foram, pela primeira vez, traduzidas para português pelo poeta. Foi igualmente um dos fundadores do Grupo de Teatro de Letras, em 1965».
«(...)
Todos os textos deste livro de mais de 500 páginas são
cenários literários, a linguagem é literária, as questões que coloca, as
dúvidas e as explosões de raiva são literárias. E tudo aquilo
aconteceu. Tem o mérito de dar ao leitor a impressão de que podia ter
sido tudo inventado – e nós gostaríamos na mesma –, de que nada disto se
passou, que aqueles filmes não existiram, nem as pessoas, nem os
teatros, nem a Almirante Reis, o Prevért, a Sophia, o Bresson, a
Glicínia, o Bergman, o Rex, o Chaplin, a Isabel de Castro, o Antonioni, o
café Monte-Carlo, o Mário Dionísio, a Cornucópia, o António Sena, os
Artistas Unidos. Mas existiram, existem. Não é mentira. As fotos a preto
e branco não mentem. E as do Augusto Brázio e do Jorge Gonçalves são
também imensamente literárias. O livro de JSM é circular. O passado e o
presente pertencem ao mesmo bolo. Um livro iniciático e de maturidade. A
sua escrita, sendo ao mesmo tempo confessional, poética, ideológica,
ensaística e memorialista, não altera o registo muito pessoal e
envolvente do autor, ágil, escorreito, entre o jornalístico e o
ficcional, o que para o leitor é um bónus. Lê-se de uma assentada. Vai
do deslumbramento à desilusão, da utopia à revolta, da liberdade à
denúncia da cegueira partidária do pós-25 de Abri (...)».
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Neste momento só dá para recordar um dos muitos posts que suscitou ao Elitário Para Todos. Por exemplo este a propósito do livro da imagem. E visitemos o site dos seus «Artistas Unidos».
«Quem é Ofélia? A noiva do Príncipe Hamlet cantada por
Jean-Arthur Rimbaud e pintada por Sir John Everett Millais? Ou a jovem
dactilógrafa com quem Fernando Pessoa se correspondeu, depois de lhe recitar
versos de Shakespeare? Talvez nenhuma das duas, talvez um pouco de ambas.
Ofélia é certamente mulher, tem corpo de mulher, sonha, deseja, ama. Cativa no
interior de uma ilusão, desta pretende libertar-se tornando-se real. Conseguirá
levar a cabo tamanho desígnio? Em cena, a actriz Marta Taveira oferece-lhe
corpo. Garantimos não haver Ofélia mais autêntica do que esta personagem
representada por quem lhe oferece nervo e músculo. Corpo em torno do qual três
criaturas imaginárias, heteronímicas, andam à deriva sondando as paredes da
fantasia. Aos actores António Parra, Fábio Costa e Ricardo Soares cabe
oferecerem física à química deste «romantismo só ismo, ismo, ismo.»
Resultado de uma encomenda feita pelo Teatro da Rainha, a peça “Na Cama com
Ofélia” marca a estreia de Henrique Manuel Bento Fialho na escrita para teatro.
Começou a publicar há 25 anos, distribuindo-se por géneros como a poesia, o
ensaio, a micronarrativa e o conto. São mais de 15 livros publicados, entre os
quais se destacam o recente “Micróbios” (Abysmo, 2021), na microficção, as
colectâneas de contos “Call Center” (Companhia das Ilhas, 2019) e “A Festa dos
Caçadores” (Abysmo, 2018), integradas no Plano Nacional de Leitura, o volume de
ensaios “Embate” (Medula, 2021) e o livro de poesia “Estalagem” (Medula, 2019).
Licenciado em Filosofia, o autor colabora regularmente com o Teatro da Rainha
desde 2018, nomeadamente na programação e realização de Diga 33 – Poesia no
Teatro.
Com encenação de Fernando Mora Ramos, cenografia de José Serrão, figurinos de
Sara Miro e iluminação de Jorge Ribeiro, “Na Cama com Ofélia” coloca em cena
uma dimensão onírica que tem por base a linguagem da epistolografia trocada
entre Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz, mas excede as cartas num procedimento
de intertextualidade que parodia as fronteiras entre o verdadeiro e o falso, a
realidade e o sonho, a substância e o ideal. Num cenário que é um quarto, as
cenas desenvolvem-se tal como nos sonhos as fronteiras se estilhaçam e o
pensamento lógico desaparece. O que neste texto existe de lírico é sabotado
pelo cómico, o que nele há de cómico acaba minado pelo trágico: «Lá fora, a
vida continua.» Em cena, no Teatro da Rainha, a partir de 17 de Fevereiro, até
12 de Março.
«Trás, Trás! — cá está a Ofelinha!…» Onde? Onde está? Ofélia sonha. Movimenta-se e fala enquanto dorme. Ofélia, a sonâmbula, acorda e, envelhecida, dedica-se às artes do sobrenatural tentando tornar presente o corpo do Nininho. Terá sido numa noite do início de 1920 que o poeta Fernando Pessoa, aproveitando uma falha de luz no escritório Félix, Valadas & Freitas Ld.ª, se declarou à jovem dactilógrafa de nome Ofélia Queiroz, ajoelhando-se a seus pés e sussurrando palavras de Hamlet. Da relação entre Pessoa e Ofélia chegou-nos um célebre conjunto de cartas, a partir das quais se pensou esta cama transbordada de sonhos. “Na cama com Ofélia” estão as palavras, as projecções e os delírios, está o amor, um ideal de amor, estão as utopias, está o desejo de ver materializada uma paixão para lá das palavras e do sonho. Nesta peça, que resulta de uma encomenda, o lirismo poético vai sendo sabotado pelo humor tal como a ficção mina o real. E vice-versa. Estamos num campo de batalha crepuscular onde os opostos se confundem e a lógica é superada pelo possível. No centro, uma mulher. Um corpo. Desejo.
Henrique Manuel Bento Fialho»