Sinopse
Hoje, o
desafio é rever, sem modelos obrigatórios, a produção artística de dois séculos
para compreender as continuidades, as específicas aberturas, as fecundas
particularidades.
Sem falsa
modéstia, começo por declarar que os quarenta e um textos reunidos neste livro
são menos de um quarto dos que escrevi e publiquei desde os finais dos anos de
1980, quando, no decurso da realização do mestrado em História da Arte, comecei
a descobrir e a praticar o ofício de historiadora da arte. Faltam também os
poucos livros de que sou autora exclusiva e, sobretudo, os catálogos que,
sempre com excelentes equipas, são construídos com uma escrita encadeada que
não se adequa a destacar «artigos isoláveis». Em relação aos textos sobre
artistas em nome próprio, a selecção foi drástica. Não pude incluir todos e
sobre alguns escrevi e publiquei diversas vezes: é o caso de Almada Negreiros,
Carlos Botelho, Nikias Skapinakis e José de Guimarães.
Ainda assim, o
que seleccionei, e que respeita aos últimos vinte anos, dispersa-se por
diferentes áreas temáticas: pintura sobretudo, mas também arquitectura e
história de Lisboa (e esta é a que tem maior desequilíbrio entre o feito e o
mostrado), história dos museus, do coleccionismo de arte e das exposições.
Esta
diversidade temática é talvez o traço que marca o meu percurso de
investigadora. Não é nem deixa de ser motivo de orgulho, antes simples facto
que, hoje em dia, nas instâncias de avaliação nacional e internacional, é
encarado com reserva por se considerar que tanta dispersão impede a
profundidade. Nunca quis ser de outra maneira, continuo a interessar-me por
quase tudo e a pensar que se nascesse outra vez (mas não há risco…) gostaria
finalmente de me concentrar no que mais amo e nunca pratiquei: o nascimento das
artes nas comunidades humanas antiquíssimas e em geografias alargadas. [Raquel
Henriques da Silva].
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Foi a entrevista de Raquel Henriques da Silva ao jornal Sol desta semana - com chamada na primeira página - que nos levou ao livro do início - (está naquele monte para se ir lendo/consultando nomeadamente para se cruzar com demais realidades culturais e artísticas) - e que vivamente se recomenda - a especialistas e aos outros. Olhando para o que diz ao semanário, há o conhecimento do oficio, amplamente reconhecido e tido como pressuposto e referência, querendo nós testemunhar a clareza - a nosso ver acessível ao leigo. Talvez porque há ali algo maior, uma sabedoria que envolve, que extravasa limites de «oficio»... Facilmente se introduz em vidas profissionais diversas e na «vida, vida» de todos ... É o caso desta afirmação: «HOJE NINGUÉM SE ATREVE A TER VISÕES GLOBAIS» - a síntese só ao alcance de alguns. Como estamos de acordo! Uma lacuna generalizável que nos vai sair cara.