sábado, 28 de setembro de 2013

EM BREVE CONCURSOS PARA DIRIGENTES EM ORGANISMOS DA CULTURA

 
 
 

De acordo com a lei  - e não a vamos discutir agora, mas muitos já assinalaram  pontos fracos bem significativos, por exemplo quanto aos  perfis para os lugares a concurso, e quem quiser ter opinião sobre isso é só seguir uns tantos, e deter-se num ou outro parâmetro  -  os concursos para dirigentes na Administração Pública segundo as novas regras têm de ser realizados até ao fim do ano, e na Cultura a coisa parecia estar emperrada, mas eis que no site da CRESAP estão anunciados «Procedimentos Concursais Brevemente Disponíveis» que integram organismos da cultura como se pode ver na imagem acima (uma montagem feita a partir da informção do site da CRESAP). Confira por si.
Quem sabe isto lhe interesse diretamente ou a alguém que conheça. É  de ESTAR ATENTO como recomenda a CRESAP. Nós por aqui vamos tentar funcionar como observatório. Acreditamos que os Dirigentes são fundamentais para que se criem as condições que garantam a prestação de um serviço público na esfera da cultura e das artes - bem vistas as coisas a razão daqueles lugares -  e para a formulação de políticas públicas de qualidade. Mas há quem pense que só tem que, de forma burocrática, cumprir ordens.
E é claro que vamos ver «à lupa», tanto quanto isso possa ser feito, os perfis que vão ser fixados. Lembremos que na generalidade os atuais  dirigentes estão «em regime de substituição», o que  pode ter funcionado como tirocínio e dar vantagens, mas dizem-nos que há casos nesta situação que até não irão reunir as condições gerais para os concursos a abrir. O que, em certa medida, nao deixa de ser bizarro ! 
 
 
 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

«REDE DE TEATROS»: reviver o passado para o "PORTUGAL 2020" a pretexto do TEATRO MUNICIPAL DE ALMADA


A notícia da imagem está  no Jornal de Notícias, de 26 de setembro, mas outros orgãos de comunicação social já se referiram ao assunto, por exemplo, no Negócios online: Estado condenado a pagar dívida de 1,371 milhões à Câmara de Almada. E aqui temos um bom pretexto para se voltar à «Rede de Teatros» que verdadeiramente não existe, com isto querendo dizer-se: voltar ao Balanço dos Fundos Comunitários passados e presentes da cultura, e daqui partir para o que vai acontecer com o próximo quadro comunitário.  E, claro, há que perceber melhor esta «estória» do Teatro de Almada. Como é que isto aconteceu ?

GENTE GENTE


Ao ler o que se segue só me lembrava da expressão «Gente Gente» que aprendi a usar quando queremos distinguir pessoas que interessam,  de carne e osso, com defeitos e qualidades, que dá gosto conhecer, ... .
"Já me tinha esquecido da integridade. Deve ter sido isso que me fez chorar. É aquilo que tem António Arnaut, um dos fundadores do Serviço Nacional da Saúde (SNS) que, sofrendo de cataratas nos olhos, não só recusa todos os favores dos amigos para ser operado no sector privado, como insiste em ser operado pelo SNS, como qualquer utente anónimo.
No PÚBLICO foi justamente elogiado por denunciar a campanha cada vez mais descarada para propagandear as empresas hospitalares com fins lucrativos à custa dos hospitais públicos do SNS.
António Arnaut tem dinheiro e amigos para já estar livre das cataratas há mais de seis meses. Mas escolheu esperar e sofrer para ser igual às ideias dele. Que, no caso dele, foram tornadas em instituições que beneficiam todos os portugueses, salvando as nossas vidas. Há um aspecto, no entanto, que ainda é mais corajoso e honesto: é que António Arnaut, para além de rebelde, ainda acredita na qualidade do SNS que criou. Não é acreditar: sabe que o SNS tem qualidade. Tem é medo que a privatização obsessiva em curso liquide o SNS. Entenda-se: vender a algumas empresas endinheiradas, por um preço baixo, tudo o que pertence a todos os portugueses, por ter sido completamente pago pelos impostos que pagamos.
António Arnaut não é um mártir: é um grande político que usa todos os meios ao dispor dele para conseguir o que deseja para os outros. Para os outros, com ele próprio incluído. Ele quer ser - e é - como todos nós."
 
MIGUEL ESTEVES CARDOSO, PÚBLICO, 24/09/2013

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

SÃO CARLOS na ordem do dia


E o São Carlos está na ordem do dia. No jornal Público de hoje na edição impressa:


Mas o trabalho está disponível online.


Posts anteriores sobre o caso:

SOBRE O ANUNCIADO PARA O SÃO CARLOS | Rui Vieira Nery e «PART-TIME»


terça-feira, 24 de setembro de 2013

SOBRE O ANUNCIADO PARA O SÃO CARLOS | Rui Vieira Nery


Foi-nos enviado por um leitor do Elitário Para Todos:
«Boas e más notícias para o nosso pobre Teatro de São Carlos. As boas são, naturalmente, a junção de três responsáveis muito qualificados na orientação artística do teatro - Adriano Jordão na Administração, Joana Carneiro como titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa, Paolo Pinamonti como Consultor Artístico. Poderia a ser uma equipa ideal. Mas as más notícias começam logo a seguir, porque na realidade tudo parece estar de pernas para o ar na situação institucional do Teatro. Começando pelo Conselho de Administração, o Administrador Adriano Jordão está nomeado - tal como, de resto, o Presidente João Villalobos - pelo Revisor Oficial de Contas e não por resolução do Conselho de Ministros, ao abrigo de uma norma obscura da legislação sobre sociedades comerciais destinada a evitar rupturas de gestão nas respectivas empresas, e só com esta nomeação (excelente, por sinal, em termos artísticos) se pôs fim à estranhíssima situação anterior, em que durante meses os processos para despacho eram levados a Madrid para assinatura do Administrador César Viana, entretanto residente na capital espanhola mas supostamente ainda em funções (pelo exemplo, percebe-se o que esta gente entende por "Reforma do Estado"!). Em segundo lugar, continua a ser escandaloso o próprio princípio que preside à prática reiterada da nomeação da Direcção Artística do São Carlos pela tutela governamental e não pelo respectivo Conselho de Administração, que deveria ser o responsável independente por toda a actividade da instituição, e de preferência através de um concurso público com apresentação pelos candidatos de programas artísticos alternativos sujeitos a uma avaliação por peritos. Por último - e diria que acima de tudo - a dotação orçamental do São Carlos continua a ser miserável, e absolutamente impeditiva da concretização de uma temporada artística consistente, que justifique o investimento permanente que o Estado tem de fazer nos custos fixos da instituição, abra esta ou não as portas ao público. Depois de anos de mediocridade inaugurados pela infelicíssima decisão do então Secretário de Estado da Cultura, Mário Vieira de Carvalho, de afastar Paolo Pinamonti da Direcção do Teatro, substituindo-o pelo alemão Christoph Dammann, de triste memória, o São Carlos volta a ter uma equipa artística de grande competência. Mas continua desprovido dos meios orçamentais mínimos para que ela possa aplicar em pleno o seu conhecimento e a sua experiência, pelo que os nomeados se arriscam seriamente a ver a credibilidade dos seus nomes utilizada para legitimar uma operação condenada à partida pelo desprezo manifesto desta gente que nos governa pela Cultura e pelos seus agentes. Espero estar enganado e desejo de todo o coração os maiores sucessos ao Adriano, ao Paolo e à Joana, que bem os merecem».
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22.09
Rui Vieira Nery

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

«PART-TIME»

(E uma vez mais, lá temos «Secretaria de Estado da Cultura» que não há, existe uma área da Cultura na Presidência do Conselho de Ministros, e um Secretário de Estado da Cultura, sem Secretaria de Estado)

E que fazer com esta notícia ?

Ver pessoas tão prestigiadas ligadas ao TNSC só pode provocar satisfação, mas há coisas que precisam de ser esclarecidas. Desde logo, qual a razão de tal decisão? Afinal, quem vai dirigir o Teatro Nacional de São Carlos? Quanto é que se vai poupar com esta solução ?, se é que a opção teve isso na base, ou seja, reduzir custos. Mas será que se diminuem?  Se a moda pega, de repente, vamos ter os outros Teatros Nacionais com protagonistas determinantes para a sua identidade também em regime de acumulação ... E na base, qual o modelo em vigor de condução artística e gestionária para as Unidades de Produção do Estado na área da cultura que dá cobertura ao processo ?
Naturalmente, ver as pessoas envolvidas a aceitarem este mecanismo é porque faz sentido para elas, do ponto de vista artístico e no que diz respeito à gestão. Mas compreende-se que se espere alguma argumentação ... Os seus admiradores, no minimo, merecem isso.
Entretanto, já há pormenores: um comunicado da Gulbenkian, disponível no seu site, e que teve repercussão na comunicação social, esclarece que «Joana Carneiro manterá colaboração com a Gulbenkian quando assumir funções no S. Carlos». Veja aqui. E o comunicado da FCG na integra, de que se segue excerto:
«Ao contrário do que foi transmitido por alguns órgãos de comunicação social, a maestrina Joana Carneiro vai manter a sua colaboração com a Gulbenkian Música. As notícias, surgidas a propósito do convite que lhe foi dirigido para ocupar o cargo de maestrina titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa, apontavam a saída de Joana Carneiro dos projetos que desenvolve na Gulbenkian Música no decorrer desta temporada.
Joana Carneiro permanece, assim, maestrina convidada da Orquestra Gulbenkian e Diretora Artística do Estágio Gulbenkian para Orquestra, continuando a integrar o elenco dos maestros vinculados à Fundação esta temporada, constituído por Paul McCreesh, Susanna Mälkki e Pedro Neves.
Este vínculo é mantido, independentemente dos novos projetos que a maestrina possa abraçar.
Em resposta à notícias publicadas Joana Carneiro esclarece: “É um privilégio fazer parte da família Orquestra Gulbenkian, que tem acompanhado tão perto o meu crescimento artístico e pessoal. É com muito orgulho e alegria que continuarei a exercer as minhas funções como Maestrina Convidada da Orquestra Gulbenkian e Diretora Artística do Estágio Gulbenkian para Orquestra, numa altura em que tenho a honra de iniciar funções como Maestrina Principal da Orquestra Sinfónica Portuguesa." Continue.
Em termos aritméticos, quanto tempo será dedicado pelo programador e pela maestrina titular às suas novas funções? E a pergunta que muitos se farão: mas não haveria outras figuras, igualmente competentes e prestigiadas, que se pudessem dedicar em full-time ao TNSC ? 
Por agora, mais outra questão: e como é que esta coisa das acumulações será tratada no sistema de apoios do Estado através da DGARTES? E, ainda que mal comparado, será que o Reitor de uma Universidade também não o poderá ser, ao mesmo tempo, de outra? Parece haver «incompatibilidades» que não precisam de ser decretadas ... 
Mas pior que tudo, resumindo, e concluindo, nada do que foi anunciado resolve o problema de fundo do TNSC. Eventualmente, contribuirá para o evidenciar, e mostrar até onde chegámos. Nos dias que correm,  já não é mau.


P.S - este post resulta das  perguntas e comentários que nos fizeram chegar. Em sintese, uns não entendem como isto é possível, outros apenas manifestam a sua estranheza ... E no conjunto tocam nos pontos que abordámos. Há ainda quem mencione que tudo se deve ao facto de se querer apresentar alguma coisa para o São Carlos. O futuro o dirá !
   

sábado, 21 de setembro de 2013

«BOOK FESTIVAL»



Passei por lá, pelo site, vi que já era dia 21, cá, daqui a umas horas lá, e porque não trazer para aqui esta iniciativa da Biblioteca do Congresso da América ! Está bem, achei graça ao cartaz.Veja mais. E diretamente para os cartazes dos anos anteriores. E pensei logo num festival na nossa BN, naquele espaço fantástico à volta, e podia ser prolongado pelo jardim do Campo Grande, e pela Alameda da Universidade, e ... Ao mesmo tempo ouvia o «Governo Sombra», e discutiam quaquer coisa relacionada com roubar quando se tem fome ...  . Não perecebi bem, estava mais concentrada no «Book Festival» !

terça-feira, 17 de setembro de 2013

«A CULTURA - MUNDO»



A Cultura Mundo

Dando continuidade ao post anterior,  um dos livros de Gilles Lipovetsky. Já antes no Elitário Para Todos nos tínhamos referido ao autor, por exemplo, aqui. 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

FÓRUM CULTURA VIVA | Começa Amanhã | 17 setembro




«A SPA decidiu criar uma plataforma de reflexão e debate que efectue o diagnóstico do estado da cultura em Portugal, detecte carências e más práticas e contribua para a definição de um conjunto de políticas que venham a ser úteis a vários níveis. Esta plataforma terá a designação de Fórum Cultura Viva e será coordenada pelo Prof. Manuel Maria Carrilho, antigo ministro da Cultura, ex-embaixador de Portugal junto da UNESCO, catedrático de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa e cooperador da SPA». Continue a ler no site da SPA.

 Fórum Cultura Viva começa amanhã | 17 de Setembro |  SPA


18:00 H -  Inauguração da exposição de fotos de 
Urbano Tavares Rodrigues, de Alfredo Cunha
18:30 H - Conferência do filósofo francês Gilles Lipovetsky



quinta-feira, 12 de setembro de 2013

«CORRENTE ALTERNA - MOSTRA DE CRIAÇÕES INCÓGNITAS»


«Há uma geração de criadores da Área Metropolitana do Porto que trabalha no limiar da sobrevivência e da visibilidade. Que não consta da lista de apoios da DGArtes. Que se confronta com a falta de espaços de ensaio e apresentação de espetáculos. Que não marca presença na agenda dos programadores. Que vive indefinidamente com o rótulo de emergente até ser finalmente submersa pelo estigma da descontinuidade. Uma geração que responde apenas à própria vontade de continuar a fazer. Que procura conciliar viabilidade artística com viabilidade económica para seguir em frente. Corrente Alterna – Mostra de Criações Incógnitas olha de frente para o problema sem perder de vista a festa. Durante dois fins de semana muito prolongados, dezassete projetos artísticos ocupam o palco e as salas do TeCA e as variadas almas de rua da Praça da Batalha e da Praça Carlos Alberto. Uma corrente alterna (que não segue num único sentido) ou alternativa (que se desenvolve fora dos modelos convencionais) de ideias concretizadas em espetáculos de teatro, dança, circo e performance. Oportunidade para uma comunidade de artistas se mostrar e pensar coletivamente junto de outra comunidade que a complementa e justifica: público e programadores, reunidos em encontros formais ou informais. Uma mostra programada de dentro para fora por Julieta Guimarães e Vasco Gomes da Companhia Erva Daninha, eles que fazem parte do problema e da solução, e que o TNSJ coproduz, também ele parte do problema e da solução. Em Corrente Alterna há uma geração que cresce nas margens a reivindicar uma outra margem de manobra. Uma geração a quem não ouviremos dizer “o futuro o dirá”, porque o futuro não existe senão nas mãos e na matéria do presente».





quarta-feira, 11 de setembro de 2013

PORQUE HOJE É 11 DE SETEMBRO | «CHOVE EM SANTIAGO»




 

«SUSPENSO POR REVISTA ABUSIVA»

«Um chefe da 5ª Divisão da PSP de Lisboa foi suspenso pela Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) por "revista abusiva" a cinco jovens que em 2010 foram apanhados a ‘grafitar’ as paredes da Escola António Arroio, nas Olaias. O elemento policial, que está a cumprir a ‘sentença’ desde o dia 23 de agosto, ainda interpôs uma providência cautelar sobre a decisão, mas a IGAI invocou o "interesse público" da mesma, a que o tribunal acedeu». Continue a ler. E sobre o assunto:  Os direitos defendem-se, exercendo-os, de Lúcia Gomes, no Blogue 5dias.

domingo, 8 de setembro de 2013

TUDO SE EQUIVALE?

 
 


Uma vez mais, um post de Alexandre Pomar, do meu ponto de vista, a não perder: FESTIVAIS A MAIS. E no fim, penso que é de continuar a refletir sobre «TUDO SE EQUIVALE», e para lá dos festivais.  Mas vamos ao texto:
 
«É altura de dizer, em Lisboa:
JÁ HÁ FESTIVAIS A MAIS

Tudo pequenos festivais de miudezas, para ter algum pessoal e vários segmentos geracionais, corporativos e locais animados, mas nada de importante ou de destacável. Vale a pena percorrer a AGENDA de Setembro e sumariar os eventos "imperdíveis" (como dizem as minhas amigas no fb). Desde o "festival toca e foge" e "festival chaves na mão" ao "fe
stival faz de conta" e à "festa de nicho" (e estou a referir exemplos reais). Ele é o Todos, o Lisbon Week, a Trienal de Arquitectura, a Festa do Cinema Francês, o Festival Design & Performance, o Festival Internacional de Cinema de Terror, o Festival Queer, Arquitecturas Film Festival Lisboa 2013, o Festival Caixa Alfama, o Festival Cantabile, o Bairro das Artes, as Jornadas Europeias de Património, o MOVES (?) 1ª Mostra de Actividades Culturais e acaba a Agenda com o anúncio do São Luíz "Vai ser uma festa em Setembro". Festa é a palavra chave, e serve para recobrir toda esta reinação». Continue a ler.



quinta-feira, 5 de setembro de 2013

«se retiramos todas as verbas para a cultura, estamos a fazer este ajustamento em nome de quê?»


«(...)
 
Está a acontecer e não poderia ser de outro modo. Está a acontecer porque esta política cega de austeridade está a liquidar a classe média, conduzindo-a a uma crescente pauperização, de onde não regressará durante décadas. Está a acontecer porque, nos últimos quase 40 anos, foi esta classe média que alimentou cinemas, teatros, espetáculos, restaurantes, comércio, serviços de saúde, tudo o que verdadeiramente mudou no país e aquilo que verdadeiramente traduz os hábitos de consumo numa sociedade moderna. Foi na classe média — de professores, médicos, funcionários públicos, economistas, pequenos e médios empresários, jornalistas, artistas, músicos, dançarinos, advogados, polícias, etc. —, que a austeridade cravou o seu mais afiado e longo punhal. E com a morte da classe média morre também a economia e o próprio país. E morre porque era esta classe média que mais consumia — e que mais estimulava — os produtos culturais nacionais, da literatura à dança, dos jornais às revistas, da música a outro tipo de espetáculos e de manifestações culturais. É por isso que a cultura está a morrer neste país, juntamente com a economia. E se a economia pode ainda recuperar lentamente, já a cultura que desaparece não volta mais. Um país sem economia é um sítio. Um país sem cultura não existe. Durante a II Guerra Mundial, quando o esforço militar consumia todos os recursos das ilhas britânicas, foi sugerido ao primeiro-ministro Winston Churchill que cortasse nas verbas da cultura. O homem que conduziu a Inglaterra à vitória sobre a Alemanha recusou perentoriamente. “Se cortamos na cultura, estamos a fazer esta guerra para qu?”   (...)». Leia na integra «Está a acontecer. Já se apercebeu?» de Nicolau Santos - Expresso - aqui que nos foi sugerido por uma leitora.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Confirma-se, o impensável acontece ...



«já alguém se lembrou de perguntar aos mais de 900 mil desempregados no país do que lhes valeu a Constituição até hoje?»

Primeiro Ministro em Castelo de Vide,
1 setembro de 2013


domingo, 1 de setembro de 2013

CINEMATECA, PATRIMÓNIO E CRIAÇÃO



Publicado no jornal Público de 30 de agosto de 2013.

Cinemateca, património e criação
A paralisia iminente da Cinemateca, agora revelada mas há muito conhecido, é um problema comum às áreas artísticas como resultado da aplicação de uma política apenas de cortes e orçamental que, na cultura, tem sido e é destrutiva. Há outras formas de fazer política cultural, uma nova fiscalidade específica, um novo mecenato, uma clara definição do que é o Serviço Público e suas articulações programáticas com as entidades de criação sem fins lucrativos, um programa vasto de reforma do sector público que não apenas a de um falso controlo da despesa - sempre que na gestão destas coisas inventam a pólvora concentrando administrações, gastam mais com medidas que só complicam (despesismo) o que funcionava simples e coerente.
Não existe política cultural porque não existe Ministério. Essa inexistência é, em si, a política – o mais ridículo é não existir Secretaria de Estado, havendo um Secretário de Estado junto ao Primeiro-Ministro (sem acesso ao Conselho) sinal que se exibe como uma distinção operativa mas que não é mais que um adorno. Assim como se criou o Ministério, e chegou mesmo a existir porque tinha um programa, assim se destruiu, transformando-se o que foi identificado como áreas de responsabilidade, programa, em gestão diária e casuística do que emerge como problemático: um dia o Comendador Berardo, outro dia a Cinemateca, num outro, o Museu dos Coches, todos os dias o património em estado de abandono, anualmente as capitais europeias a descapitalizarem no dia seguinte ao do prazo oficial de vida, e de modo mais invisível, a vida cultural e artística dos interiores: as pequenas estruturas de criação, teatros e museus, festivais e programações regulares não comerciais que transformavam o pouco que recebiam no muito que davam a conhecer e fruir, criando vida onde o Estado só desertifica, sufocam.
O projecto deste governo começou pela subalternização das disciplinas culturais e artísticas enquanto componentes estruturantes da democracia – uma invenção saída das cinzas no pós-guerra - na medida em que a inexistência do Ministério significa não só o desprezo pela cultura como qualificação da democracia, mas também pelo seu papel económico – contra as evidências estatísticas recentes que, aliás, são apenas enfeite de situações mundano-políticas. Considera-se que as actividades artísticas, numa leitura mecânica, são anti mercado, isto é, despesa não lucrativa, a famosa subsidiodependência – é o que chamam ao Teatro Aberto, à Cornucópia, à Paula Rego e à sua Casa das Histórias (Fundação), ao projecto violentado de Maria João Pires em Belgais (o problema já era este e por isso refiro-o), e a tudo o que não seja lucro imediato (de cortar a torto e a direito) ou especulação financeira potencial (o jogo viciante dos capitais de risco ou os negócios na esfera público-privada), à excepção, não comprovada por uma política consequente mas com estatuto no discurso “responsável”, do património que, aliás, há que valorizar - que tombo sem a Torre do Tombo, e que seria se a outra torre, em Belém, fosse a discoteca ou o restaurante falados, assim à Berlusconi, esse farol quase lusitano?
A recolocação da colecção Berardo como problema mostra a predilecção pelo elefante branco (desde o princípio que deveria ter tido sede própria e autonomia, reconhecido o interesse do Estado no mérito público da colecção) e só vem comprovar que tudo o que se faz se desfaz e que o fazer do que levou anos a construir (estruturante da democracia, como é o caso da Cinemateca e do trabalho notável de João Benard da Costa), não tem, para este poder, nenhum valor: a sua democracia coincide com o desaparecimento do Estado democrático, a sua redução a funções repressivas e a facilitação do exercício de um poder absoluto pelos mercados sem controlo legal (a ideia do Estado empresa é isso mesmo). Como disse um Ministro há pouco, o Estado quer desamparar a loja. A loja é toda para o homem de novo tipo, o empreendedor, o empresário de visão, o investidor, o criador de produtos transacionáveis... Para o Estado fica a actividade não lucrativa, assim se controla a dívida, aliás o Estado não necessita de redistribuir a riqueza comum, os privados, é sabido, fazem isso melhor...
Ao longo dos anos o Estado, mal governado pelos então já poderosos gestores (o Dr. Cavaco é o exemplo acabado, o “país de doutores” foi-se com o papel selado) parece vocacionado para possuir uma infindável colecção de elefantes brancos (não estão em vias de extinção) e de cada vez que faz uma obra (CCB, Museu dos Coches agora, e tantos exemplos no interior do país) não acautela que à obra corresponda um programa – em Portugal a decisão começa na obra, depois inventa-se o programa, o que faz com que grandes logísticas iniciem a sua “morte física” (morrem do que são) no dia seguinte às inaugurações, na medida em que não há modos úteis de as habitar, vida própria como programa. Os exemplos abundam e a dança dos edifícios não é muito distinta da que gerou autoestradas (de programa fácil e falhado) em que viajamos solitariamente, ou da dos estádios de futebol… – imaginam a Igreja a multiplicar Santuários de Fátima? 
O que resta da administração pública da cultura tem como função tirar o Estado das suas responsabilidades culturais democráticas, sejam patrimoniais, sejam nos domínios da criação – uma das invenções do pós-guerra foi a inclusão da cultura e dos patrimónios nas funções programáticas do Estado democrático como resposta à barbárie nazi. A memória de um país, seja a pedra, sejam imagens, pintura, escultura ou cinema, teatro e as criações artísticas contemporâneas, não é uma questão do Estado se o governo não concebe a cultura como um programa político na medida das consignas constitucionais do acesso à criação e fruição culturais. Mas não o fazer é, desde logo, desqualificar a democracia, impedindo as maiorias (e minorias) de aceder a formas de liberdade pública que as linguagens das artes são enquanto conteúdos da liberdade artística e da própria liberdade, o que só poderá acontecer com o reconhecimento íntegro da cidadania artística. A desqualificação da democracia e o seu empobrecimento é o desígnio de uma política que destrói o fenómeno cultural, identificada tão só com a redução da despesa pública. Para as “elites novo-ricas” e para os velhos ricos de sempre, trata-se de garantirem a operacionalidade do sistema que estrutura a desigualdade, agora mais funda, protegendo os seus interesses contra o interesse de todos e os direitos universais. O orçamento, um qualquer, é estruturante da economia, a economia será, ou não, estruturante da democracia. Democracia é uma palavra prostituída, tão usado é pelos seus inimigos. Ao que parece economia, por via de um culto que a celebra como um totem verbal, não. É o tabu que faz o totem pela repetição – “é a economia, estúpido”, diz-se e a realidade submetesse-lhe, como se a economia fosse um projecto inevitavelmente antidemocrático: é o caso da austeridade, esse modo de concentração da riqueza nos especuladores e da redistribuição da miséria, no lugar da riqueza, através do desaparecimento das funções democráticas do estado, pela maioria da população».
fernando mora ramos