quinta-feira, 5 de setembro de 2013

«se retiramos todas as verbas para a cultura, estamos a fazer este ajustamento em nome de quê?»


«(...)
 
Está a acontecer e não poderia ser de outro modo. Está a acontecer porque esta política cega de austeridade está a liquidar a classe média, conduzindo-a a uma crescente pauperização, de onde não regressará durante décadas. Está a acontecer porque, nos últimos quase 40 anos, foi esta classe média que alimentou cinemas, teatros, espetáculos, restaurantes, comércio, serviços de saúde, tudo o que verdadeiramente mudou no país e aquilo que verdadeiramente traduz os hábitos de consumo numa sociedade moderna. Foi na classe média — de professores, médicos, funcionários públicos, economistas, pequenos e médios empresários, jornalistas, artistas, músicos, dançarinos, advogados, polícias, etc. —, que a austeridade cravou o seu mais afiado e longo punhal. E com a morte da classe média morre também a economia e o próprio país. E morre porque era esta classe média que mais consumia — e que mais estimulava — os produtos culturais nacionais, da literatura à dança, dos jornais às revistas, da música a outro tipo de espetáculos e de manifestações culturais. É por isso que a cultura está a morrer neste país, juntamente com a economia. E se a economia pode ainda recuperar lentamente, já a cultura que desaparece não volta mais. Um país sem economia é um sítio. Um país sem cultura não existe. Durante a II Guerra Mundial, quando o esforço militar consumia todos os recursos das ilhas britânicas, foi sugerido ao primeiro-ministro Winston Churchill que cortasse nas verbas da cultura. O homem que conduziu a Inglaterra à vitória sobre a Alemanha recusou perentoriamente. “Se cortamos na cultura, estamos a fazer esta guerra para qu?”   (...)». Leia na integra «Está a acontecer. Já se apercebeu?» de Nicolau Santos - Expresso - aqui que nos foi sugerido por uma leitora.

1 comentário:

  1. O Nicolau não sai da Redacção, de onde colabora para muitos orgãos de CS, com a mesma cassette (não é piada). Não vai a um festival nem põe o pé na rua; não percebeu o que está a mudar no consumo cultural tradicional, capturado e em geral anulado pela "animação" que percorre a Bica, o Cais Sodré, o Martim Moniz, o Intendente, por aí fora. É a classe média que por aí anda a curtir, os jovens e os "bôbôs" (fr, bourgeois boheme), e que alimenta o circuito, com ± turistas e com a aposta da CML na gentrificação dos antigos bairros, distribuindo apoios. São novas realidades culturais, novas engenharias sociais, em que a CML e Gov. são cúmplices. Por aí não haverá mudança previsível; a questão é o desaparecimento da oferta de qualidade, que já não chega cá. Tudo se equivale, desapareceu o acontecimentoi de excepção.

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