quinta-feira, 30 de outubro de 2014

«(...)“Monumento Bom”, o que gera receita que fica para gestão privada, e o “Monumento Mau”, aquele que apenas dá prejuízo e que fica para o Estado ?»




Excertos:
 «(...)
Para o ICOMOS Portugal, o debate sobre os modelos de gestão dos bens culturais que são propriedade do Estado, ou as virtualidades da aplicação do modelo de “gestão privada” da Parques de Sintra – Monte da Lua, S.A., a outros conjuntos patrimoniais, nomeadamente na área de Ajuda-Belém coloca-se, em primeiro lugar, ao nível das ideias. Isto é, pressupõe que, antes de mais, se defina claramente para que “servem” os bens culturais que são património do Estado e que objectivos se pretende alcançar com a sua gestão e salvaguarda, sobretudo se estes monumentos se encontram classificados como património mundial, matéria sobre a qual o ICOMOS, como organismo associado à UNESCO, se deve pronunciar. (...)»
«(...)
Apesar de, no nosso actual quadro jurídico, a discussão ser meramente teórica, pois o legislador já fez a sua opção na citada Lei de Bases do Património Cultural, tem interesse colocar agora algumas questões, sobretudo quando parecem estar esquecidos alguns compromissos do Estado nesta matéria. Desde logo, o facto dos monumentos, objeto desse modelo de gestão, passarem a ser encarados quase exclusivamente como máquinas de produzir receita.
A visão dos monumentos (de Sintra, de Ajuda-Belém ou quaisquer outros) apenas como um ativo que é preciso rentabilizar ao máximo para os turistas maioritariamente estrangeiros, tem muitos inconvenientes, desde logo para portugueses de menores recursos. Por exemplo, uma família composta por dois adultos e dois jovens paga 49 euros para visitar o Palácio da Pena, num país em que só, recentemente, o salário mínimo ultrapassou os 500 euros. (...)»
«(...)
Ou criar-se-á também aqui o “Monumento Bom”, o que gera receita que fica para gestão privada, e o “Monumento Mau”, aquele que apenas dá prejuízo e que fica para o Estado? Se as receitas obtidas com as nossas jóias da coroa ficam todas para reaplicação nestes novos “monumentos-empresariais”, como financiar a conservação das outras centenas de bens situados em locais longínquos e que nunca poderão aspirar a um estrelato turístico. (...)».

Textos como estes encaminham para  inventar e  reinventar o nosso destino, com carácter de urgência. Cruze-se  com  palavras  de poeta -  Mia Couto, no «Diz o meu nome»:



 (...)
Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos
(...)

 
 

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