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Excerto:
«(...)»
Porque defende tanto esse modelo,
autónomo. Talvez se fosse tão evidente já tivesse sido posto em prática.
Talvez porque para a maioria das pessoas não são evidentes as condições
em que trabalhamos e as necessidades de trabalho que temos, mas pense num caso
parecido, que é o de um teatro nacional, o D. Maria II ou o São Carlos. São
estruturas com uma programação que faz mover a casa, e essa programação exige
uma negociação internacional que os obriga a ter uma segurança de que terão
capacidade financeira para contratar algo que acontecerá dali por três anos,
portanto, um tempo longo de preparação. A questão é encontrar na coisa pública,
um modus
operandi para lhe dar segurança e agilidade. Nós estamos à
espera do resultado de um concurso de lâmpadas desde o início do ano. Estamos a
ficar numa situação dramática. Como já está obsoleto o sistema de iluminação,
já não existem lâmpadas no mercado. Neste momento já não conseguimos substituir
as lâmpadas e os famosos leds que hão de vir
da direção-geral ainda não vieram nem se sabe quando virão. Houve um erro no
concurso.
Como é que até aqui se resolvia a
situação?
Com recurso à sociedade civil. O Grupo dos Amigos do Museu, o maior e o
mais antigo grupo de amigos, com estatuto de utilidade pública, é o interface
do mecenato. Se uma empresa quiser patrocinar alguma coisa no museu, patrocina
o Grupo dos Amigos conseguindo fazer que o dinheiro venha para o fim a que se
destina. Na administração isso não é possível, porque não é possível afetar uma
receita a uma despesa. Vá perguntar à Fundação CCB se eles querem mudar o
estatuto. Queixam-se dos cortes, como todos, mas a questão é de controlar e
dominar o que lhe diz respeito. A autonomia tem que ver com isso, ser eficaz.
Claro que tem um grande problema associado, uma carga de responsabilidade e
trabalho muito maior, e é precisamente por isso que nos países que têm essa
experiência nem todas as instituições querem ser autónomas, nem pouco mais ou
menos. Por exemplo, em Espanha, o Museu Nacional de Escultura, em Valladolid,
não quer. Para já, porque trabalha com um estrutura que sabe efetivamente o que
os museus fazem e precisam. Não é bem o caso aqui, em que nós somos uma espécie
de gente que teima em fazer coisas e que estamos sempre a chatear, se
estivéssemos quietos éramos mais tranquilos e estimáveis. Pergunto-me é se é
suposto estarmos quietos ou fazermos coisas... A questão é quando uma estrutura
como esta, que tem problemas tão complicados como o envelhecimento crónico da
equipa técnica... Porque esta casa é, antes de tudo, um centro de investigação.
A casa produz e mobiliza conhecimento. Estamos sempre a produzir novo
conhecimento na história da arte e na conservação e restauro. Ainda agora o restauro
do Presépio
de Belas, que vai dar um livro no final. Está a ser uma renovação
total, nunca tinha sido feita a operação de desmontar tudo aquilo. É a partir
da produção de conhecimento que se afirma a marca, que se comunica a marca, que
se faz material de comunicação, que se faz exposições, que se estimula uma
programação que é a forma de comunicar aos públicos. O que acontece é que em
todas as operações não há uma que se faça que não exija procedimentos
administrativos, desde a compra de livros à compra de papel, de toner,
de produtos para conservação e restauro. (...)».
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