quinta-feira, 13 de setembro de 2018

MUSEUS | Entrevista ao Diretor do Museu Nacional de Arte Antiga | NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS



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Excerto:

«(...)»
Porque defende tanto esse modelo, autónomo. Talvez se fosse tão evidente já tivesse sido posto em prática.
Talvez porque para a maioria das pessoas não são evidentes as condições em que trabalhamos e as necessidades de trabalho que temos, mas pense num caso parecido, que é o de um teatro nacional, o D. Maria II ou o São Carlos. São estruturas com uma programação que faz mover a casa, e essa programação exige uma negociação internacional que os obriga a ter uma segurança de que terão capacidade financeira para contratar algo que acontecerá dali por três anos, portanto, um tempo longo de preparação. A questão é encontrar na coisa pública, um modus operandi para lhe dar segurança e agilidade. Nós estamos à espera do resultado de um concurso de lâmpadas desde o início do ano. Estamos a ficar numa situação dramática. Como já está obsoleto o sistema de iluminação, já não existem lâmpadas no mercado. Neste momento já não conseguimos substituir as lâmpadas e os famosos leds que hão de vir da direção-geral ainda não vieram nem se sabe quando virão. Houve um erro no concurso.
Como é que até aqui se resolvia a situação?
Com recurso à sociedade civil. O Grupo dos Amigos do Museu, o maior e o mais antigo grupo de amigos, com estatuto de utilidade pública, é o interface do mecenato. Se uma empresa quiser patrocinar alguma coisa no museu, patrocina o Grupo dos Amigos conseguindo fazer que o dinheiro venha para o fim a que se destina. Na administração isso não é possível, porque não é possível afetar uma receita a uma despesa. Vá perguntar à Fundação CCB se eles querem mudar o estatuto. Queixam-se dos cortes, como todos, mas a questão é de controlar e dominar o que lhe diz respeito. A autonomia tem que ver com isso, ser eficaz. Claro que tem um grande problema associado, uma carga de responsabilidade e trabalho muito maior, e é precisamente por isso que nos países que têm essa experiência nem todas as instituições querem ser autónomas, nem pouco mais ou menos. Por exemplo, em Espanha, o Museu Nacional de Escultura, em Valladolid, não quer. Para já, porque trabalha com um estrutura que sabe efetivamente o que os museus fazem e precisam. Não é bem o caso aqui, em que nós somos uma espécie de gente que teima em fazer coisas e que estamos sempre a chatear, se estivéssemos quietos éramos mais tranquilos e estimáveis. Pergunto-me é se é suposto estarmos quietos ou fazermos coisas... A questão é quando uma estrutura como esta, que tem problemas tão complicados como o envelhecimento crónico da equipa técnica... Porque esta casa é, antes de tudo, um centro de investigação. A casa produz e mobiliza conhecimento. Estamos sempre a produzir novo conhecimento na história da arte e na conservação e restauro. Ainda agora o restauro do Presépio de Belas, que vai dar um livro no final. Está a ser uma renovação total, nunca tinha sido feita a operação de desmontar tudo aquilo. É a partir da produção de conhecimento que se afirma a marca, que se comunica a marca, que se faz material de comunicação, que se faz exposições, que se estimula uma programação que é a forma de comunicar aos públicos. O que acontece é que em todas as operações não há uma que se faça que não exija procedimentos administrativos, desde a compra de livros à compra de papel, de toner, de produtos para conservação e restauro. (...)».

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