O dia começa bem, no jornal PÚBLICO o artigo acima que a nosso ver é a não perder, mesmo. Começamos a ler e temos de ir até ao fim. Olhemos para o subtítulo - «No final do dia, o que permanece e, a longo prazo, aquilo que garante a relevância de cada museu particular, e dos museus em geral, são as suas colecções». O início do texto é este:
«Existe uma dicotomia entre "colecções" e "compromisso social" nos museus? Não, não existe. Nos museus tudo é complementaridade, mais do que conflitualidade. Os museus modernos surgiram no século XVIII precisamente com o objectivo de tornar as colecções acessíveis às pessoas comuns e não apenas às aristocracias. Se os museus se limitassem ao coleccionismo de objectos, sem mais amplos propósitos sociais, não seriam museus: continuariam a ser "gabinetes de curiosidades".
Não há compromisso social suficiente nos museus "tradicionais"? Não tenho a certeza disso, embora admita que sim e que por isso em muitos deles sejam necessárias medidas mais ousadas de envolvimento social. Mas mister é que não percam o foco principal e fundamental que é dado pelas colecções. Acção social não alicerçada naquilo que constitui a razão de ser de cada museu, as suas colecções, constitui um equívoco de vistas curtas, que a termo conduz ao risco da irrelevância porque outras instituições sempre poderão fazer o mesmo – e porventura melhor. No final do dia, o que permanece e, a longo prazo, aquilo que garante a relevância de cada museu particular, e dos museus em geral, são as suas colecções. A ideia do “museu sem colecções” é um sem-sentido, porque deixaria de ser museu, para se tornar outra qualquer coisa, quiçá mais útil: centro cultural, fórum social, casa das artes, etc. (...)
E mais adiante com o que termina:
No fundo, no fundo, nunca saímos do mesmo local em matéria da relevância social dos museus, que se baseia nas suas colecções e na curiosidade que despertam. Há quase uma década, Nicholas Thomas, debaixo do sugestivo título O Regresso da Curiosidade (ed. Reaktion Books Ltd, Londres, 2016), com o não menos sugestivo subtítulo “para que servem os museus no século XXI”, afirmava: “Os museus devem colocar o objecto em primeiro plano de forma a permitir que os observadores, visitantes e público se deixem envolver, com a sua condição física e material, a sua identidade e história particulares. Não há nada de errado com os centros de ciência, nos quais proliferam exposições interactivas de vários tipos, e tais dispositivos podem tornar visíveis toda uma gama de processos e princípios, divertidos e espectaculares. Mas estas técnicas exemplificam um modo expositivo distinto que não é museológico em sentido estrito. A cultura material oferece aquilo a que John Berger (escrevendo sobre fotografia) chamava ‘outra forma de contar’ – e os museus são os locais onde essa ‘outra forma de contar’ tem a oportunidade de falar, onde somos mais susceptíveis a surpresas e à sua eloquência.”
E mais acrescentava: “Sejam jovens ou velhos, as pessoas em face das colecções fazem perguntas aparentemente óbvias sobre os objectos, como: ‘O que é isto?’, ‘Para que serve?’, ‘Porque está aqui?’, ‘Devia estar aqui?’, e assim por diante. Esta curiosidade, este questionamento, é uma competência [skill]. Podemos considerar a capacidade de responder à diferença como uma competência de sobrevivência no mundo conectado, mas heterogéneo, perigoso e frágil, em que vivemos. Muitas instituições, locais e experiências ajudam as pessoas a adquirir competências de vários tipos, mas o museu promete algo distinto, como um lugar de encontro no qual podem crescer o nosso sentido de possibilidade, os riscos e a necessidade do encontro. É para isso que servem os museus no século XXI, apesar de todos os seus defeitos.”
Ou seja, em síntese: “O museu como um método coloca a colecção do centro da descoberta.” E “o que as colecções nos dizem é menos importante do que as diferenças que revelam em relação ao que somos”. Nem mais.».
Ou seja, em síntese: “O museu como um método coloca a colecção do centro da descoberta.” E “o que as colecções nos dizem é menos importante do que as diferenças que revelam em relação ao que somos”. Nem mais.».
Naturalmente, o artigo será lido de maneira diferente por profissionais dos museus e pelos outros. Nestes, outros profissionais da esfera da Cultura também serão capazes de reparar em aspetos particulares quiçá laterais que não dirão muito à generalidade dos leitores. Estamos a visar esta passagem: «A
ideia do “museu sem colecções” é um sem-sentido, porque deixaria de ser
museu, para se tornar outra qualquer coisa, quiçá mais útil: centro
cultural, fórum social, casa das artes, etc.». É isso, queremos aproveitar para uma vez mais chamarmos a atenção para a «identidade das organizações», sejam elas «profissionais» ou «amadoras». E veio-nos à memória aquela de «Um Teatro em Cada Bairro» da Câmara Municipal de Lisboa. E o momento presente - de Eleições Autárquicas - até será bom para se debater o assunto. Começando por isto: RIGOR É PRECISO. SEM ISSO «QUALIDADE» É COISA DISTANTE.
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