Excerto: «(...) Não há, nesta evidência, uma crítica às instituições nacionais. O que
há, é a constatação do seguinte: mais de 9/10 dos portugueses não acede,
potencialmente, ao teatro do sector público, como poderá aceder a
hospitais ou tribunais, ou podia, ou aos correios — o que com a
austeridade troikiana deixou de ser verdade em muitas zonas. Uma parte
muito pequena desses nove décimos — cálculo mal parido mas claro no que
tem de grosseiro — acede ao serviço público teatral exercido por
pequenas estruturas privadas espalhadas magramente pelo país, tanto mais
que esse um décimo que falta tem ainda um conjunto de estruturas
residentes nas áreas metropolitanas que completam o sector público nas
duas capitais, fazendo teatro não comercial.
Esta assimetria teria uma resposta em marcha — leva décadas uma política que reforme o que está — se a política de estruturação da democracia na cultura, ao fim de 46 anos, encarasse a questão como um problema e fosse parte do programa. Não é, e não se trata deste governo nem do último: as respostas do Estado ao longo destas décadas sempre foram mínimas, reactivas, para responder a solicitações e pressões, medida a pressão da base e satisfazendo-a com umas miga-lhas para auto-sobrevivências em grupo (com grandes resultados artísticos de natureza pontual em alguns casos), mas nunca foram um plano inserido numa conjuntura histórica e dentro de uma visão prospectiva, como teria sido necessário fosse para um país saído do fascismo logo em 74 — as marcas assimétricas e as desigualdades herdadas e sistémicas estão aí, nos diversos interiores, periferias, minorias e margens, tanto mais que o “desenvolvimento” não libertou, pelo contrário, criou novas assimetrias. As auto-estradas por si nada adiantam, circular não resolve a necessária criação residente de amplas e diversas forças próprias sediadas, com capacidade atractiva para fixar nova gente de modo significativo e não epifenómeno, isso sim, seria uma política cultural, lato senso. E o necessário.
Uma visão orçamentalista, de suposto debate sazonal e ritual, da política, nunca levará a tal, nem a nada diferente do que esteja aí em resultado de andar para a frente à espera do que decidam as finanças.Terá sempre um alcance mínimo como melhoria, sempre muito relativa e é esse o seu horizonte, o do um poucochinho melhor. E quando a coisa piora pelas tais forças exógenas que tudo arrastam para o pior, voltamos a subir a montanha com o mesmo sorriso posto e agradecido, para que nada varie.
A resposta seria a de complementar no território e na demografia — há desequilíbrios brutais na relação território/população — o mapa das populações e zonas excluídas (com muito pouca gente) com estruturas de missão pública claramente investidas de um papel complementar (isso não as diz menos importante, sendo autónomas artisticamente e com independência de gestão/contra programa) dos teatros nacionais, portanto uma rede de teatros com vocação nacional pública sediados sabiamente nas regiões. Estruturas de criação e formação residentes, o que não significa confinadas, muito menos vozes de uma espécie de teatro ou gosto local, o que muita cabeça provincianamente macrocéfala pode pensar, assim como muita cabeça provincianamente local, mesmo com os discursos mais cosmopolitas e cheios de citações patrimoniais luzindo para que se vejam.(...)».
Esta assimetria teria uma resposta em marcha — leva décadas uma política que reforme o que está — se a política de estruturação da democracia na cultura, ao fim de 46 anos, encarasse a questão como um problema e fosse parte do programa. Não é, e não se trata deste governo nem do último: as respostas do Estado ao longo destas décadas sempre foram mínimas, reactivas, para responder a solicitações e pressões, medida a pressão da base e satisfazendo-a com umas miga-lhas para auto-sobrevivências em grupo (com grandes resultados artísticos de natureza pontual em alguns casos), mas nunca foram um plano inserido numa conjuntura histórica e dentro de uma visão prospectiva, como teria sido necessário fosse para um país saído do fascismo logo em 74 — as marcas assimétricas e as desigualdades herdadas e sistémicas estão aí, nos diversos interiores, periferias, minorias e margens, tanto mais que o “desenvolvimento” não libertou, pelo contrário, criou novas assimetrias. As auto-estradas por si nada adiantam, circular não resolve a necessária criação residente de amplas e diversas forças próprias sediadas, com capacidade atractiva para fixar nova gente de modo significativo e não epifenómeno, isso sim, seria uma política cultural, lato senso. E o necessário.
Uma visão orçamentalista, de suposto debate sazonal e ritual, da política, nunca levará a tal, nem a nada diferente do que esteja aí em resultado de andar para a frente à espera do que decidam as finanças.Terá sempre um alcance mínimo como melhoria, sempre muito relativa e é esse o seu horizonte, o do um poucochinho melhor. E quando a coisa piora pelas tais forças exógenas que tudo arrastam para o pior, voltamos a subir a montanha com o mesmo sorriso posto e agradecido, para que nada varie.
A resposta seria a de complementar no território e na demografia — há desequilíbrios brutais na relação território/população — o mapa das populações e zonas excluídas (com muito pouca gente) com estruturas de missão pública claramente investidas de um papel complementar (isso não as diz menos importante, sendo autónomas artisticamente e com independência de gestão/contra programa) dos teatros nacionais, portanto uma rede de teatros com vocação nacional pública sediados sabiamente nas regiões. Estruturas de criação e formação residentes, o que não significa confinadas, muito menos vozes de uma espécie de teatro ou gosto local, o que muita cabeça provincianamente macrocéfala pode pensar, assim como muita cabeça provincianamente local, mesmo com os discursos mais cosmopolitas e cheios de citações patrimoniais luzindo para que se vejam.(...)».
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