sexta-feira, 15 de setembro de 2023

LIVRO |«O ESSENCIAL DA POLÍTICA PORTUGUESA» | onde a Cultura não tem espaço ...|E UMA VEZ MAIS SUGERIMOS À ORDEM DOS ECONOMISTAS PARA OLHAR PARA A SITUAÇÃO

 

 

No seu site a editora Tinta da China apresenta a obra da imagem acima, assim: 

 

«A OBRA DE REFERÊNCIA SOBRE PORTUGAL E O SEU SISTEMA POLÍTICO

 

Os portugueses e o mundo acreditaram. O regime saído do golpe de Estado de 25 de Abril de 1974 seria o motor auspicioso da transição de Portugal para a democracia, prenunciando decantações de um projecto colectivo de liberdade e igualdade, na linha das sociedades liberais contemporâneas. Quase 50 anos depois, apagados os holofotes da atenção internacional, a política portuguesa equipara‑se, em virtudes e insuficiências, à de qualquer outra sociedade europeia. Contudo, mantém especificidades assinaláveis, que a definem e ameaçam, e que importa examinar e dar a conhecer.

O Essencial da Política Portuguesa oferece ao leitor, comum ou especializado, uma panorâmica ímpar, actual e sistematizada, sobre Portugal e o seu sistema político. Originalmente publicado pela Oxford University Press, este volume reúne contributos dos melhores investigadores nacionais e internacionais, que abordam a democratização portuguesa desde a década de 1970: as instituições políticas, o envolvimento dos eleitores e a política de massas, os partidos e o sistema partidário, a contestação e os movimentos sociais, a governação e as políticas públicas, a participação na União Europeia e a política externa e de defesa de Portugal.

O Essencial da Política Portuguesa desenha a traço fino o retrato da política portuguesa e identifica a natureza e a qualidade da democracia no país inaugurado em Abril de 1974. (...)». Saiba mais

O mesmo acontece por parte da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Notámos que a obra se destina a «leitor comum ou especializado», e reparámos também neste destaque dos autores:


Ainda assim, associando as duas dimensões, mas dado que o preço (elevado) não será coisa em que não se pense no ato da compra, (nomeadamente se nos assumirmos como leitor comum), decidiu-se não agir de impulso e olhar devagar, na livraria, para a obra. E lá estava ..., melhor, não estava qualquer capitulo sobre CULTURA - o que na circunstância, a existir, seria elemento decisivo (tipo desculpa) para se trazer mais um livro para casa, onde o espaço para mais um escasseia.  A lógica interna do trabalho poderá justificá-lo, mas um «leitor comum»,  (o que quer que isso seja), não o compreenderá quando existe, por exemplo, a Parte 6. Governação e Políticas Públicas que cobre, ilustrando, educação,  e saúde. E como o trabalho também é para Economistas, como o dizem os autores, e por aqui, no Elitário Para Todos, há alguns, pensou-se que seria o espaço ideal para tratar ECONOMIA DA CULTURA, mas, mais uma vez, o vazio. Neste quadro, decidiu-se que se deixava a compra para quando estivesse em saldo. Mas eis que aparece  o artigo de Diogo Ramada Curto no semanário Expresso da semana passada e a análise critica, ao mesmo tempo densa e clara, merecia que se tivesse o livro ao lado (e este o relato de uma aquisição que pouco interessará  a não ser para mostrar o poder da comunicação social e fundamentalmente das pessoas que lhe dão corpo):
 
 

   (montagem a partir do artigo do Expresso de 8 SET 2023)

 


Não, o historiador não assinala a «ausência da cultura» mas escreve, nomeadamente, o seguinte:
 
«(...) A segunda parte da obra é dedicada ao estudo das instituições políticas. O destaque vai para a base constitucional semipresidencialista em que se baseia a estabilidade do sistema político. Segue-se uma série de capítulos que cobrem as principais áreas da governação e a divisão dos poderes: o parlamento com as suas competências legislativas e de controlo do governo, o executivo, o sistema judicial e a sua permeabilidade política, o sistema eleitoral, a administração pública com sua racionalidade burocrática e, por último, a política local e descentralizada. O critério seguido é o do pensamento de Estado sobre si próprio. Mesmo assim, não valeria a pena seguir critérios analíticos inspirados em Schumpeter para tratar autonomamente a questão das finanças e da dívida pública do Estado? Parece que sim, se se tiver em linha de conta que um dos resultados da coordenação das políticas por parte da comunidade europeia levou ao reforço interno do papel dos ministros das Finanças, pelo menos nas duas últimas décadas (todas as citações são feitas da edição inglesa, pp. 161, 341). (...)»

O capítulo seguinte confirma o modo como, a partir de 2000, o mercado de trabalho foi desregulado, nomeadamente, como os despedimentos passaram a implicar menos custos para as empresas. Uma situação, porém, que parece ter correspondido a um cenário de estagnação económica. Outros temas tratados são o quadro geral das políticas macroeconómicas; as políticas educativas, as da saúde, a da educação, a do combate à corrupção, a das finanças locais e um último capítulo relativo aos desafios globais. Mais uma vez, faz-se sentir a ausência de um tratamento em separado das finanças públicas que permitisse perceber o quadro de conjunto que dá sentido a todas estas políticas sectoriais. Fica, igualmente, no ar a ideia de que existem sectores que são preteridos ou não merecem grande atenção. É o que sucede com a agricultura, o funcionamento da justiça, a administração interna ou a organização militar. (...)».

O destaque é nosso, e é mais do que «ideia»: a cultura não mereceu atenção. As explicações serão muitas, mas que, a nosso ver, é uma FALHA,  é ... Mais: o paradigma DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL está ausente. E se assim não fosse a organização do livro seria outra? Estamos convictos que sim e, quiçá, até deixaríamos de ter o que no limite não deixa de ser um «somatório de artigos», modelo cada vez mais adotado,  como que peças de lego para cada leitor fazer a sua construção. A «arrumação» oferecida pelos organizadores acaba por seguir a mesma lógica, não ajudando muito o leitor «leigo» ... Continuamos a ver árvores sem a vida facilitada para chegarmos  à floresta.

 A nosso favor:

 

 



 

 

 


 

SUMMER 2020

 

 

Depois destes «adornos», apetece-nos lembrar, uma vez mais, à ORDEM DOS ECONOMISTAS que repare na CULTURA. E à ÁREA DA CULTURA da estrutura do nosso Governo  que atue de forma planeada - e aproveitemos o post anterior recente RECUPEREMOS O «MANIFESTO - POR UMA CULTURA PARA O SECÚLO XXI» | depois de termos lido isto: «Cultura pode ser o elevador social do século XXI como educação foi do século XX, diz Adão e Silva»|APROVEITE SENHOR GOVERNANTE! | REPARE NOS SUBSCRITORES ...-, precisando-se para isso de dados e informação que não temos e talvez aí a fraca presença da Cultura na ACADEMIA. No ensino e aprendizagem, e na investigação.

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*   *

Para terminar voltemos ao artigo do Expresso, do professor Diogo Ramada Curto, afinal o «culpado» do que nos levou até ao presente post, não sendo abusivo adiantar que nos revemos, por exemplo, no que a seguir se reproduz, onde conseguimos encaixar parte do que antes tentámos dizer:

 «(...)

ALGUMAS CRÍTICAS

Depois da recapitulação de uma obra tão extensa, algumas críticas se impõem. A primeira diz respeito à organização geral do livro. Arriscaria dizer que o seu principal propósito consiste, sobretudo, em afirmar as virtudes de uma disciplina, a politologia, e dos seus praticantes, os politólogos universitários, tal como se têm vindo a institucionalizar nas duas últimas décadas. Para isso, assiste-se à construção de uma grelha temática ou de um sistema classificatório que pretende cobrir o campo do que é considerado como sendo da ordem da política. Assim, o tom que é dado nas três páginas introdutórias pelos editores do volume reflete-se nas oito partes pelas quais se distribuem os 48 capítulos. Tal como se a classificação temática se pudesse substituir e tomar o lugar da formulação inicial de um conjunto de problemas centrais aos quais este projeto coletivo procuraria responder.

Uma ciência política, pois, que procede por temas e não tanto a partir da formulação de problemas, ao procurar inscrever-se num território, apela sobretudo a estudos comparativos inspirados na politologia norte-americana (como se pode ver no capítulo 2, p. 19). Esta inscrição numa espécie de razão universal, com origem nos campos universitários norte-americanos, destina-se a criar a ilusão de uma neutralidade que, em muitos dos casos, é difícil de admitir. Aliás, as partes 2, 3, 4, 6 e 7 deste livro revelam uma politologia norte-americana ultrapassada, que é a dos estudos eleitorais e da cultura política fortemente funcionalista. Mais uma indicação da nossa condição periférica! (...)».


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