A não perder Crítica da razão impura, artigo de opinião de João Caraça, no jornal Público, de 12 de setembro, disponível online. O endereço. Em dado momento:
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No continente europeu apenas os russos e os franceses possuem um poder nuclear autónomo (estes, graças ao general de Gaulle); o resto ‘repousa’ maioritariamente sob a égide da aliança atlântica ou mesmo na existência de bases militares americanas, como acontece em solo alemão. Mas o mundo não pára - talvez nesta perspectiva melhor se percebam os porquês da questão nuclear iraniana e porventura se entenda como a guerra no Médio Oriente traz um tão perigoso potencial de disrupção.
Creio que o capitalismo como sistema histórico encontrou o seu fim (o que não quer dizer que desapareça de hoje para amanhã) e que Francis Fukuyama se enganou redondamente ao não qualificar o seu “fim da história” como “o fim da história moderna”. A acumulação (pretensamente) infinita de capital financeiro intangível já não engana nem seduz ninguém – é apenas mais um Eldorado estafado cujos destroços atravancam o caminho do futuro. Futuro esse que aos olhos de hoje parece tão incerto e complexo como o ‘Destino’ que assombrava as mentes dos nossos antepassados de Quinhentos. A crise revela apenas a transição; a complexidade traduz a magnitude da transformação. Esta ‘crise’ é civilizacional. O período à nossa frente é de luta sem quartel. Há que estar equipados, intelectual, material e fisicamente para a travar.
No meio disto tudo, quem eram os Espírito Santos? Ninguém, tal como o romeiro da célebre peça de Almeida Garrett. Uns desenraizados, vivendo (estes sim) acima das suas possibilidades, apenas porque nos anos 1980 a CIA e um ex-embaixador americano entenderam que o governo português devia trazer uns cacos das antigas elites financeiras da paróquia para legitimar a reprivatização da banca. Sem controlo de qualidade. Claro que ia dar asneira. Uma má educação sai sempre cara.
O que poderemos então antever? O século XVII viu o aparecimento da ciência moderna – e todo um mundo novo começou a fazer sentido. Assim esperemos que aconteça, no decurso mais ou menos longínquo deste século. Só podemos aspirar a que a bifurcação por onde estamos a enveredar seja a de uma nova ciência e a de uma nova educação que nos voltem a encantar com o que descobrirmos no universo e na vida».
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