quarta-feira, 2 de novembro de 2011

MAIS ENTREVISTAS DO SECRETÁRIO DE ESTADO DA CULTURA

No mesmo dia - 30 de Outubro - duas entrevistas do Secretário de Estado da Cultura:

- No Correio da Manhã, com a manchete « Acharam que vestiria a pele de estalinista»;
-  E no Público a manchete «Viegas promete minorar «cortes dolorosos» na Cultura.
  E tudo lido e ouvido, ficamos na mesma: com a insistência na frase (arrogante? parece que sim) «que parte é que não percebeu. Não há dinheiro»; com momentos de imensa confusão, contraditórios, por exemplo,  no Público, diz: «Evitar cortar nos apoios directos às artes; fazer o mais possível com os meios que temos. São coisas muito elementares, às vezes. Por exemplo, a colaboração que deve existir com as direcções regionais: só aí, vamos poder poupar. Porquê? Porque temos pessoas óptimas no terreno - desde juristas, arquitectos a especialistas em diversas áreas -, temos é que optimizar esses recursos». Mas o que é que isto quer dizer?
 E depois faz daquelas afirmações ao jeito de comentador de televisão. Também no Público:  «O grande problema que se vai colocar nos próximos anos em Portugal não é de bilhetes de cinema nem espectáculos, é um problema de modo de vida: a maneira como vivemos, economizamos, a maneira como gastamos e como investimos naquilo que é essencial». Isto no mínimo é um insulto para muita gente, nomeadamente para aqueles que são muitos que estão na pobreza ou no limiar da pobreza, e para os outros que só com muita ginástica fazem face às despesas básicas que já não podem incluir bilhetes de cinema e de espectáculos.
E há particularidades que não podem deixar de se realçar: «Agora, em relação às queixas sobre se o livro foi beneficiado por eu ter estado toda a vida ligado ao livro? Não. Era um compromisso meu, deste Governo, em relação ao livro: não aumentar taxas, como noutros países em que houve ajuda externa, como a Islândia, onde também não se aumentou a taxa do livro. Mas o que acho é que ainda é possível negociar». A perguntaE como é que chegaram a esse comprometimento? Não podiam fazer-nos o favor de se comprometerem com o resto?
E relativamente aos apoios atribuidos através da DGARTES, isto:
- Muito em breve a SEC terá que lançar, por exemplo, os concursos de apoios à criação da Direcção-Geral das Artes.
 - Por isso é que estamos a negociar com urgência.
 - Vai haver os 18 milhões para os compromissos já assumidos de apoios plurianuais?
 - Sim. Estão inscritos no Orçamento. Não vamos deixar de cumprir nenhuns compromissos.
 - Há o caso das estruturas teatrais [semelhante às da dança], a definhar...
 - Os apoios serão escrupulosamente cumpridos.
 - Ouvindo-o, parece que quase não vai haver um impacto. Há dinheiro para cumprir os acordos prévios da DGA, há...   - Fizemos cortes selectivos nas verbas de investimento. Em relação ao património, mantivemos a esperança em todos os investimentos. Houve cortes que chegaram aos 20, 30, até aos 60%. Diminuímos o investimento em 2012 neste e neste monumento, mas mantivemos no outro.
 - Mas que medidas concretas pode anunciar?   - O problema, muitas vezes, é anunciar medidas concretas para encher o olho. A nossa função não é encher o olho, a Cultura não é ornamento. Que medidas concretas quer? Quer saber se vamos avançar com o gabinete de exportação da música portuguesa? Vamos. Se vamos avançar com a lei da cópia privada? Vamos. Se vamos avançar com o gabinete de internacionalização da cultura portuguesa? Vamos. Isto é uma coisa que enche o olho? Faz-se uma festa de lançamento, de apresentação disso?»  
Bom, mas não parece que seja aquilo que decorre do que está no orçamento do Estado (embora dificil de decifrar), nem o do que se vai sabendo pela comunicação social,  e nomeadamente pelo avançado pelo Director Geral das Artes em entevista ao jornal i do dia 24 de Outubro passado, onde se pode ler:
«- A DG Artes tem as contas em dia?
 - Sim, 80% dos compromissos assumidos estão pagos, todos os montantes contratualizados estão regularizados. Os valores serão conhecidos no Orçamento do
Estado para o próximo ano.
 - Que verbas serão atribuídas pelo Orçamento do Estado ?
 - Não são conhecidas porque não estão especificadas, mas sabemos que haverá uma redução.
 - Qual o volme dos compromissos assumidos para apoios plurianuais?
 - Estão perspectivados cerca de 18 milhões de euros, mas este valor será actualizado em Janeiro, pois faz-se sempre no início do ano uma adenda ao contrato. (...).».

E estão a negociar com urgência com quem e o quê?
Também não pode deixar de se voltar a referir neste Blogue que o Senhor Secretário de Estado parece não conhecer os diplomas orgânicos que regem as Unidades de Produção do Estado - os Teatros Nacionais, e equivalentes - voltando a repetir-se do que já escrevemos sobre o assunto, insistindo: mas o que é que o Senhor Secretário de Estado não compreende? O que é que está errado na missão institucionalizada?
E já agora: quem acha que achava que «vestiria a pele de estalinista ?».
E para concluir, apetece trazer para aqui um comentário à entrevista no jornal Público, revelador:
« 
Já fala como um político. Fala sem dizer nada. Que há menos dinheiro, sabemos todos. Mas aquele que há vai ser investido como? Estar há 3 4 meses à frente de uma Secretaria de Estado e ainda demonstrar desconhecimento total da realidade cultural do país é assustador. Se levou 4 meses para apenas saber dizer "não há dinheiro" então não está lá a fazer nada pois essa informação já existia no dia em que aceitou ser secretário de estado (...)»


 

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