sexta-feira, 18 de abril de 2014

«ABRIL DE ESCRAVOS MIL ?»



Abril de escravos mil?
Comemorar como quem põe mais um prego no caixão é recusar a potência inscrita de liberdade, justiça e igualdade que Abril trouxe e que existe tão intacta quanto tem vindo, de novo, a tomar a forma de um desejo colectivo como o prova a manifestação abrilista de 15 de Setembro de 2012. Em Portugal deseja-se um novo Abril propulsionado pelo de 1974 – é por não ter sido cumprido, tendo acontecido, à vista como uma terra boa que se julga achar, que as potencialidades  são reais enquanto Abril não estiver para além da memória ou pela via da usurpação da sua carga simbólica convertido no que não é, um qualquer 25 de Novembro.
O que é necessário fazer é o que não se fez e foi possível em embriões de novas sociabilidades destruídos policialmente pela “normalização democrática” primeiro e pela integração europeia depois – esta nunca aconteceu pela convergência entre os níveis de desenvolvimento díspares e as desigualdades nacionais, no plano do aprofundamento das democracias versus qualidade das vidas de cada país. O que aconteceu foi uma dissociação progressiva entre países numa integração subalternizante para os do Sul, europas de primeira, segunda, terceira e por-aí-fora, a bitola das desigualdades não cabe na visão mecânica das estatísticas, há portanto a considerar nos países avançados as comunidades emigrantes que, com regresso de um racismo activista, colocam questões mais que problemáticas à ideia de uma Europa da inclusão – pelo contrário, como temos visto na Alemanha, em França, na Itália e na Inglaterra. A conversa das duas velocidades oculta muitas outras realidades, a velocidade em si não é uma via de integração, só tem como ideia aquela pobre ideia do desenvolvimento como fenómeno quantitativo em busca de novas qualidades, quando existem questões culturais, religiosas e raciais que não são irrelevantes.
A propaganda do establishment, assumidamente pragmática, a política real, culpando-te a ti, do Sul por seres quem és em nome de uma superioridade laboral especificamente alemã lança de novo o mote da superioridade racial e está presa à venda da ideia – as ideias são marketing para o poder conservador neoliberal europeu, convertidos ao consumo, como horizonte atingido, no lugar de Deus - de um comboio de duas classes, esquecendo que muitos viajam na carga e clandestinos, que outros estão parados onde nada chega, os interiores abandonados em que vivem populações idosas e que na fronteira da Europa muitos morrem numa espécie de catástrofe constante, como acontece em Lampedusa ou Melilla. Essa propaganda que afirma que apesar de tudo continuamos a parte do mundo civilizado mais civilizada enquanto deita para o lixo justamente o estado social que a caracterizava enquanto tal, esconde também, por exemplo, que a disparidade salarial na Europa civilizada pode chegar a abismos de distância como acontecia nas sociedades asiáticas de outrora: o salário de Gaspar é de 22.400 euros, muitas pensões rurais não atingem os 250 euros e esta diferença está longe de ser aquela que se verifica no sector bancário e privado em geral, em que há indivíduos, lembremo-nos dos Jardins Gonçalves das Opus Dei que são donos de pirâmides de ouro tendo enriquecido pela via da gestão, das administrações, do tráfico de influências e da especulação.
Abril interessa pelas conquistas, praticamente destruídas - não tendo sentido uma fixação na sua reconstrução mecânica como A política alternativa – mas interessa mais pelo que encerra de não realizado ao tempo: a revolução que se viveu como experiência mas que não se enraizou como democracia real.  ... Leia na integra.  

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