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Um excerto:
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A pergunta pode parecer básica, mas acho que lha posso fazer: o que é o teatro?
Estou numa fase da vida em que penso muito sobre tudo e sinto necessidade de fazer um balanço. O teatro é uma maneira de perceber as coisas e de viver. Através das peças e dos textos que nos chegam à mão e que vamos trabalhando, nós vamos falando, pensando, lendo coisas que vêm a propósito. E pensar a um ponto que envolve o próprio corpo. Passa por uma experiência pessoal, quando se trata de representar personagens que foram inventadas por pessoas de outras épocas. Temos de passar pela cabeça daquelas pessoas, pela sua maneira de pensar. É isso. E é também uma maneira de estar com as outras pessoas.
É sempre um trabalho de equipa, ou tem um lado solitário?
Só é solitário porque há sempre uma parte secreta no teatro. Há uma reserva indispensável, para os atores sobretudo, uma espécie de cofre-forte onde guardamos um manancial de coisas que se vai buscar, ou não, mas que são resíduos da experiência. Muitas vezes digo aos atores: "O que é importante para se ser ator? É ser uma pessoa interessante". Porque o público está sentado na plateia a olhar para outras pessoas - é isso que basicamente o teatro é, porque estão a fazer alguma coisa que elas propõem a alguém assistir. Se não forem interessantes, o que produzem não é interessante.
Como é que o público sente isso?
Isso sente-se mais numas peças do que noutras, mas é isto: na conceção de uma personagem, o que apresentas ao público como ator é o resultado da tua experiência de vida. No Tchékhov, que tem peças sobre as relações humanas de uma forma muito direta, nota-se imenso. Como é que se imagina a personagem de A Gaivota, o percurso daquela miúda? Se temos uma cabeça muito convencional, sai uma coisa sem graça. Quanto maior e mais rico for o nosso conhecimento da vida, mais rico é o resultado. Na comunicação com o público isso também acontece.
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