«a Itália perdeu um dos grandes protagonistas
do teatro, da cultura e da vida civil» - Matteo Renzi
«(...)
Durante a guerra, Fo
inscreveu-se no exército fascista. Explicou mais tarde que o fez para disfarçar
o facto de a sua família colaborar com a resistência. Ele o pai salvaram
refugiados, soldados aliados e cientistas, disfarçando-os de camponeses e
ajudando-nos a passar para a Suíça. Finda a guerra, Fo retomou os seus estudos
na Academia de Brera, em Milão, e estudou arquitetura. Mas teve um colapso
nervoso e não concluiu o curso. Em vez disso, dedicou-se à pintura e ao teatro,
começando a apresentar monólogos no estilo improvisado a que mais tarde ficaria
associado.
“NÃO SE PAGA NÃO SE PAGA”
Convidado
a atuar num espetáculo de variedades em 1950, desenvolveu o seu estilo
particular de humor, com efeito imediato sobre o público. Seguiu-se um convite
da RAI, a emissora pública italiana, para apresentar uma comédia a solo aos
sábados. Fo aproveitou para criar 18 monólogos satíricos, uns sobre a Bíblia,
outros com personagens de Shakespeare, que se revelaram suficientemente
escandalosos para o espetáculo ser cancelado.
Ele
passou-o então para o teatro ao vivo. Não muito depois, iniciou a sua atividade
com autor de canções. E teve o encontro mais decisivo da sua vida ao conhecer a
atriz Franca Rame, de uma família teatral, com quem se casou em 1954.
Ao
longo das décadas seguintes, trabalhou em cinema e em programas televisivos,
bem como em companhias teatrais por ele criadas. Os eventos de maio de 1968
levaram-no a fundar um coletivo teatral, Associazione Nuova Scena, que atuava
em centros comunitários e outros lugares com a ajuda do Partido Comunista.
Nunca se filiou pessoalmente, mas muitas das suas peças têm um forte conteúdo
político, até ao fim da sua carreira. Algumas das mais conhecidas levam por
título “Mistério Buffo”, “Morte acidental de um anarquista”, “Não se paga não
se paga”. (... ). Leia na integra no Expresso.
A Cornucópia fez «Não se Paga! Não se Paga!»
Quem viu, não esqueceu.
Como podemos verificar, a propósito da peça no site da Cornucópia:
«Diz-se no programa de NÃO SE PAGA! NÃO SE PAGA! no Berliner Ensemble que Dario Fo se tornou “para muita gente de teatro de esquerda na figura simbólica do seu sonho não realizado: a ligação do teatro de massas e de qualidade, de agitação e divertimento, o teatro como forum da luta política”. Não sei se o nosso sonho terá sido ainda exactamente esse. Mas o que é certo é que, de facto, é exactamente nessa zona que desde sempre andaram as nossas dúvidas e as nossas tentativas, como aliás se passou com todos os “filhos” de Brecht. E é nos caminhos desse “sonho” que toda a carreira de Dario Fo se desenrola. É, de facto, com emoção que descobrimos na carreira paradigmática de Fo, autor, actor, encenador, director de companhia, quase todos os passos, quase todas as ilusões, das diferentes tentativas que na nossa terra e nas outras se têm vindo a fazer para “acertar” num teatro de esquerda, militante, revolucionário, que acima de tudo combata a cultura da burguesia que tanta e tanta coisa tem vindo a “estragar”. O recurso à tradição popular, a criação de novos espaços teatrais, a teatralização das lutas operárias, as tournées em circuitos paralelos, a “corrupção” da TV oficial, a colectivização do trabalho teatral, tudo isso que são os vários passos inquietos da vida de Fo, tudo isso não nos soa a nosso conhecido? Pegamos de facto no teatro de Fo com a emoção de quem toca no trabalho de um camarada e de um camarada de trabalho. Com a alegria de lutar contra um inimigo comum. Mas também com a admiração que se deve a quem nestas andanças tradicionalmente votadas à desilusão, conseguiu ser mestre, conseguiu, além do mais, ter sempre o êxito para que trabalhou, um mestre de estratégia nestas batalhas da produção teatral em terras do capital. Com o receio de quem toca em segredos que não sabemos e que não queremos “estragar”. Mas com a curiosidade de quem os quer conhecer».