segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

MANUEL FALCÃO|«As falhas do inquérito aos consumos culturais»

 

  

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Excerto: «(...) Outro ponto que merece reflexão é a falta de comparação, no caso dos media, das conclusões do inquérito com números reais, que se conhecem, do que é a evolução dos hábitos de consumo em Portugal - TV, rádio, imprensa e redes sociais. Estes números estão bem estudados no mercado português e os resultados do inquérito, pelo menos na área da televisão e rádio, as únicas que tive ocasião de ver em detalhe até agora, distorcem em absoluto a realidade. Têm de facto resultados errados em termos do que é o comportamento estudado das audiências. Nomeadamente, o que o estudo refere como consumos mais procurados na TV e rádio é completamente falso face a estudos de audiência regulares.

Por outro lado, a forma como o consumo digital está apresentado não tem em conta que hoje este é essencialmente um canal de distribuição de conteúdos de imagem, som e texto, e não um meio em si - essa noção há muito foi abandonada. Os estudos que se fazem da imprensa em Portugal - e no resto do mundo, já agora - têm em conta, por exemplo no caso dos jornais, a leitura das edições em papel e das edições online, assim como aferem o que é ouvir rádio por exemplo no carro ou por streaming em qualquer lugar. Neste particular, o inquérito realizado também distorce os resultados ao separar o digital como se fosse um mundo à parte. Seria bom que em futuras edições algumas questões básicas como estas fossem mais cuidadas para que possa existir um retrato da realidade, que o presente estudo aborda mas não reflete, pelo menos em algumas áreas, de forma exata.

O inquérito conclui aquilo que já se sabia de outros estudos setoriais: o consumo cultural em Portugal é reduzido quando comparado com outros países europeus. Ora, uma das utilidades deste estudo, se queremos reverter a situação, para além de medidas de política cultural, é que se torna crucial abordar de outra forma a comunicação dos eventos culturais.(...)».

 

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