O contrário do mesmo
1. Opinião e voto
O problema não está no que se diz, mas no modo como se diz e na estrutura em que o que se diz faz agir o que se diz numa lógica não dominada, no território de um poder alheio. Portanto o que se diz no quadro do modo como nos fazem dizer é, desde logo, um modo de ceder aos gestores dos modos de dizer, serventuários de outros poderes, os proprietários que exercem um poder nunca legitimado, soberania ilícita e diária exercida pela homogeneização ideológica neoliberal e consumista e que, em última instância, se materializa em toda a sua potência de discricionariedade, fechando a loja, abrindo outra, deslocalizando instrumentos de produção opinativa, comprando outros directores, despedindo pessoas por motivos de opinião, submetendo os espaços informativos a uma comercialização total, a regras de propaganda publicitária, etc.
É como o voto, não serve aquilo para que supostamente é, mudar na realidade e não apenas de forças de poder, pois necessitamos dada a situação precária em que estamos metidos de uma mudança radical, mas serve para nos dizer à exaustão que a democracia existe, que ela é esse direito de votar, como se a isso se pudesse reduzir e isso bastasse, miragem elaborada de uma metamorfose anunciada e ansiada numa conjuntura em que o voto é parte de um mecanismo emaranhado de grandes tensões psico-sociológicas, no contexto de um drama eleitoral fulanizado e de folhetim, os eleitores de credo na boca, em cada um habitando um devedor mais que um cidadão e pela frente o credor vestido de anjo da guarda, de calculadora na mão. O exercício do voto enquanto drama exposto do trauma da dívida é deste modo uma coacção, o caminho estando predefinido, já que é claro que um devedor, sem meios claros de se libertar do que deve, é como um náufrago. E um país de devedores tendo a pagar um crédito insuportável, um paquete a afundar-se que espera, enquanto se afunda, que o casco possa ser reparado e que para isso se agarra aos “salvadores de serviço” no mercado partidário que mais perto estão dos que emprestam ou mandam no empréstimo, os credores nossos amigos ligados aos poderes políticos dominantes. Ao náufrago votante não se pergunta se quer a bóia ou não.
Mas os mecanismos da opinião ainda são mais sofisticados porque aquele que diz o que diz, nos tais contextos em que o que diz é condicionado pelos modos e formas a que é obrigado – esse trato civil politicamente correcto ao ponto da fusão entre trato e uma neutralidade para consumo cavalheiro dos telespectadores, estilo imposto ao lado das alarvidades dos programas para massas – é também obrigado ao afunilamento temático, ao primado da contabilidade por oposição a economia e da economia por oposição a cultura e à vida - o palhaço pobre do espectáculo da crise - a ser referida para fabricar lágrimas de impotência no telespectador eleitor, vias da passividade e da neurose.
Mas quem opina, o tal líder político e as suas cortes maiores ou menores de segundos e terceiros homens, é ainda sujeito ao fogo de barragem imediatamente posterior dos opinian makers que logo branqueiam o que se diz ao serviço do futuro inevitável que aí vem, e tudo encaminham para a solução que está pré decidida e que é definida pela lógica do empréstimo, em tudo mais banqueira que Europeia – ver a Europa de Shakespeare reduzida a uma instituição de crédito vulgar, isso sim, é a maior das tragédias e a verificação da sua falsa existência e consistência unitária. (...). TextoCompleto
O problema não está no que se diz, mas no modo como se diz e na estrutura em que o que se diz faz agir o que se diz numa lógica não dominada, no território de um poder alheio. Portanto o que se diz no quadro do modo como nos fazem dizer é, desde logo, um modo de ceder aos gestores dos modos de dizer, serventuários de outros poderes, os proprietários que exercem um poder nunca legitimado, soberania ilícita e diária exercida pela homogeneização ideológica neoliberal e consumista e que, em última instância, se materializa em toda a sua potência de discricionariedade, fechando a loja, abrindo outra, deslocalizando instrumentos de produção opinativa, comprando outros directores, despedindo pessoas por motivos de opinião, submetendo os espaços informativos a uma comercialização total, a regras de propaganda publicitária, etc.
É como o voto, não serve aquilo para que supostamente é, mudar na realidade e não apenas de forças de poder, pois necessitamos dada a situação precária em que estamos metidos de uma mudança radical, mas serve para nos dizer à exaustão que a democracia existe, que ela é esse direito de votar, como se a isso se pudesse reduzir e isso bastasse, miragem elaborada de uma metamorfose anunciada e ansiada numa conjuntura em que o voto é parte de um mecanismo emaranhado de grandes tensões psico-sociológicas, no contexto de um drama eleitoral fulanizado e de folhetim, os eleitores de credo na boca, em cada um habitando um devedor mais que um cidadão e pela frente o credor vestido de anjo da guarda, de calculadora na mão. O exercício do voto enquanto drama exposto do trauma da dívida é deste modo uma coacção, o caminho estando predefinido, já que é claro que um devedor, sem meios claros de se libertar do que deve, é como um náufrago. E um país de devedores tendo a pagar um crédito insuportável, um paquete a afundar-se que espera, enquanto se afunda, que o casco possa ser reparado e que para isso se agarra aos “salvadores de serviço” no mercado partidário que mais perto estão dos que emprestam ou mandam no empréstimo, os credores nossos amigos ligados aos poderes políticos dominantes. Ao náufrago votante não se pergunta se quer a bóia ou não.
Mas os mecanismos da opinião ainda são mais sofisticados porque aquele que diz o que diz, nos tais contextos em que o que diz é condicionado pelos modos e formas a que é obrigado – esse trato civil politicamente correcto ao ponto da fusão entre trato e uma neutralidade para consumo cavalheiro dos telespectadores, estilo imposto ao lado das alarvidades dos programas para massas – é também obrigado ao afunilamento temático, ao primado da contabilidade por oposição a economia e da economia por oposição a cultura e à vida - o palhaço pobre do espectáculo da crise - a ser referida para fabricar lágrimas de impotência no telespectador eleitor, vias da passividade e da neurose.
Mas quem opina, o tal líder político e as suas cortes maiores ou menores de segundos e terceiros homens, é ainda sujeito ao fogo de barragem imediatamente posterior dos opinian makers que logo branqueiam o que se diz ao serviço do futuro inevitável que aí vem, e tudo encaminham para a solução que está pré decidida e que é definida pela lógica do empréstimo, em tudo mais banqueira que Europeia – ver a Europa de Shakespeare reduzida a uma instituição de crédito vulgar, isso sim, é a maior das tragédias e a verificação da sua falsa existência e consistência unitária. (...). TextoCompleto
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