«O fundo da crise não tem a ver com o teatro» foi o titulo da minha participação no Encontro da Cerca deste ano, a que também se refere o post anterior, e que pode ler na integra no site do Teatro da Rainha. O início:O teatro vive de sempre em rota de colisão com os poderes, além do que estes limitam e decretam, Antígona sepultando o irmão e fá-lo convocando assembleias e partilhando com elas essa terceira potência que entre a sala e a cena se cria, a cena ficcionando e a sala reflectindo, emoção e razão imbricadas no prazer do enigma a descobrir – o teatro é entre essas duas potências a libertação de sentido. O poder olha-nos como arcaísmo, inutilidade num mundo funcional. É uma prática estranha ao consumo, não dá lucro dizem, é um parente irredutível da política, fora de moda e é ciência experimental, produz pensamento e deslegitima hierarquias, o cliché dominante, o mecanismo sistémico de produção da desigualdade e a injustiça em lei de classe, indaga os limites do humano e não conhece tabus.
É pela sua capacidade extraordinária – não ordinária - de escrutinar a verdade onde ela possa estar oculta, que o governo, tecnocrata e economicista, não o reconhece – a nossa questão é hoje a do nome, tiram-nos o rosto, a identidade. O governo não reconhece, ao teatro, os 2.500 anos de história e formas diversas de presença afirmada e futura, edifícios nos centros de cidades, literatura nas raias em digressão, arquitecturas - ou abrigos (Vitez)-, a encenação já com um século de experimentações, tecnologias de ponta em uso diário, nem lhe passa pela cuca, ao mesmo poder, fazer contas ao peso útil da sua leveza ágil específica, sem aferição estatística possível – Oh, crime! -, que é, tal como a beleza, avesso a aritméticas – o que vale a poesia e qual o preço da verdade revelada?
Quantos Édipos povoaram a história, que importância tem Gil Vicente para a cultura portuguesa e Brecht no contexto europeu? E Tartufo, O misantropo, Ricardo III, Inês Pereira, a frase “sapatos tens amarelos já não falas a ninguém”!? Os Lusíadas, transpostos para cena pelo António Fonseca, combatem a crise?
A crise combate-se com pensamento em acção ou é orçamental e apenas requer resposta orçamental, como se o mundo da governação não quisesse mais que equilibrar estatísticas à custa da amputação de direitos e vida? Existe uma crise sem sujeito social e político, pura emanação do contabilístico? (+).
É pela sua capacidade extraordinária – não ordinária - de escrutinar a verdade onde ela possa estar oculta, que o governo, tecnocrata e economicista, não o reconhece – a nossa questão é hoje a do nome, tiram-nos o rosto, a identidade. O governo não reconhece, ao teatro, os 2.500 anos de história e formas diversas de presença afirmada e futura, edifícios nos centros de cidades, literatura nas raias em digressão, arquitecturas - ou abrigos (Vitez)-, a encenação já com um século de experimentações, tecnologias de ponta em uso diário, nem lhe passa pela cuca, ao mesmo poder, fazer contas ao peso útil da sua leveza ágil específica, sem aferição estatística possível – Oh, crime! -, que é, tal como a beleza, avesso a aritméticas – o que vale a poesia e qual o preço da verdade revelada?
Quantos Édipos povoaram a história, que importância tem Gil Vicente para a cultura portuguesa e Brecht no contexto europeu? E Tartufo, O misantropo, Ricardo III, Inês Pereira, a frase “sapatos tens amarelos já não falas a ninguém”!? Os Lusíadas, transpostos para cena pelo António Fonseca, combatem a crise?
A crise combate-se com pensamento em acção ou é orçamental e apenas requer resposta orçamental, como se o mundo da governação não quisesse mais que equilibrar estatísticas à custa da amputação de direitos e vida? Existe uma crise sem sujeito social e político, pura emanação do contabilístico? (+).
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