O Grupo Parlamentar do PCP apresentou (no dia 10) um Projeto de Resolução na Assembleia da República onde se «Determina a divulgação imediata das condições de acesso e a abertura dos concursos de apoio às Artes», como se pode ver no Portal da Assembleia da República, sendo a recomendação:
«(...)
A Assembleia da República resolve, nos
termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição da República Portuguesa,
recomendar ao Governo:
a) a divulgação imediata dos
montantes, critérios e regulamentos dos concursos de apoio às Artes;
b) a abertura dos concursos
de apoio às artes até ao final do mês de Outubro;
c) a reposição, através do
Orçamento do Estado para 2013, dos valores retirados ilegitimamente às
estruturas de criação artística que resultaram de alterações unilaterais e
impostas pela DGArtes às estruturas».
E da argumentação do Projeto de Resolução:
«(...)
O Orçamento do Estado de 2012 previu para a
Cultura (Património, Artes, Cinema, Arquivos e Bibliotecas) uma verba abaixo
dos 200 milhões de euros e a execução dessa verba não chega a metade desse
valor. Isso significa que, na prática, o orçamento real para a Cultura não
atingiu os 100 milhões de euros e que o orçamento para o apoio às artes se viu
reduzido a 10 milhões de euros, representando uma quebra para metade do
executado antes da aplicação das políticas de “austeridade” contidas nos
sucessivos PEC e agora no Memorando da troica, verdadeiro Pacto de Agressão
assinado por PS, PSD e CDS e FMI, UE e BCE. A troica doméstica aplica
diligentemente e com afinco a ordem de destruição e sufoco emitida pela troica
estrangeira e encontra na Cultura um obstáculo em duas dimensões fundamentais:
- por um lado, a Cultura, como elemento de
elevação da cultura dos cidadãos, contribui de forma decisiva para o
aprofundamento da democracia, para a consciencialização política e social da
sociedade, para a emancipação coletiva e individual do povo português;
- por
outro lado, a livre produção e fruição representa uma despesa e uma alternativa
à ditadura do mercado que este Governo defende e estimula, também na área da
Cultura e das Artes.
Conjugando essas duas dimensões, entende-se a
obsessão do Governo em torno da destruição do tecido cultural, do esmagamento
da cultura e arte livre, independente, popular e alternativa. Para este
Governo, para o PSD e o CDS só existem duas culturas: a da elite que pode pagar
e da mediocridade e monocultura para quem não integra as elites. “A cultura
dominante é a da classe dominante” e o Governo demonstra bem o seu compromisso
de classe ao esmagar a cultura popular e livre e ao promover a cultura do
entretenimento e do entorpecimento social.
(...)
Nessa mesma audição parlamentar, o Sr. Secretário
de Estado da Cultura afirmava também um solene compromisso de abrir até
Setembro esses concursos. A acusação e denúncia do PCP, de que essas afirmações
se inseriam numa estratégia de dilatação de prazos e de desmobilização do
sector veio a comprovar-se integralmente. O mês de Setembro terminou e até hoje
a única medida tomada pelo Governo foi o anúncio colocado, a 28 de Setembro, no
sítio de internet da DGArtes onde se lê o seguinte:
“A
Direção-Geral das Artes está a aguardar a conclusão dos procedimentos
administrativos que decorrem das novas regras ditadas pelo Ministério das
Finanças.
Os Concursos Públicos de Apoio às Artes serão abertos assim que forem aprovadas as respetivas portarias de extensão de encargos.”
Os Concursos Públicos de Apoio às Artes serão abertos assim que forem aprovadas as respetivas portarias de extensão de encargos.”
Com este anúncio, não só o Governo assume que não
concluiu os “procedimentos
administrativos” no prazo que o próprio definiu, como remete a resolução do
problema e a realização de concursos para a aprovação de “portarias de extensão de encargos” que são da responsabilidade do
próprio Governo. Ou seja, o Governo assume involuntariamente a sua
irresponsabilidade e o incumprimento dos seus compromissos.
É urgente, aliás fundamental, que a Constituição
da República Portuguesa deixe de ser para os Governos apenas um papel e passe a
ser cumprida e respeitada por todos quantos, mentindo, a juram defender. Esse
passo, essa rutura criaria as condições para uma nova política cultural e para
a valorização orçamental do sector, como é exigido por forças diversas na
sociedade portuguesa, das que se destacam os movimentos em defesa da cultura,
os sindicatos e o movimento associativo popular. Só a rejeição do Pacto de
Agressão e a construção de uma alternativa política com os portugueses, com os
jovens, os homens e as mulheres que vivem do seu trabalho e que querem
contribuir para a produção cultural livre, porque dessa produção usufruem, com
essa produção aprendem, se expressam criativa e criticamente.
(...)». O Projeto de Resolução completo.
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