Acaba de ser lançado mais «um primeiro» estudo sobre as Indústrias Culturais e Criativas - o da imagem. Melhor, sobre os Mercados Criativo e Cultural na União Europeia. Designação que dá transparência, e é de aplaudir: é sobre o «mercado». E aqui estamos nós, como é costume, a divulgá-lo e com algumas das notas usuais:
- Indústria é indústria, nada contra, antes pelo contrário, e as indústrias ditas «culturais e criativas» devem ter o tratamento que é comum a todas as indústrias, e o que lhe é especifico, nomeadamente em termos de apoios estatais;
- Atentar no «caldeirão» que as Indústrias Culturais e Criativas são, que leva a concluir que tudo é Cultura. E embora estejamos com os que sublinham que a CULTURA está para lá da CULTURA ARTÍSTICA é evidente que o grande «caldeirão» desvia as atenções do SERVIÇO PÚBLICO EM CULTURA que não é indústria. Lembremos os sectores considerados, por exemplo, através do índice da publicação:
- Depois, não se pode deixar de continuar a reparar na dificuldade que há em elaborar estudos destes. Dada a falta de estatísticas adequadas, exigem tanta «mão-de-obra» dos autores que para alguém se inteirar convenientemente dos alicerces do trabalho teria, bem vistas as coisas, que fazer um outro estudo. E certamente estaríamos, depois, uma vez mais, perante «um novo estudo». Pode ler-se no documento:
«Data collection
Because reliable aggregated statistical data were
unavailable, we have adopted a “bottom-up” approach in
this study. Where aggregated data do not exist, the study
has constructed reliable estimates based on interviews
with key organizations, sector publications and ad hoc
statistical materials as well as verified market assumptions.
Data collection relies primarily on reliable industry
sources at national, European and global levels — see
bibliography for further details. With regard to turnover
data, we primarily used market research analyses and
Eurostat as complementary sources of statistics».
Bom, agora, o artigo de José Jorge Letria - O
que a cultura trouxe a Bruxelas - em torno do estudo, no jornal Público de hoje, e disponível também online. A nosso ver, só a abertura já vale a leitura, mas tem mais, dá-nos uma visão global do conteúdo do trabalho. O início:
«Erra quem pensar que a cultura fica privada de relevância política e de
influência social se não afirmar, como pressuposto básico, a sua expressão
económica e a sua capacidade de criar riqueza, emprego e coesão social. No
entanto, a evidência dessa realidade agiliza o debate com as forças políticas e
a indispensável comunicação com a opinião pública, para quem, muitas vezes, a
cultura é tida como um território secundário, subalterno e menor quando falamos
de recuperação económica e da confiança que as comunidades devem ter no futuro,
caso desejem encará-lo com combatividade e energia.
Basta pensarmos em
poetas portugueses como Cesário Verde, António Nobre e Camilo Pessanha, autores
de um só livro lido por muito poucas pessoas à data da publicação, para
percebermos até que ponto obras de escasso mercado mudaram a vida literária e
cultural dos seus países. Muitos outros exemplos igualmente eloquentes poderiam
ser dados,
mas estes têm valor de sobra para se perceber que nem só o que cria riqueza e
emprego tem o direito de erguer os olhos para o céu em busca de uma luz que, em
regra, lhe é recusada». Continue a ler.
Para terminar: na cultura e nas artes, avante com a INDÚSTRIA, avante com O SERVIÇO PÚBLICO. E sem este aquela terá a vida dificultada. E, claro, venham mais estudos!
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