O BB morreu, e custa sempre, de maneira
diferente, a morte de um amigo. E vêm as recordações: umas de muito
longe, do Diário Popular, quando a «miúda» almoçava na sua mesa. Chegava tarde,
enorme, e falava do fecho da edição desse dia, e da paginação, e de tudo ... Era vaidoso,
comentavam - vaidade boa, ainda bem, dizemos agora. Como gostávamos das
conversas que havia naquela mesa onde se misturavam jornalistas,
administrativos, chefes e subordinados, ... E a miúda ouvia,
e aprendia, e comparava com o que lhe tinham ensinado na escola, e aquilo
era diferente, e nem sabia que era possível. E foi ali que soube sobre greves,
censura, notícia, opinião, prisões, camaradagem, futebol, manchetes ... E
ternura em momentos pessoais difíceis. E houve a dedicatória nos livros:
decorou a do «As Palavras dos Outros» que guarda para si. Não é à toa que
a «miúda» diz que aquela foi a sua primeira faculdade. E o BB faz parte
dela. E lembra com carinho quando a mandaram tirar o verniz
vermelho das unhas porque não era a Elizabeth Taylor, e obedeceu,
conta hoje com uma gargalhada pelo meio: a reguila obedeceu.
Protegiam-na.
Depois, ao longo da vida, de forma mais
chegada ou mais distante, o BB esteve sempre presente porque se continuou com
amigos comuns, que vêm desses tempos, e num almoço bem recente o BB não
estava lá, mas esteve lá, e soubemos dele e da sua família e da fase difícil
que estavam a viver. E ontem o desfecho que nos deixou a todos mais tristes. E é
assim que o primeiro abraço vai para a Isaura, sua mulher. Já não vamos
encontrar o BB, por aí, e já estamos, já estávamos, com saudades. Mas
de certeza que vai continuar nos encontros dos amigos do DP - e a ser
lembrado em especial pelas mulheres. Pela Lucília, a Felicidade, a Natália, a
Manuela, a Rosinha ... Ele ia gostar, e nós fazemos-lhe o gosto, e depois
contamos à Isaura.
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«Um país sem memória, ou que não cultiva
a recordação das coisas, está irremediavelmente condenado» /Baptista-Bastos
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