Um excerto: «(...) Ou seja, estamos na vanguarda no plano do discurso e da reivindicação
para que outros façam; e estamos na retaguarda quando se trata de
efectivamente fazer. Quem tem culpa de tal estado de coisas? A quem
atribuir a vergonha de sermos o povo que menos visita museus ou o que
menos considera os bens patrimoniais no planeamento de férias? Às
políticas governativas ou autárquicas das últimas décadas, as quais,
passado o impulso dado pelo “dia inicial inteiro e limpo” do qual
nasceram cerca de 200 Associações de Defesa do Património, se rendem
cada vez mais ao mercantilismo (“quem quer cultura, paga”)? Sim, elas
pouco ou nada têm ajudado a corrigir este terceiro mundismo quase
endémico. Mas não nos iludamos: a culpa mora principalmente em nós, seja
este nós “o povo”, sejam os que dele nos consideramos intelectuais e
nos encapsulamos prazerosamente nos poucos bares onde todos nos
conhecemos, todos (mal)dizemos e pouco fazemos. Poderá a coisa mudar um
dia? Diríamos que sim, com o optimismo que a militância associativa e
cívica nos manda ter. E talvez a gazua esteja na introdução do ensino
para o Património Cultural nas escolas, ambição de 93% dos respondentes
portugueses, que neste particular dão cartas. (...)».
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