Excerto:
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O que têm os museus oferecido por estes dias, afinal? Em grande, em esmagadora parte (nunca o adjectivo soube tão bem aplicar), apresentações simples de peças ou colecções (por vezes com bonitas músicas de fundo), registos em vídeo de visitas guiadas ou comentário de peças em exposição. Por vezes, o mais do mesmo é servido sob forma exuberante, usando plataformas como o Google Arts & Culture: diz-se que se fazem assim “exposições digitais”, pretendendo até que as mesmas são interactivas porque permitem fazer zoom até ao pormenor do pelo da barba. Ou seja, oferecem-nos aquilo que em visita presencial, completada talvez por leitura de catálogo (impresso ou digital) poderíamos igualmente ver, com a vantagem de podermos andar à volta, sentir o objecto e o seu entorno, espreitando porventura até para o tardoz da tábua da personagem que tal barba tem.
Repito para que não pareça ingrato ou azedo: estes produtos são úteis, fazem falta sobretudo a quem esteja impedido de ir ao museu, não por estes dias, que hão-de passar, mas sempre, seja porque vive na Cochinchina e, podendo, não quer viajar, seja porque vive na Brandoa e, querendo, não pode visitar (ou pior ainda: podendo também, não quer, não sente o desejo de visitar). Mas não nos queiram dizer que tais produtos são os que melhor se adequam ao meio internético e ao tempo que vivemos. Não, são simplesmente triviais, ainda que “modernaços”. Ora, para fazer o trivial, melhor fora ser modesto, de tal modo que a bota bata com a perdigota: registos simples, a mera gravação em vídeo de power points pode bastar e será seguramente mais honesta. (...)».
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