«A pandemia de Covid-19 e, sobretudo, a gestão política e económica que dela se faz, criou um contexto social, político, económico e até existencial que abriu um novo ciclo histórico na implantação de um regime securitário à escala global, nas relações de trabalho e no processo de integração europeia. É ele que configura o que se tem chamado novo normal. Mais do que fixar simplesmente um retrato histórico de época, o que aqui pretendemos é intervir no debate sobre os caminhos que Portugal e o mundo seguem num contexto tão desafiante como o atual. Este é, por isso, um livro descomplexadamente político e intencionalmente interpelativo da realidade e de quem o lê. A nossa é uma convocatória para uma reflexão crítica que se converta em tomada de posição». +.
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A propósito no jornal Público de hoje:
De lá:
«(…) Gouveia e Melo é um caso de manual de como uma gestão securitária e ansiogénica de uma doença contagiosa pode sebastianizar algumas personagens que, de outra forma, ninguém conheceria fora do seu mundo profissional. De facto, contando com o empenho de milhares de trabalhadores da saúde pública que já lá estavam antes de ele chegar ao cargo, Gouveia e Melo limitou-se a substituir um coordenador que acabara de assumir o processo num momento em que o grau de ansiedade social atingira níveis elevadíssimos (segundo confinamento, recolher obrigatório, enésimo estado de emergência decretado pelo Presidente da República) e todas as esperanças se centravam nas vacinas. Só um ambiente desta natureza explica que nesse mesmo momento se tenha deixado fechar um processo de negociação internacional da aquisição das vacinas sem transparência alguma, em versão capitalismo de catástrofe, ou que se promovesse teses autoritárias que descrevem a democracia e direitos humanos e sociais básicos como incompatíveis com a gestão da saúde pública porque, como repete o almirante, estamos em guerra. É justamente o que eu, Tiago Vieira e Filipe Guerra procuramos demonstrar em O novo normal. Securitização, precariedade e (des)integração europeia em tempos de pandemia que acaba de ser editado pela Página a Página. A lógica da securitização da pandemia puxando-a para dentro do terreno, politicamente sempre escorregadio, da segurança nacional veio permitir testar a recetividade social e política para o projeto que há muito se vem propondo do reforço do papel político das Forças Armadas e das organizações internacionais em que elas, por força dos tratados, se articulam. Pelo caminho, o novo almirante, que visivelmente se compraz com o palco que lhe têm oferecido como a ninguém, não tem cessado de oferecer as suas teses sobre como “endireitar” Portugal, de como é “impiedoso com os malandros” e parece oferecer-se para resolver o “problema cultural” português da “falta de liderança”. Onde é que já ouvimos isto?...»
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