quinta-feira, 23 de agosto de 2018

CULTURA | ARTIGO DO SEMANÁRIO EXPRESSO | «Ninguém percebe o que será o maior orçamento de sempre na cultura»



O artigo a que se refere imagem  centra-se no orçamento para a cultura - o «orçamento» qual eucalipto que suga toda a discussão sobre a cultura e as artes. É certo que muitos vão dizendo, ao seu jeito, que não há um problema que há vários problemas - e o orçamental é «apenas» um deles. E devia preocupar-nos que ninguém consiga apresentar CONTAS CERTAS e explicações sobre as opções. Mas as pessoas ouvidas pelos jornalistas dão boas pistas para início de conversa, e evidenciam o quanto falta saber. Desde logo um destaque que faz sintese de peso:

«É PRECISO SABER O QUE É A CULTURA PARA  DECIDIR O QUE FINANCIAR, DIZEM VÁRIOS  PRODUTORES CULTURAIS»

E o início:








“Um por cento do orçamento? Que contas são estas que ficam bem num slogan? Há muito tempo que não sei o que é cultura”, diz Jorge Silva Melo, criador dos “Artistas Unidos”, ao Expresso. Como uma das vozes mais críticas à política cultural que tem sido praticada nos últimos anos, o encenador reage com desconfiança à entrevista de António Costa ao Expresso, em que o primeiro-ministro anunciou “o maior Orçamento de sempre para a Cultura” em 2019.
Para este agente cultural, é preciso definir o que entra no pacote. “Cultura também é comunicação social, claro, e é turismo, exportações” — ironiza Jorge Silva Melo — “o bom nome de Portugal, conservas e negócios estrangeiros, Bienal de Veneza e Eurovisão, e comidinhas boas”. A definição é muito alargada: “É material e imaterial, é filmes e é dança, é lazer e investigação, é claustros e Altice Arena, marchas e, tudo somado, o dinheiro que há, bem aproveitadinho ou esbanjado (que também o há), é muito mais do que o tal 1%.”
“O GOVERNO CRIOU UMA MONSTRUOSIDADE QUINQUENAL [O APOIO ÀS ARTES], UM MANIFESTO TOTALITÁRIO AGORA ATRASADO E INOPERANTE”, DIZ JORGE SILVA MELO
Até para António Costa a questão sobre o que cabe na “cultura” parece não ser simples. Uma coisa é o orçamento do Ministério. Outra são os gastos em cultura, que atravessam vários ministérios. “Se tivermos em conta que, no Orçamento do Ministério da Cultura está, por exemplo, a componente da comunicação social, que podemos tirar, e que fora do Ministério estão orçamentos fundamentais como o Instituto Camões ou o orçamento do ensino artístico, já estamos muito para lá do 1% do PIB”, afirmou o primeiro-ministro na entrevista ao Expresso publicada na semana passada. O atual OE previa 118 milhões de euros de despesa em Cultura e 190 milhões para a comunicação social. No total, seria uma despesa consolidada de 480,5 milhões, incluindo também entidades com receitas próprias e o sector da comunicação social.
COMO “ENCHER O VAZIO”
Esta discussão continua a ser debatida por várias figuras do mundo das artes. “A cultura não é uma coisa abstrata. Implica intervenção efetiva e transformativa na sociedade”, diz Luís Galvão Teles, produtor e realizador de cinema. “Segundo as declarações do primeiro-ministro, parece que é uma espécie de vazio que se enche com algumas atividades e acontecimentos suportado por um pequeno nicho de investimento financeiro.” Galvão Teles considera que, nos últimos tempos, tanto no cinema como nas artes em geral, tem havido golpes de cintura para fugir à verdade e ao compromisso”, atrasando decisões.


UM MANIFESTO “TOTALITÁRIO”
Antes da distribuição das verbas do Orçamento é importante para Silva Melo saber o que é o estado das artes. Para o definir “é preciso começar a trabalhar já e não esperar pelo próximo governo, nem nos encurralarmos em slogans graficamente interessantes, mas ocos (como o 1%)”. Para o artista, “perderam-se três anos”, e “não se pode perder nem mais um dia”. Este Governo — “o tal da ‘geringonça’ de que sou e serei inabalável apoiante”, diz ao Expresso — teve entre mãos um trabalho enorme: “Reconstruir aquilo que há décadas ruiu, e lançar-se numa ação determinada do apoio às artes. Esperámos que o fizesse com coragem e ponderação. Mas perdeu demasiado tempo em estudos paracientíficos e criou uma monstruosidade quinquenal, o tal ‘novo modelo de apoio às artes’, manifesto totalitário agora informatizado mas atrasado, inoperante, alvo da maior contestação daquilo a que, eufemisticamente, se designa por ‘sector’ e são 100 gatos pingados que terão algum ‘valor simbólico’ mas vivem com pouco mais do que o ordenado mínimo.” (...)».
  
Fosse o setor outro e um artigo destes levaria a que não se largasse a questão até ficar esclarecida. Estamos no dominio dos pressupostos e se aí há dúvidas como se pode chegar a UMA POLÍTICA PÚBLICA digna desse nome? A qualidade do trabalho vindo do institucional retrocedeu, retrocedeu ..., e por mais que o SETOR «ofereça» reflexão oportuna e útil, acaba por cair em saco roto ... E faz sentido  trazer para aqui, o post imediatmente anterior, em torno de um artigo de opinião de José Jorge Letria:CULTURA | PARA LÁ DO «SEU MAIOR ORÇAMENTO DE SEMPRE» | «O que foi e não foi feito neste dominio mostra que formar o próximo governo tem de encontrar para esta função quem esteja, de facto, à altura dela».

Tenhamos esperança, pode ser que as «férias» agitem quem deva ser agitado!

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