quarta-feira, 18 de abril de 2012

«A CULTURA CONTRA A CRISE»

«A Cultura Contra a Crise» é um artigo de Guilherme de Oliveira Martins, Presidente do Tribunal de Contas*,  publicado no jornal Público de hoje. Do meu ponto de vista, devia ser texto obrigatório em muitas áreas. Não está disponível online, por isso apenas o começo (mas lá que me apeteceu transcrevê-lo todo, apeteceu):«Assinala-se hoje o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, sendo este ano proposto o tema “Do Património Mundial ao Património Local — Proteger e Gerir a Mudança”. Temos de entender que a cultura entra na ordem do dia como sinal de criatividade e de humanismo. No fundo, só há economia para as pessoas se compreendermos as raízes, a história, a memória, a herança e a cultura como criação. Assinalamos ainda o 40.º aniversário da aprovação da Convenção para a Proteção do Património Mundial Cultural e Natural, adotada na 17.ª Conferência Geral da UNESCO de 1971, importante instrumento internacional no qual se assume um compromisso solene de defesa da cultura e da natureza, num tempo em que os riscos de destruição do património e de esgotamento dos recursos fetam gravemente o desenvolvimento humano. Com efeito, “o património cultural e o património natural estão cada vez mais ameaçados de destruição, não apenas pelas causas tradicionais de degradação mas também pela evolução da vida social e económica que os agrava através de fenómenos de alteração ou de destruição ainda mais importantes”. Este documento tornou-se referencial, uma vez que consagra obrigações especiais no campo da cultura. Os monumentos, os conjuntos e os lugares de interesse devem ser devidamente considerados e respeitados. Contudo, não se trata apenas de cuidar das edifi cações, mas sim de considerar essas marcas de civilização como polos de desenvolvimento humano. As raízes e a história dizem-nos de onde vimos, mas também apontam para a necessidade de nos respeitarmos mutuamente. As culturas só se enriquecem abrindo-se e cooperando. Apenas dando e recebendo podemos contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável e aberto. Por isso, falar de Monumentos e Sítios é abrir horizontes para que a sociedade assuma projetos de humanismo e de solidariedade, de respeito, de liberdade e de igualdade. A cultura é marca de exigência e de rigor. Através dela encontramos a distinção da qualidade. Através dela percebemos que a economia e a poupança são valores positivos contra a destruição e o desperdício. Eis por que razão a cultura tem de estar no centro da ação contra a crise, contrapondo sobriedade à mera austeridade. (...)».
E o fim: «Compreendendo-se que aquilo que mais vale é o que não tem preço, numa sociedade que se deixou arrastar por um mercantilismo cego, pelo fundamentalismoo preço e pela lógica de casino, temos de entender que, longe de ser um luxo, a cultura (vista num sentido amplo, ligada à educação e à ciência) está no coração das políticas públicas contra a crise. Criar espaços de qualidade, de inovação e de diálogo entre pessoas e comunidades torna-se fundamental e urgente. Contra o isco do esgotamento de recursos temos de contrapor um desenvolvimento humano sustentável no qual a cultura esteja no centro como primeira prioridade.»
*  Tenho sempre a ideia que artigos de pessoas em funções públicas como é o caso de  Guilherme de Oliveira Martins não deviam ter os seus trabalhos trancados. Bem sei da crise também dos Jornais, mas ainda ssim...

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