terça-feira, 21 de maio de 2024

VIVA LUÍS RAPOSO! | POR CONTINUAR A NOS AJUDAR A LER A GOVERNANÇA |«(...)os relatos daquilo que a novel ministra da Cultura teve para dizer sobre museus e património cultural aparecem como retórica tribunícia, uma espécie de “vendaval chegou”, um teatro de corte de fala grossa em situação de vida frágil»

 

 
 
A parte final:
 «(…) Vejo nos arroubos discursivos do momento uma mistura explosiva de falta de conhecimento da realidade, desinformação e bastante deselegância. A realidade não é aquela que a ministra da Cultura julga existir, em certos casos com enorme pena minha. A maior parte dos museus, e praticamente todos os palácios e monumentos, do Ministério da Cultura não têm já capacidade técnica própria residente capaz para assumirem completamente todos os procedimentos inerentes à autonomia administrativa. Nem a expressão mágica “centros de custos" (em que a MMP vinha já trabalhando) resolverá o problema do pé para a mão. Longe vai o tempo em que cada museu tinha o seu “orçamento privativo” (com o seu número de contribuinte) e o seu próprio quadro de pessoal (e não será a demagogia da redistribuição de pessoal recentemente contratado para a MMP que irá resolver este problema, porque até a direcção técnica exclusiva lhes falta às vezes, dado que um mesmo director exerce o mandato em mais do que um museu).

Sem dúvida, deve regressar-se a esse estádio de autonomia administrativa e reforçar-se a autonomia estratégica, dispostas ambas na lei-quadro dos museus. Mas fazê-lo de supetão seria, isso sim, desastroso. Seria talvez recuar até 2007, quando a dita “autonomia” significava para a actual ministra apenas a autonomia do museu que dirigia, o Museu Nacional de Arte Antiga, tendo tratado acintosamente os seus colegas dos outros museus nacionais. Sobre o assunto escrevi na altura um texto contundente (“Museus nacionais e o caso Dalila Rodrigues, os pontos nos is”, PÚBLICO, 25 de Agosto de 2007) de que não me arrependo.

Admito que a ministra destes meses, dificilmente destes anos, tenha, entretanto, evoluído. Talvez veja agora o mundo pela lente acumulada do MNAA e do Mosteiro dos Jerónimos [que dirigiu desde Maio de 2019]. Talvez partilhe até o projecto para fazer do conjunto museológico e monumental de Belém uma nova "ilha de abundância" (como no Monte da Lua, em Sintra), num país "de tanga" em todo o seu restante parque patrimonial. Se for assim, voltaremos a discordar. Mas não julgo que haja tempo ou ambiente para tal, porque tudo isto não passará provavelmente de um exemplo mais do velho aforismo das entradas de leão, para saídas de… sendeiro, ouso prever».


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Já o tínhamos aventado, quando nos referimos ao Perfil das atuais governantes da Cultura, adiantando-se que não se lhes conhecia ideias sobre a generalidade do setor. Agora, se   «há  falta de conhecimento da realidade, desinformação e bastante deselegância» na esfera dos museus,  teme-se sobre o que virá aí para o resto ... Que cansaço! Ah, e cá temos uma vez mais de referir os PERFIS PARA DIRIGENTES DO APARELHO ESTATAL DA CULTURA. Quase no domínio do «mistério»! Perante a diversidade para o mesmo lugar,   não se querendo utilizar a palavra RESPEITO (claro, a falta dele), no mínimo, indo ao artigo, uma  DESELEGÂNCIA para com o cidadão e as populações ...
 
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atualizado 
 
 

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