A parte final:
«(…) Vejo nos
arroubos discursivos do momento uma mistura explosiva de falta de conhecimento
da realidade, desinformação e bastante deselegância. A realidade não é aquela
que a ministra da Cultura julga existir, em certos casos com enorme pena minha.
A maior parte dos museus, e praticamente todos os palácios e monumentos, do
Ministério da Cultura não têm já capacidade técnica própria residente capaz
para assumirem completamente todos os procedimentos inerentes à autonomia
administrativa. Nem a expressão mágica “centros de custos" (em que a MMP
vinha já trabalhando) resolverá o problema do pé para a mão. Longe vai o tempo
em que cada museu tinha o seu “orçamento privativo” (com o seu número de
contribuinte) e o seu próprio quadro de pessoal (e não será a demagogia da
redistribuição de pessoal recentemente contratado para a MMP que irá resolver
este problema, porque até a direcção técnica exclusiva lhes falta às vezes,
dado que um mesmo director exerce o mandato em mais do que um museu).
Sem dúvida, deve regressar-se a esse estádio de autonomia administrativa e
reforçar-se a autonomia estratégica, dispostas ambas na lei-quadro dos museus. Mas fazê-lo de supetão
seria, isso sim, desastroso. Seria talvez recuar até 2007, quando a dita
“autonomia” significava para a actual ministra apenas a autonomia do museu que dirigia, o Museu Nacional de Arte
Antiga, tendo tratado acintosamente os seus colegas dos outros museus
nacionais. Sobre o assunto escrevi na altura um texto contundente (“Museus
nacionais e o caso Dalila Rodrigues, os pontos nos is”, PÚBLICO, 25 de Agosto
de 2007) de que não me arrependo.
Admito que a
ministra destes meses, dificilmente destes anos, tenha, entretanto, evoluído.
Talvez veja agora o mundo pela lente acumulada do MNAA e do Mosteiro dos
Jerónimos [que dirigiu desde Maio de 2019]. Talvez partilhe até o projecto para
fazer do conjunto museológico e monumental de Belém uma nova "ilha de
abundância" (como no Monte da Lua, em Sintra), num país "de
tanga" em todo o seu restante parque patrimonial. Se for assim, voltaremos
a discordar. Mas não julgo que haja tempo ou ambiente para tal, porque tudo
isto não passará provavelmente de um exemplo mais do velho aforismo das
entradas de leão, para saídas de… sendeiro, ouso prever».
*
* *
Já o tínhamos aventado, quando nos referimos ao Perfil das atuais governantes da Cultura, adiantando-se que não se lhes conhecia ideias sobre a generalidade do setor. Agora, se «há falta de conhecimento
da realidade, desinformação e bastante deselegância» na esfera dos museus, teme-se sobre o que virá aí para o resto ... Que cansaço! Ah, e cá temos uma vez mais de referir os PERFIS PARA DIRIGENTES DO APARELHO ESTATAL DA CULTURA. Quase no domínio do «mistério»! Perante a diversidade para o mesmo lugar, não se querendo utilizar a palavra RESPEITO (claro, a falta dele), no mínimo, indo ao artigo, uma DESELEGÂNCIA para com o cidadão e as populações ...
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atualizado
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