De facto, ao lermos o artigo a que se refere a imagem somos levados a pensar que o que lá se regista pode ser alargado a demais áreas culturais e artísticas. Por exemplo, à memória na esfera da DGARTES que sistematicamente trazemos para o Elitário Para Todos - facilmente se identificam «buracos negros». «Negríssimos», para utilizarmos expressão usada no texto de Luís Raposo.
Recorte:«(...) Primeiro, recordando que a arqueologia é por definição o terreno do material em história e os museus são os guardiões do mesmo, importa sublinhar o carácter irredutível das coisas e o quanto elas são necessárias e satisfazem a nossa mediação com o mundo. Pessoa, sob pseudónimo de Alberto Caeiro, dizia-o de forma magistral para arqueólogos: “A espantosa realidade das coisas / É a minha descoberta de todos os dias. / Cada coisa é o que é / E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, / E quanto isso me basta”.
Depois, repetiríamos o texto que serviu de mote a um dos primeiros programas televisivos do Ephemera, de José Pacheco Pereira: “os objectos são contentores únicos do tempo e de estórias. Eles contam quem somos e quem já fomos. O passado também vive em forma de coisas. E porque o passado não deve ser apagado é nossa obrigação preservá-lo através dos objectos que o contam. Com eles as memórias são mais eternas”. Assim é. E não é preciso recuar ao tempo da história sem escrita para o demonstrar: basta recordar como Leite de Vasconcelos andou afanosamente a recolher, no 5 de Outubro de 1910, caixas de fósforos, latas de pomadas ou xailes bordados artesanalmente, dando origem a uma rara fonte de conhecimento acerca de como o povo comum viveu a revolução republicana, no seu quotidiano.No fundo, o que está em causa quando falamos de coisas e da sua preservação é o reconhecimento de como vivemos imersos nelas. Nada que outros, há bastante tempo, não tenham já dito, é claro. Michel Foucault, por exemplo, há mais de meio século, afirmava na sua Arqueologia do Saber, dando a “monumento” o sentido amplo de objecto material: “nos nossos dias a história é o que transforma os documentos em monumentos… a história tende para a arqueologia, para descrição intrínseca do monumento”. Assim é e assim será, desde que saibamos preencher os “buracos negros” que a falta de meios, aliada à falta de visão, vai insidiosamente instalando em nosso presente».
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