Neste blogue temos comentado os concursos para dirigentes na Administração Pública, em particular para os organismos da cultura, e não só os que se referem aos dirigentes superiores, ou seja, de 1.º nível, mas também aos de 2.º nível. E só pelo que vai acontecendo neste setor dá para perceber que alguma coisa não está a funcionar. Lembremos, por exemplo, a maneira como se recorreu ao regime de substituição. E sempre fomos dizendo que era bem capaz de tudo ser legal, e que tudo estava a ser feito às claras. Enfim, tudo ou quase tudo está no Diário da República, e quem dominar o sistema acaba por ver as coisas ..., e ter dúvidas. Mas tanto quanto sabemos há reclamações a decorrer ... e mais tarde ou mais cedo a verdade será apurada. Entretanto, eis que a questão dos concursos vem para as primeiras páginas dos jornais, e até que enfim o assunto é capaz de ter o debate que merece, e antecipamos que no fim não teremos motivos para satisfações. Primeiro com o sistema, depois com casos particulares que certamente engrossarão a indignação de portugueses face à coisa pública. Ilustremos:
Veja a notícia aqui. |
Convenhamos, estragar «arranjinhos» é capaz de não ser algo muito exaltante para um sistema, para uma comissão. Não deveria ser qualquer coisa como ATRAIR OS MELHORES! E pelo que se sabe, pelo menos dos melhores não se candidatam.
E pelo que se leu, apenas se detetam erros grosseiros nos perfis. Ora, haverá quem tenha a habilidade suficiente para levar a água ao seu moinho sem que isso seja óbvio.
Por outro lado, neste momento em que tanto se discutem as funções do Estado, e muitos apontam a irracionalidade que presidiu ao PREMAC, quais serão as coordenadas que se seguem no desenho dos perfis? É capaz de se estar a fazer uma reforma da Administração Pública por esta via. A condicionar o futuro.
E é muito dificil seguir os CONCURSOS - saber do ponto de situação de todos e de cada um em particular.
Exemplifiquemos para algumas destas matérias com situações que se passam na cultura:
- Diretor- Geral para a Direção-geral das Artes: onde é que ficamos a saber que a CRESAP não conseguiu identificar três candidatos para submeter à escolha do Secretário de Estado da Cultura ? E será que houve reclamações face a este resultado por parte de candidatos? Qual é o calendário que se segue?
- Também para a Direção-geral das Artes, em algum momento no site da CRESAP foram indicados os três candidatos selecionados para Subdiretor-geral. E quando é que acaba o processo? Também para esta situação, houve reclamações?
- No site da CRESAP ainda há pouco se via o Perfil para a Direção-Geral do Livro, do Arquivo e das Bibliotecas, e era ineressante, por exemplo, ver a área de formação preferencial: Linguas e Literatura, Filosofia, História, Arquivo e Documentação. Admitindo que não haverá muitos candidatos que tenham duas ou mais destas licenciaturas, algo ficará a descoberto. Por outro lado, aquela Carta de Missão (como aliás muitas outras para que nos têm chamadao a atenção) são mais uma relação de atribuções e competências do que aquilo que se pretende com uma carta de missão ... Será que a CRESAP não deu por isso ! Mas bastaria comparar com as Breves Recomendações Para a Elaboração da Carta de Missão disponível na internet.
Por fim, por agora, repare-se no número de concursos que estão por abrir, em geral. Atente-se na instabilidade que marca a vida dos serviços da cultura, em particular: dos que estão, já se sabe que uns não vão ficar porque não se candidataram por vontade própria ou porque não puderam. E os novos, salvo raras expeções, ainda estão a caminho ... mesmo que fiquem os que já lá estão. Quanto tempo é que tudo isto vai demorar ? Não se sabe. Mas a TRANSPARÊNCIA enche a boca de todos: dos que a pedem e dos que têm de a garantir ! E quanto à estabilidade e motivação para gerir, estamos conversados. Num momento em que a turbulência marca a nossa vida coletiva, os concursos correm serenamente como se estivessemos na maior das normalidades !
Um leitor chamou-nos a atenção para o post Vivemos Tempos do Diabo, sobre estas matérias, no Blogue Portugal dos Pequeninos, e é de ler, contribui para não simplificarmos o que é complexo.
Rematando, como se vê, a questão dos concursos está para lá do que se ouviu hoje num programa da rádio, mais ou menos isto: «Os boys continuam a existir mas há uma comissão que lhes está a contrariar a vida». É importante mas é pouco. O problema é maior.
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