Três projetos
Num livro recente de Jane Burbank e Frederick Cooper, dois historiadores norte-americanos que ensinaram na New York University, damo-nos conta de um renovado interesse em refletir sobre os problemas do presente. A seu modo, ele é comparável ao que demonstraram os historiadores dos “Annales” e, antes deles, o grupo da Biblioteca Nacional. “Post-Imperial Possibilities: Eurasia, Eurafrica, Afroasia” (Princeton UP, 2023) foi objeto de uma concorrida discussão, muito recentemente, num fim de tarde da Biblioteca Nacional de Portugal, na sequência de um evento semelhante organizado, na Universidade de Coimbra, por Miguel Jerónimo e José Pedro Monteiro. Burbank é uma conhecida historiadora do império russo, enquanto Cooper se especializou na história de África, com especial incidência na denominada África colonial francesa. Em 2010, ambos publicaram uma história dos impérios e dos processos de formação das sociedades coloniais, intitulada “Empires in World History. Power and the Politics of Difference” (Princeton UP).
No seu novo livro, Burbank e Cooper põem em causa uma das interpretações mais generalizadas da história dos séculos XX e XXI, centrada na existência de um processo linear de passagem dos impérios aos Estados nacionais. No entender dos autores, os nacionalismos, alguns fortemente anticoloniais, não fizeram desaparecer as aspirações imperiais, nem as federações ou as formações políticas situadas além do modelo do Estado-nação. Do ponto de vista dos projetos imperiais ou orientados para a construção de grandes espaços de convergência ou integração, existem diferentes tempos de intensidade exemplar e será possível fazer uma história comparada de três formações que foram recorrentes ao longo do século XX.
«(...) Por sua vez, a Comunidade Europeia acabou por se transformar numa espécie de projeto falhado, talvez mesmo numa desilusão ou pelo menos numa experimentação política em aberto, devido ao facto de se ter mostrado incapaz de captar a imaginação política ou de conseguir motivar, na sua defesa, os próprios europeus que dela beneficiam. Enfim, o mundo do presente, escusado será negá-lo se tivermos em conta os cálculos de Piketty e outros economistas, aponta para desigualdades crescentes, desde a Segunda Grande Guerra; e, se é certo que muitos são os movimentos que procuram um remédio para a pobreza, também aumentam os movimentos de aguda xenofobia e de recreação, crescentemente confiante, do racismo em relação aos imigrantes. (...)».
«Synopsis "empires in world history,power and the politics of difference"
The theory of Eurasianism was developed after the collapse of imperial Russia by exiled intellectuals alienated by both Western imperialism and communism. Eurafrica began as a design for collaborative European exploitation of Africa but was transformed in the 1940s and 1950s into a project to include France’s African territories in plans for European integration. The Afroasian movement wanted to replace the vertical relationship of colonizer and colonized with a horizontal relationship among former colonial territories that could challenge both the communist and capitalist worlds.
Both Eurafrica and Afroasia floundered, victims of old and new vested interests. But Eurasia revived in the 1990s, when Russian intellectuals turned the theory’s attack on Western hegemony into a recipe for the restoration of Russian imperial power. While both the system of purportedly sovereign states and the concentrated might of large economic and political institutions continue to frustrate projects to overcome inequities in welfare and power, Burbank and Cooper’s study of political imagination explores wide-ranging concepts of social affiliation and obligation that emerged after empire and the reasons for their unlike destinies». Saiba mais.
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