Começa assim: «Em linha com a voz de comando internacional da comunicação social, que só no final teve algumas breves nuances, por cá, a campanha de Trump era apresentada como um repositório de broncas tiradas, vigorosas afirmações machistas e de vingança, insidiosas vulgaridades a disparar com mira, sobretudo virada para os emigrantes, as mulheres, as políticas de género, sem nunca ou só muito superficialmente referirem a adulação que fazia às classes médias, médias baixas, às classes trabalhadoras fustigadas pelo custo de vida, pela inflação, afinal, o prato forte da sua campanha praticamente ignorado nas coberturas noticiosas.
O contraponto era uma Kamala Harris, de sorrisos rasgados prontos a desaguar em estridentes gargalhadas com que festejava as estrelas mediáticas que desfilavam beijos e abraços nos púlpitos dos seus comícios, apostada na defesa dos direitos das mulheres, procurando escapar entre os pingos da chuva das políticas económicas do governo Biden, em que foi uma cinzenta vice-presidente, terreno fértil para ser adubado pelos populismos de direita, destacando-se no apoio à guerra na Ucrânia, que Trump promete, não se sabe como, acabar em 24 horas, concorrendo com ele no apoio aos nazi-sionistas de Israel, no genocídio que Israel está a perpetrar, que por vezes procurou disfarçar farisaicamente, piscando de quando em quando o olho aos apoiantes da causa palestina enquanto os removia dos seus comícios e arredores. Em traços grossos eram esses os ecos das acções de campanha nas televisões, rádios e jornais, tanto de jornalistas, os que se sentavam nas redacções locais, os inúteis enviados especiais, os inúmeros comentadores.
O tom geral, até ao dia das eleições, mesmo os que referiam uma batalha acirrada, era favorável a Kamala Harris, o que era apoiado pelas sondagens e alguns gurus com currículos sustentados em anteriores previsões. A grande preocupação eram as bombas lançadas por Trump sobre a guerra em curso na Ucrânia, esquecendo-se que foi ele quem lançou as primeiras sanções à Federação Russa depois da anexação da Crimeia, incidindo sobre o petróleo e o gás, que foi o primeiro a ameaçar o Nord Stream 2, cuja explosão teve por consequência os EUA passarem a ser os principais fornecedores da Europa com preços superiores em cerca de 40%, o que está a atirar a Europa para uma recessão generalizada, anunciada por mais que anémicos crescimentos. Para um suposto amigo de Putin é obra, amigos, amigos, negócios à parte. Na Europa ficam tremulantes com a exigência de financiarem a sua defesa em 2% do PIB, exigência que nem é dele, foi feita por Obama, a que fará no futuro próximo logo se verá, sem olharem para as despesas dos EUA com armamento que foram no seu primeiro mandato as maiores de sempre, pelos perigos de enfraquecer a NATO, o que é muito relativo desde que esteja garantido que a grande fatia das suas compras seja feita ao outro lado do Atlântico. (...)». Continue a ler.
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