segunda-feira, 12 de março de 2018

JOAQUIM NORBERTO PIRES | «Obviamente, libertem-na do incómodo»



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Excerto:
«(...)

Defendi isso mesmo, em 2012 (em pleno período de intervenção da troika), numa entrevista ao Jornal de Notícias, procurando contribuir para o reforço dos mecanismos de eficácia e da dimensão da estrutura do Estado, e sei muito bem como reagiram certas pessoas em funções em direções regionais. Respondi na altura que me preocupava a organização do Estado, a eficácia da sua resposta aos cidadãos e que era assim que entendia o desempenho de funções públicas.
No caso da região centro, a pouca utilidade que atribuo à DRCC, na sua atual organização, é ainda agravada por uma certa desadequação do perfil para o cargo da pessoa que ocupa a função de direção. Na verdade, esperar-se-ia que o diretor da DRCC tivesse um currículo muito relevante na área da cultura e, removendo os cargos de nomeação político-partidária, demonstrasse um conjunto muito relevante de realizações culturais de elevado impacto.
Também se esperaria uma aptidão particular para a gestão cultural, com realizações que o demonstrassem ou outras indicações que refletissem uma visão inspiradora e de relevo sobre o papel da cultura no futuro da região. Consultando o despacho de nomeação da atual diretora da DRCC (Despacho nº16361/2013 de 18 de dezembro), assinado pelo Secretário de Estado da Cultura da altura, Jorge Barreto Xavier, e respetiva nota curricular, fica evidente a referida desadequação.
Acresce que, como leio várias vezes na comunicação social, são frequentes as demonstrações de falta de visão na definição de uma estratégia de médio e longo-prazo que permita colocar a região centro no mapa cultural do país e do mundo. É para mim, por isso, totalmente incompreensível que, tendo sido nomeada pelo Governo de Pedro Passos Coelho para a DRCC, o atual Governo a tenha mantido no lugar nos últimos 2 anos.
Razões partidárias e outras que vejo muitas vezes argumentadas no espaço público, mas que desconheço e não quero conhecer, poderiam dar-nos alguma pista sobre este estranhíssimo fenómeno de nomeação e manutenção no cargo de uma pessoa cujo perfil parece não ser o mais adequado para a função. São, no entanto, coisas que a política, demasiado centrada nos partidos, nos tem mostrado como muito comuns, mas às quais eu não me habituo.
Recentemente, de acordo com o que foi reportado pela comunicação social, a diretora regional de cultura terá declarado, perante agentes culturais da área do teatro, que visitava um determinado grupo pois “…por incrível que pareça, não me pediram dinheiro. Como é possível? Ainda por cima na área do teatro! Foi algo que me tocou bastante. É uma lição de como um grupo de teatro profissional, com três atores, que se dedica de corpo e alma ao seu trabalho, vive sem pedir dinheiro, não incomoda a administração central”.
São afirmações que considero muito graves e desrespeitosas dos vários agentes culturais da região centro, mas também dos profissionais da administração central e regional que os ajudam na obtenção de financiamento público para a sua atividade, e que demonstram a ausência de visão e perfil para gerir a cultura na região centro.
Consequentemente, como cidadão, como contribuinte, como amante de cultura, como incorrigível otimista num futuro melhor, só solicito ao Governo que liberte esta senhora do incómodo da função que “desempenha”».

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