A partir da edição online:
Os desafios dos museus em 2020
Enquanto o Governo não se decidir a
enfrentar de vez a questão do reforço de pessoal e a refazer todo o aparelho de
Estado do sector, andaremos sempre um tanto enganados, esperando um Godot que
parece que poucos querem que exista.
3 de Janeiro de 2020, 7:35
No ano que agora se inicia, os museus enfrentam desafios
fora do comum. No plano internacional, está
em causa a sua própria natureza. No plano
nacional, a
aplicação de um novo modelo de gestão e um
despovoamento tal que arrisca encerrar alguns
deles. Mais do que à primeira vista possa parecer, estes planos
estão ligados, porque em ambos a existência de profissionais competentes e
civicamente comprometidos constitui a condição-chave da perenidade da própria
instituição museológica, pela resistência às ideologias do “salve-se quem
puder” e da promoção do medo, hostis à cidadania, cultora da reflexão e da
procura crítica dos factos, que os museus são chamados sobremaneira a defende.
(...)
Também no plano nacional, a rarefacção dramática das equipas dos museus, muito especialmente no Ministério da Cultura (MC), em simultâneo com o aumento significativo dos estudiosos de museus, nomeadamente professores e investigadores, conduz a alterações sociológicas que já se fazem sentir, porém muito tenuemente, porque entre nós o drama que vivem os museus é muito mais básico e traduz-se pura e simplesmente no risco sério de inviabilidade do serviço público que prestam, sobretudo no caso dos museus nacionais, se não forem tomadas medidas urgentes e robustas. Durante anos e anos, eles foram-se despovoando das chamadas profissões de retaguarda: conservadores, restauradores, investigadores, desenhadores, bibliotecários, mediadores, auxiliares de museografia, etc., etc. A gestão criativa das colecções tornou-se mendicante e quase apenas assente em saberes e contributos externos. Até a conservação física dos acervos está altamente comprometida. Mantiveram-se, contudo, as aparências através do recurso a todo o tipo de expedientes (jovens, estagiários, desempregados, sazonais… até voluntários) destinados a assegurar funções de recepção e vigilância. Ora, não se pode enganar toda a gente durante todo o tempo e está a chegar a hora da verdade, em que nem sequer a ilusão das “portas abertas” será sustentável.
(...)
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