segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

LUÍS RAPOSO | «Os desafios dos museus em 2020»



A partir da edição online:

Os desafios dos museus em 2020
Enquanto o Governo não se decidir a enfrentar de vez a questão do reforço de pessoal e a refazer todo o aparelho de Estado do sector, andaremos sempre um tanto enganados, esperando um Godot que parece que poucos querem que exista.
3 de Janeiro de 2020, 7:35

No ano que agora se inicia, os museus enfrentam desafios fora do comum. No plano internacional, está em causa a sua própria natureza. No plano nacional, a aplicação de um novo modelo de gestão e um despovoamento tal que arrisca encerrar alguns deles. Mais do que à primeira vista possa parecer, estes planos estão ligados, porque em ambos a existência de profissionais competentes e civicamente comprometidos constitui a condição-chave da perenidade da própria instituição museológica, pela resistência às ideologias do “salve-se quem puder” e da promoção do medo, hostis à cidadania, cultora da reflexão e da procura crítica dos factos, que os museus são chamados sobremaneira a defende.

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 Também no plano nacional, a rarefacção dramática das equipas dos museus, muito especialmente no Ministério da Cultura (MC), em simultâneo com o aumento significativo dos estudiosos de museus, nomeadamente professores e investigadores, conduz a alterações sociológicas que já se fazem sentir, porém muito tenuemente, porque entre nós o drama que vivem os museus é muito mais básico e traduz-se pura e simplesmente no risco sério de inviabilidade do serviço público que prestam, sobretudo no caso dos museus nacionais, se não forem tomadas medidas urgentes e robustas. Durante anos e anos, eles foram-se despovoando das chamadas profissões de retaguarda: conservadores, restauradores, investigadores, desenhadores, bibliotecários, mediadores, auxiliares de museografia, etc., etc. A gestão criativa das colecções tornou-se mendicante e quase apenas assente em saberes e contributos externos. Até a conservação física dos acervos está altamente comprometida. Mantiveram-se, contudo, as aparências através do recurso a todo o tipo de expedientes (jovens, estagiários, desempregados, sazonais… até voluntários) destinados a assegurar funções de recepção e vigilância. Ora, não se pode enganar toda a gente durante todo o tempo e está a chegar a hora da verdade, em que nem sequer a ilusão das “portas abertas” será sustentável.
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